quinta-feira, 13 de setembro de 2018

UMA HISTÓRIA DE CONFLITOS PESTE


A Igreja Matriz de Argozelo deve ter sido fundada entre o ano de 659 – em que morreu o seu orago – e o ano 1187 em que a aldeia foi trocada pelos terrenos da cidade de Bragança (relatado anteriormente). O edifício atual, da nossa lembrança, apesar de mandado construir no ano de 1722, deve ter demorado a sua conclusão, aproximando-se do início do séc. XIX.

A História que vos trago é da capela de S. Sebastião que guarda alguns dos materiais de uma outra anterior que também serviu de Igreja Matriz.

Em Argozelo houve, em tempos, duas capelas de S. Sebastião, a primeira localizava-se perto ou no Bairro de Baixo, de pequena dimensão, que não cumpria o objetivo de substituir dignamente o papel atribuído à Igreja principal e a outra é aquela que nos recebe e dá as boas vindas. A escolha deste santo (porventura para 1.º orago) está intimamente ligada aos factos históricos que enquadram a vida na época da fundação da freguesia.

No século XIV, com o aparecimento da Peste Negra, o Padroeiro S. Sebastião era um dos santos que mais devoção concitava, sobretudo depois da oferta de uma relíquia sua a D. João III. Aumentou a fama com o facto de ter nascido no seu dia (20 de janeiro de 1554) o desejado Rei D. Sebastião – aquele “maluco” que ficou de voltar num dia de nevoeiro, mas nunca apareceu!

Obviamente os surtos da praga foram transmitidos pela Tradição Oral com elevada frequência e intensidade. Segundo as estimativas mais credíveis matou, entre um terço e metade da população, levando a nação ao caos. Foram inclusivamente convocadas as Cortes em 1352 para restaurar a ordem. Muitas aldeias desapareceram do mapa e os sobreviventes desejaram, por todos os meios, não voltar a presenciar tamanho horror.

A Peste Negra era comparada a «setas que se cravavam no corpo», por isso, S. Sebastião passou a ser invocado como protetor contra essa praga e todo o tipo de morte provocado por objetos que trespassavam o corpo (três setas, uma em pala e duas em aspa, atadas por um fio, constituem o seu símbolo heráldico).

Por todo o reino se levantavam ermidas à sua invocação, muitas vezes nos sítios afastados onde se instalavam as «casas da saúde» para os doentes ou degredos preventivos. A capela de S. Sebastião, aquando da sua construção, localizava-se com certeza afastada do núcleo populacional, mas não tanto como a capela de S. Roque (mais recente).

Tal como S. Sebastião, também S. Roque é um santo da Igreja Católica Romana, protetor contra a peste. Dois padroeiros para o mesmo mal! A intromissão de S. Fabião é algo talvez mereça uma explicação lógica que eu não encontrei, mas, como em tudo, os pormenores são os que têm mais significado.

S. Fabião, papa romano, não tem qualquer hipótese de competir com o santo S. Sebastião, daí a minha dúvida em vê-los juntos que será objeto de análise posterior. Contudo, adianto que há uma Cabeça-Relicário de São Fabião na Igreja Matriz de Castro Verde (imagem anexa).

É um relicário de prata com a forma de cabeça de tamanho natural que possui relíquias de São Fabião, com data do séc. XIII que, para além da fama de milagreira que atraía peregrinos e romeiros de outros locais, esta cabeça-relicário está associada a rituais de benzedura do gado que funcionaria como um saudador curando as doenças do gado através do bafo.

Faz sentido! Também houve a preocupação em manter o gado, afastado das pragas! Quem sabe se essa Cabeça-Relicário não terá passado por aqui, em tempos distantes!?

Na História de Argozelo a mensagem é clara - é necessário redobrar a luta contra as pestes, para que fiquem bem longe! Nunca fiando

 

Escrito por 

Luiz Rodrigues


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