A Igreja Matriz
de Argozelo deve ter sido fundada entre o ano de 659 – em que morreu o seu
orago – e o ano 1187 em que a aldeia foi trocada pelos terrenos da cidade de
Bragança (relatado anteriormente). O edifício atual, da nossa lembrança, apesar
de mandado construir no ano de 1722, deve ter demorado a sua conclusão,
aproximando-se do início do séc. XIX.
A História que
vos trago é da capela de S. Sebastião que guarda alguns dos materiais de uma
outra anterior que também serviu de Igreja Matriz.
Em Argozelo
houve, em tempos, duas capelas de S. Sebastião, a primeira localizava-se perto
ou no Bairro de Baixo, de pequena dimensão, que não cumpria o objetivo de
substituir dignamente o papel atribuído à Igreja principal e a outra é aquela
que nos recebe e dá as boas vindas. A escolha deste santo (porventura para 1.º
orago) está intimamente ligada aos factos históricos que enquadram a vida na
época da fundação da freguesia.
No século XIV,
com o aparecimento da Peste Negra, o Padroeiro S. Sebastião era um dos santos
que mais devoção concitava, sobretudo depois da oferta de uma relíquia sua a D.
João III. Aumentou a fama com o facto de ter nascido no seu dia (20 de janeiro
de 1554) o desejado Rei D. Sebastião – aquele “maluco” que ficou de voltar num
dia de nevoeiro, mas nunca apareceu!
Obviamente os
surtos da praga foram transmitidos pela Tradição Oral com elevada frequência e
intensidade. Segundo as estimativas mais credíveis matou, entre um terço e
metade da população, levando a nação ao caos. Foram inclusivamente convocadas
as Cortes em 1352 para restaurar a ordem. Muitas aldeias desapareceram do mapa
e os sobreviventes desejaram, por todos os meios, não voltar a presenciar tamanho
horror.
A Peste Negra
era comparada a «setas que se cravavam no corpo», por isso, S. Sebastião passou
a ser invocado como protetor contra essa praga e todo o tipo de morte provocado
por objetos que trespassavam o corpo (três setas, uma em pala e duas em aspa,
atadas por um fio, constituem o seu símbolo heráldico).
Por todo o
reino se levantavam ermidas à sua invocação, muitas vezes nos sítios afastados
onde se instalavam as «casas da saúde» para os doentes ou degredos preventivos.
A capela de S. Sebastião, aquando da sua construção, localizava-se com certeza
afastada do núcleo populacional, mas não tanto como a capela de S. Roque (mais
recente).
Tal como S.
Sebastião, também S. Roque é um santo da Igreja Católica Romana, protetor
contra a peste. Dois padroeiros para o mesmo mal! A intromissão de S. Fabião é
algo talvez mereça uma explicação lógica que eu não encontrei, mas, como em
tudo, os pormenores são os que têm mais significado.
S. Fabião, papa
romano, não tem qualquer hipótese de competir com o santo S. Sebastião, daí a
minha dúvida em vê-los juntos que será objeto de análise posterior. Contudo,
adianto que há uma Cabeça-Relicário de São Fabião na Igreja Matriz de Castro
Verde (imagem anexa).
É um relicário
de prata com a forma de cabeça de tamanho natural que possui relíquias de São
Fabião, com data do séc. XIII que, para além da fama de milagreira que atraía
peregrinos e romeiros de outros locais, esta cabeça-relicário está associada a
rituais de benzedura do gado que funcionaria como um saudador curando as
doenças do gado através do bafo.
Faz sentido!
Também houve a preocupação em manter o gado, afastado das pragas! Quem sabe se
essa Cabeça-Relicário não terá passado por aqui, em tempos distantes!?
Na História de
Argozelo a mensagem é clara - é necessário redobrar a luta contra as pestes,
para que fiquem bem longe! Nunca fiando
Escrito
por
Luiz Rodrigues
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