domingo, 26 de fevereiro de 2023

SEJA SIMPLES... SIMPLIFIQUE A SUA VIDA!


 

Já dizia o poeta: "Simplicidade é querer uma coisa só". Eu concordo com ele. O querer muito deixa-nos complexos demais. Queremos muito ao mesmo tempo, e então perdemo-nos no emaranhado dos desejos. Há o risco de que não fiquemos com nada, de que percamos tudo.

Hoje, as queixas do dia, salvo raras exceções, são: A vida está difícil, a vida é um martírio, a vida é uma tragédia, viver assim é complicado, enfim, é só desgraça, não há nada de bom, ou se há, é ignorado.

Curiosamente, estas queixas não partem daqueles, para quem a vida nunca foi boa. Os queixosos, na maioria, são os privilegiados.

De facto a vida não é fácil todos os dias. Há dias melhores, dias piores e dias assim assim. Mas, há pessoas, que á mínima contrariedade, por mais simples e leve que seja, soltam o seu pessimismo, clamando, drama e a tragédia, por antecipação. A isto chama-se complicar a vida. Complicam a sua e a de quem com eles coabita ou lida, provocando, infelicidade, desânimo, e por vezes, desespero. Os que assim procedem, parece-me quererem mais do que aquilo que a vida lhes pode dar, ou a que têm direito, desvalorizando, ou não dando valor, ao que realmente têm. Querem mais e mais, e por mais que tenham, nunca estão satisfeitos. Há sempre algo melhor. São pessoas, ambiciosas, presunçosas, egoístas, preconceituosas que se julgam superiores a tudo e a todos. Abreviando, são pessoas complicadas e complicativas.

Penso que estas pessoas seriam mais felizes, se fossem modestas, moderadas e sensatas, em suma, simples. Se assim fosse, não havia queixas daquela natureza.

Para ser simples não é preciso ser ou tornar-se pobre. As pessoas podem ser simples de várias maneiras, independentemente, a sua situação social, intelectual, profissional ou outra. Cada um pode e deve tirar partido de tudo o que a vida lhe dá, tendo sempre em conta uma fasquia de conduta, comportamento, entendimento, tolerância e sentimento pelos outros.

Ser simples, é ser positivo, tolerante, ter um sentido construtivo e solidário para com os outros, e, acima de tudo, valorizar e viver melhor com aquilo que se tem. Ser simples é simplificar a vida ou, pelo menos, não complicá-la.

Pois não falta nunca quem despreze o que pode facilmente alcançar. Não faz mal que seja desprezada a virtude pelo facto de ser a todos descoberta, pois é melhor ser desprezado pela simplicidade do que torturado pela constante hipocrisia. Sejamos, entretanto, moderados: é bom ser simples, mas não relaxados.

Em última análise. Ser simples é ser humano, tolerante, educado, generoso e solidário.

 Conclusão: Complicar a vida é fácil. Descomplicar é difícil. Portanto, é melhor ser simples.

Ilídio Bartolomeu


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terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

ARGOSELO ONTEM E HOJE

Ao acaso dos caprichos das já longínquas e desvanecidas memórias minhas, sou assaltado por imagens das rotinas do dia a dia de Argoselo, desses outros tempos; inesquecíveis, vejo-as e ouço-as como se fossem hoje e agora; gostei muito de ter vivido a “minha” pequena aldeia

Tudo começava no cantar dos galos, em alvoroçados e esganiçados despertares e madrugares ao nascer do sol, e logo as casas, estremunhadas, ganhavam vida nas pressas das mulheres a prepararem os “mata bichos” dos seus homens que iam trabalhar e para as crianças irem para a escola das Eiras das Éguas, depois, manhã muito cedo ainda, chegava a padeira Tia Folicíssima, ligeira e expedita, ruas fora, indo de casa em casa, saco imenso às costas, quase a arrastar o chão, cheio de fogaças de trigo, centeio e papo secos, pregões altissonantes atirados ao ar, fazendo-se anunciar de lá bem longe…

Mais tarde, chegava a “sardinheira”, a Tia Rita do Orelhas” sem ser tal, era apenas muito trigueira e arrebitada de humores, rosto picado das bexigas, coisa vinda de miúda, de palavra fácil e brejeira, caixa de madeira cheia de pescado sortido em cima da mula apregoando carapaus, chicharros, fanecas e sardinhas às unidades, ao peso ou às dúzias, meias dúzias e aos quarteirões, por uns simples tostões, tudo acabado de pescar e de chegar direto de Matosinhos, fresco como nunca mais se viu e nem hoje se sonha ou imagina… tudo agora é congelado, higienizado, embalado…

A seguir, às 7h45, passava por ali, frente à minha casa, sempre à mesma hora, como se fosse um relógio, o Sr. Arlindo Nestal  (Pai)  que vinha do Recosto mui digno,  e sério, de avaras palavras e aprumadíssimo, dando sempre os “Bons dias ao “Chastre” (meu Pai), ia a caminho das Minas— sitio onde hoje é o museu céu aberto― entretanto, estridentemente, às oito em ponto, soava o apitar da serene das minas, marcando o ritmo dos trabalhos da vida na aldeia,  nos campos, tudo tinha já começado no alvorar do astro rei …

Os homens da aldeia às oito já estavam todos a trabalhar, os cavadores de enxada desde o nascer do sol, para si próprios ou rogados ao dia fora, a quinze escudos a jorna, ferreiros serralheiros, mecânicos, pedreiros, caiadores, etc… começavam pelas oito ou sete da manhã…ou mais cedo…mas todos, sem exceção, tinham também as suas terras, próprias ou arrendadas, onde tratavam das batatas, feijão, couves e outros hortícolas, trabalhadas fora de horas, por toda a família, para subsistências ou ajudas da mesma, conseguidas á custa de muito labor, suor, sacrifícios e, sobretudo, de muita dignidade e auto estima de cada um, para não viverem de mãos estendidas às caridades de terceiros.

As gentes da aldeia desses tempos eram simples e humildes sim, eram, por boa educação, mui respeitosos dos senhores mais altos na vida, a quem cumprimentavam de chapéu na mão mas, nessa sua simplicidade e correção de maneiras, eram grandes, donos de si próprios, tinham nos calos das suas mãos a independência económica, a liberdade e o pão da família, dependiam apenas da sua enxada ou outras ferramentas, das terras suas ou de renda,  do sol, da chuva e das pragas e não tanto ou quase nada de patrões, ou de caridades particulares; eram homens livres e sem donos, foi assim que eu vivi e senti esses homens e mulheres e esses tempos.

As mulheres e mães de família eram todas elas domésticas, assoberbadas desde manhã cedo no tal “mata-bichar” dos seus homens, antes destes saírem para o trabalho, e no preparar das crianças a caminho da escola, feito isto, davam uma volta pela casa, tratavam da criação, galinhas, coelhos, porcos, etc.., iam deitar umas águas para regas simples, sacharem ou mondarem ervas daninhas dumas quaisquer culturas, por vezes lavar umas roupas no tanque publico, lá na Espadana, ou nos ribeiros do Fradal e dos Inverniços, bem torcidas, esfregadas e batidas, sonde, a meio com as lavagens, barrelas e o corar ao sol das roupas, mexericavam bem mexericadas as vidas lá da terra, e depois iam apanhar umas verduras às hortas para o “jantar” ou para a “ceia”;  na aldeia dizia-se: almoço dizia-se jantar e o jantar era a ceia, outros tempos.

As Primaveras desses “antigamente” eram as mais queridas e lindas das estações do ano, traziam consigo o ressuscitar da vida em glória, quer na alma e coração das gentes rurais,  quer pelos campos e baldios fora, com tudo a explodir em policromias mil, de verdes e flores sem fim, ao som de sinfonias escritas pelos deuses nos cantares dos grilos e das aves, estas muitas e diversas, rouxinóis, pintassilgos, cucos, pôpas, rolas, pardais, melros, tentilhões, verdilhões e até tralhões, etc… tudo isto em fundos de silêncios despoluídos e vazios até de carros, exceto os de bois… eram silêncios magníficos, feitos de natureza pura, e do vozear ocasional das gentes …

O regresso dos homens a casa no fim do dia de trabalho, vindos dos campos e das oficinas, por vezes era menos pacífico, pois o vinho tinto, de quando em quando, corria mais do que o devido ao longo do dia, e sendo mau conselheiro dava aso a que velhas ou novas rixas entre vizinhos e não só, algumas vindas de gerações passadas, ocorressem ou se reacendessem, acabando em altercações mais ou menos violentas, com umas cabeças partidas mas, logo de imediato, confrontavam-se com a presença da GNR, que eram prontamente obedecidos só pela presença, e a paz regressava à aldeia.

Argoselo tinha aí umas mil casas e igual número de famílias, que foram gradualmente aumentando em número, todas sem eletricidade, sem água canalizada e sem esgotos até meados dos anos 50, mas havia fontenários, e um lavadouro publico, até que finalmente, estas infraestruturas  chegaram.

 O correr dos tempos trouxe, inevitavelmente, o progresso, novos prédios, ruas asfaltadas, iluminadas, água corrente, e o abandono das agriculturas, como subsistências básicas dos aldeões aqui viventes.

Gosto muito de Argoselo, já me habituei a ele e ao nome, é o progresso e o ciclo normal das vidas em movimento, mas tenho também muitas saudades, onde nós, os garotos, brincávamos, nas ruas de terra batida, que, como passado que foi, já só volta em memórias como estas de velhos como eu…

Ilídio Bartolomeu

 

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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

NÃO ME PERGUNTEM PORQUÊ!?…

Rua Principal de Argoselo anos 60

Tal como gosto que leiam o que escrevo, porque partilho a escrita e o pensamento com os meus leitores, sobretudo quando mais próximos, que me incentivam a escrever, me dão ideias, me abordam e presenteiam com comentários, sinceros, são esses que eu valorizo, naturalmente, também gosto de ler quem escreve bem, tornando-se uma mais valia para mim, para a minha motivação, para o sentir criativo do meu imaginário, das saudades… do passado.

Acredito que ninguém conhece melhor a sua aldeia que aqueles que lá nasceram e cresceram. Nasci numa aldeia onde as ruas cheiram a sol torrado no Verão e a lenha queimada no Inverno. É uma aldeia como qualquer outra, mas tem o seu quê de especial já que mais não seja pelo seu nome, quanto a mim, peculiar – Argoselo. Nasci lá por imposição da minha mãe a quem não passava pela cabeça que os seus filhos pudessem ter outra naturalidade diferente da sua. Gosto de regressar sempre que posso a Argoselo,  ver a humilde casa dos meus pais. Gosto de matar saudades dos cheiros. Nada cheira como a nossa aldeia, nada cheira como a nossa casa da terra!

Na minha aldeia os velhos no verão ainda espreitam sempre que podem a sombra nos bancos da Capela de Santo Cristo, contam as mesmas histórias de sempre. Mas gosto deles assim, lembram-me a minha mãe sentada numa pedra abrigada ao sol de inverno encostada  ao chafariz da Praça, que naquele tempo existia. a fazer na meia... Nasci em Argoselo mas sou do Estoril. Talvez por isso não consiga também viver sem o rebuliço desta grande Freguesia, do trânsito infernal, da confusão das ruas, do stress que se adivinha em cada pessoa com quem nos cruzamos. Mas este texto não é dedicado ao Estoril. Lembrei-me da minha Terra!!! Quando me canso de ensinar e de repetir as palavras preciso de vir. Venho muitas vezes. Aqui o tempo é outro, nem depressa nem devagar, apenas cheio de sentido. Não me perguntem porquê!!!

O Largo da Praça anos 60
Confesso que, tal como quando vim para o Estoril me custava a entender como havia gente que não “tinham aldeia”, também agora me interrogo como há pessoas que conseguem esquecer o “berço”, as origens, a terra onde nasceram. Da minha parte acontece o contrário. No meu pensamento, no sonho, na ação. Porque tudo se torna mais autêntico quando emerge do coração. Ande por onde andar, conheça o que conhecer, converse com quem conversar, Argoselo não deixarei de lembrar.

Dispenso-me de grandes apresentações. Já noutras alturas me demorei sobre os encantos deste lugar imperdível. Não vem no mapa, não se fala das suas gentes, não se lhe conhecem artefactos históricos.

O Planalto de São Bartolomeu, é apesar disso, um dos Santuários de paz de onde dificilmente saio a pensar nos problemas do costume. Aqui apetece somente o fervilhar do verde, apetece a respiração pura, avista-se com facilidade o horizonte leito do Rio Sabor, é uma vista maravilhosa, tudo  isto é belo é digno de ser visto e possui o seu inegável ar bucólico. Muitos, que assim pensam, vêm aqui em romagem para o retrato da praxe. Por estas bandas há também as lendas, as deliciosas fantasias que nem o desgaste dos tempos apagou. Há as tradições, as boas tradições que a distância de muitas das suas gentes tornaram mais sagradas.

Afinal, há mais gente que tem apelo das raízes e que concretiza a vontade e os sonhos de voltar, de lá estar, de conviver e partilhar. De rever os amigos, os familiares. De viver o desejo, de pisar chão, de sentir o cheiro da terra, agora já misturada com o alcatrão. O odor dos animais, o cheiro a feno, e muitas outras coisas mais, que nos transportam para um pensamento que nos faz recordar vivências de um outro tempo, já sem tempo.

Lavadouro da Espadana
Pudesse, com suficiente pormenor, contar a história de um lavrador, de um geireiro, de uma costureira, do latoeiro, do homem do ferro velho, do amola tesouras, do ferreiro, do sapateiro,  do alfaiate, do senhor reitor e teríamos aprendido o viver desta comunidade rural, espelho de muitas outras. Se queremos ir mais além na sua compreensão, então, temos de captar-lhe a alma, o sentir e o sentimento.

Não poderemos ficar no domínio das ações apenas, mas teremos que passar ao reino das paixões, de todas aquelas afeções nascidas na alma e que têm no corpo o seu palco: a alegria, o amor, a admiração, a glória e seus opostos. Por isso, o que oferecemos são memórias de pessoas e lugares, histórias quase reais, em que nunca saberemos onde começa a realidade e acaba a ficção. Importante mesmo é que motivemos o querido leitor a puxar pela memória, pela sua memória para poder «contar a si mesmo a sua própria história».

“Um blog perfeito que nos diga tudo é um blog inútil”. Esta é a boa razão que me levou ao atrevimento de poder apresentar-lhe este blog imperfeito, pedindo-lhe a si, leitor, que o corrija, cortando, acrescentando, discordando tanto quanto for necessário para «salvar a interpretação do seu conto». À medida que for lendo, contará a sua própria história reconstruindo a viagem que o levou até onde se encontra agora. Todos temos um paraíso perdido que é todo o tempo passado com tudo o que nele ficou marcado. A maior parte talvez tenha perdido o lugar onde nasceu, talvez uma aldeia como Argoselo e, no meio de todas as casas, a casa onde nasceu. E essa ficou para sempre a ser A Casa. A casa que um dia teve de deixar. A casa está na nossa memória como a conhecemos.

Festa de São Bartolomeu 1973
Morreram as pessoas que a habitavam. Um dia fechou-se para sempre até que, ano após ano, o vento, a chuva e o sol pacientemente, persistentemente, desgastaram os materiais. Primeiro foi uma telha e a seguir outra e outra até não haver mais; depois foi a porta e a janela até ficarem quatro paredes nuas. As silvas treparam pela porta e pela janela e lá dentro nasceu uma roseira; ervas cresceram acima das paredes e de forma tão perfeita se combinaram que quando se desdobram em flores a casa se transforma num arranjo floral. Um arranjo floral triste. Pela casa, pelas casas, pelas ruas, pelos largos, pelas gentes, por aí passa o conto das nossas vidas. As vidas da minha gente.

E se eu não esqueço a “minha terra”, a casa onde nasci e cresci, que me faz recordar um passado feliz e tudo o que ali vivi, obviamente que não posso esquecer as festas do mês de agosto.

E, aqui, não posso esquecer que, se os meus pais me incutiram, entre outros, os valores da identidade e da disponibilidade para colaborar com a comunidade, não é menos verdade que me sinto muito feliz por perceber que,  pela minha gente tudo isso é vivido com especial afetividade, o que vai certamente, sustentar a obrigação da  continuidade.

 

Ilídio Bartolomeu





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terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

MENSAGEM PARA O SEU DIA DOS NAMORADOS


 

Contigo aprendi o que era amor. Pode parecer louco dizer isso, mas é tudo o que sinto. Acordar e saber que te tenho na minha vida, faz com que eu deseje ser cada vez melhor… para ti. Os teus olhos são tão belos que não me importaria de passar o dia todo a admirar-te. O teu sorriso é tão encantador que sou capaz de qualquer coisa para ser o motivo da tua alegria. Tudo que eu posso dizer é que eu tenho sorte por ter encontrado, uma pessoa tão forte para ir em busca dos teus sonhos, mas ao mesmo tempo tão sensível, e isso me faz querer cuidar de ti e proteger-te. Feliz dia dos namorados!

TENHAM UM BOM DIA DE NAMORADOS....

domingo, 12 de fevereiro de 2023

AS MINAS E OS MINEIROS DE ARGOSELO

As recordações de infância, aparentemente, adormecidas eternamente, surgem-nos muitas vezes de forma tão clara e saudosista, como que um convite a materializá-las para não mais serem esquecidas. Foi este estado de espírito, que me levou a pegar na caneta e escrever este texto recordando os mineiros da minha aldeia há anos atrás.

As Minas de Argoselo, guardam a história de uma aldeia que nasceu e cresceu com a exploração de volfrâmio e estanho. Antes da exploração mineira, apanhava-se o volfrâmio a céu aberto no alto da cabreira e no ribeiro que corria desde Vale de Milhos, até ao Prado, e no  final do dia vendia-se aos farristas que eram contrabandistas.

“Nos anos 40 um quilo de volfrâmio chegou a valer mil escudos (cinco euros) Muitos enriqueceram, com o dinheiro do negócio do Volfrâmio. Conta-se que havia homens que fumavam notas enroladas como demonstração da abundância deste. Um quilo de volfrâmio é uma pedra muito pequena”, referiu  José da Bota .

A exploração mineira na região de Argoselo foi um fator condicionador socioeconómico durante a época áurea da exploração do volfrâmio. Esta atividade levou a muitas pessoas a empregar-se nas minas, que viviam da agricultura de subsistência, nutrindo a esperança de algum dia conseguirem melhores condições de vida. 

Veio gente de várias regiões do país, que aqui fizeram vida. A empresa contratava mineiros, serralheiros, fundidores, torneiros, eletricistas, carpinteiros. «Havia de tudo!». A todos os trabalhadores de fora era oferecida casa, água, energia elétrica e médico. Chegou a mobilizar 250 trabalhadores e deixou memórias de um trabalho difícil a 170 metros de profundidade.

“À volta das minas nasceu uma aldeia com tudo. Era um oásis no concelho, era a aldeia mais desenvolvida da região, era procurada por muitos trabalhadores e famílias que viviam com dificuldade”, A Mina, é inegável, trouxe para a população (nessa altura) um nível de desenvolvimento e rendimentos muito acima do vivenciado no resto do concelho ―salientou “João Lasgueira”.

Na mina trabalhava-se 24 horas por dia, divididas em três turnos de oito horas. Eram cerca de uma centena os trabalhadores por turno. Os ordenados eram parcos. «Vinte e três escudos por dia»  para alimentar as famílias. Também trabalhavam na horta, quando saíam da mina ou das oficinas. À noite esqueciam as misérias na taberna, onde se bebia uns copitos «Viveu-se assim muitos anos», conta o “Luiz do Janta”

Talvez seja de interesse histórico falar numa personagem de seu nome Aníbal Farinha, que era o principal capataz na mina que segundo os antigos daria para escrever um guião para um filme com as peripécias deste carismático e polémico ao nível do far west, desabafo de Manuel  Batita.

Lembro mais alguns mineiros da nossa terra, falecidos ou que ainda estão entre nós, gente que também quis ser feliz, teve sonhos, anseios e ambições. A minha singela homenagem. Pena que só hoje consiga carregar nos pedais da memória e puxar alguns fios soltos de remotas e às vezes delidas lembranças. Então aí vai:

Minante, Judas, Boeira, Mixa, Manulo, Carrasco, Manuel Batita, Carrega, Perséguia, José da Bota, Carriço, Catralipio, João Lasgueira, Lameiras, José Vitobo, Daniel Caipira, Luis do Janta, Mudo da galha, Daniel Caipira, Diamantino Capela, Mula, Vai na Brasa, José Calado,  Barrecas, João Carreche, Moda, Augusta do Lalão, Vitoba e Bernarda do Nelo.

Com o final da exploração todo o complexo foi abandonado na sequência da queda dos preços do minério, foi tudo «desmantelado e vendido ao desbarato». Naquilo que teve de positivo e negativo, e no significado que representa referente ao legado e à herança do sítio mineiro e industrial, traduz-se, hoje, acabado o ciclo. Uma nuvem negra abateu-se sobre a Aldeia.

A boca da galeria de Leitarães, que é agora entrada. É uma entrada para um mundo misterioso, de escuridão, que entra pelas entranhas da terra adentro, esventradas outrora, à custa de explosivos e da força bruta dos homens. Força suada e esforçada, consumidora da vida, onde os dias se transformavam em noite e o breu da mina era mais escuro do que a escuridão da noite mais escura.

Todavia, as consequências económicas são as únicas que causam angústia e receio. Hoje, restam ruínas. Da entrada da mina, das oficinas, dos poços de água. Se as pedras ficaram, os homens partiram. Emigraram, palavra que se ajusta como uma luva ao Portugal dos anos 60. Foram para França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Canadá. Outros ficaram por cá. Agora, a localidade é uma vasta sombra do passado glorioso.

Sequelas nos mineiros foram muitas, os que morreram intoxicados nas minas. E ainda hoje, a população mineira sofre as consequências tardias do contacto, dia após dia, com o tufo, os resíduos de pólvora que era utilizada para abrir galerias, e outros produtos tóxicos.

As mesmas imagens de abandono, de desemprego, de poluição, de desastre ambiental. Numa frase: a forma como não se deve fechar uma mina, após o fim das atividades exploratórias.

Argoselo uma região mineira conhecida pela exploração de volfrâmio, que durante anos foi um dos motores económicos desta região, temos a oportunidade de visitar o que resta de um antigo complexo de minas.

Para muitos, a exploração mineira terá sempre um significado especial. Pelas ligações familiares e de amigos.

Depois de anos de abandono, a Junta de Freguesia e a Câmara de Vimioso deram início à recuperação do património das Minas e foi construído o tão ambicionado Centro Interpretativo das Minas de Argoselo. A sua edificação pretende ser um contributo para a reconstrução e dignificação da aldeia mineira, das suas gentes e da sua memória. O Museu mostra a realidade física do espaço de vivência da família mineira: os objetos, as memórias, os símbolos e as carências estão nele representados. Este espaço permitirá interpretar a história e memória desta atividade profundamente enraizada na comunidade local.

O município também criou um percurso pedestre, “A Rota do Volfrâmio”, que tem como objetivo promover as minas e a história do volfrâmio neste território do concelho de Vimioso e dar a conhecer este património que tanto marcou as gentes locais.

Com cerca de quatro quilómetros, esta pequena rota tem como ponto de partida o Museu até à Ponte dos Mineiros.   O itinerário percorre ainda caminhos rurais, paisagens deslumbrantes do Rio Sabor e permite também que os seus pedestres contemplem o Planalto de São Bartolomeu

Ilídio Bartolomeu




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domingo, 5 de fevereiro de 2023

AS PADEIRAS DO MEU TEMPO!


 

Adoro pão. Faz sempre parte do meu pequeno almoço. O cheirinho do pão acabado de cozer é único!

Falar da Nossa Gente é trazer à memória algumas figuras relevantes da nossa Terra!

Com pouco menos de 1500 habitantes, a Aldeia de Argoselo, em tempos de outrora, era bem conhecida pela sua agricultura  de centeio, que depois as padeiras da altura, davam origem, às fogaças.

A aldeia conserva a sua traça original, os habitantes eram mais genuinamente inconformados, bairristas, generosos e, sobretudo, unidos.

Não costumava haver horas de ponta na aldeia, e essa era uma das vantagens de viver no mundo rural. Mas, em Argoselo, todas as manhãs “lá pelas 5h30” começavam a  ouvir-se as carrinhas do peixe, da fruta, dos porcos e outras ao longo da rua direita. Pessoas das redondezas ocupavam  a Praça com os seus burros carregados de lenha, brasas, carvão e outros produtos, para venderem,  “até de inverno”. Para depois com o dinheiro comprar no comercio local os produtos do sustento da casa.

Era por essa hora ou um pouco mais cedo, que as padeiras: naturais de Argoselo, Maria Gala, que morava no Centro da Praça, Isabel Meca, na Rua da Cabreira, Adelina Atanha, no Largo da Gabilana e Folcissima, no Largo da Espadana, que se levantavam todos os dias, exceto aos domingos para começar a arte de bem fazer o pão. Aprenderam a técnica – e as quantidades – com as mães. As mães aprenderam com as avós. E assim sucessivamente.

Fogaça de Centeio 
De avental axadrezado e com um lenço preto a cobrir os cabelos, a indumentária assentavam-lhe bem, como se tivessem amassado o pão a vida inteira. Os movimentos dos braços eram firmes e eficazes.

Com as mãos, a padeira abre um buraco na farinha. Num movimento brusco, atira o sal. Coloca o fermento e verte água morna com uma malga. Os braços enterram-se quase até aos cotovelos numa mistura branca, mole e pesada, amassa muito bem e deixa-se levedar. Por fim, tender é a arte de dar forma ao pão; e no caso do pão de Argoselo, é preciso dar algumas voltas à massa até que adquira a forma que o caracteriza.

O descanso é necessário para que a massa recupere o volume antes de ir para o forno. Depois acende o forno a lenha, bem quente. Por fim a massa vai ao forno. Com o indicador direito, desenha uma cruz na massa. E reza: “Nosso Senhor me acrescente este pão para chegar para toda a gente”. Pouco depois, as tradicionais fogaças de centeio ou trigo de 3K, aos tão apetecíveis moletes, estavam prontas a devorar. Fazemos pão. E fazemo-lo como mais ninguém, pois temos nas mãos e na alma as tradições e saberes de várias gerações.

O melhor pão faz-se compreendendo as matérias-primas e respeitando os tempos de levedura e de cozedura que a natureza exige, para conseguir o melhor e mais puro sabor. Orgulhamo-nos da nossa herança cultural e colocamos em cada fornada o nosso amor à arte de fazer pão. Tudo é feito com rigor e de forma tradicional. 

Moletes de Trigo
De uma história de séculos, o pão de Argoselo mantém, ainda hoje, a genuinidade de sempre porque não contém aditivos que o desvirtuam. O processo é tão natural como antigamente.

Mas, como tudo muda, também o futuro do pão é incerto. Cada vez são menos as padeiras em atividade e as novas gerações fogem deste tipo de profissões que não permitem férias, nem folgas, e que obrigam a uma atividade noturna que tem forçosamente que ser conciliada com outros afazeres em horário diurno

Argoselo preserva e promove ainda o sabor e os saberes daquela que é uma das identidades gastronómicas mais fortes desta Vila. O verdadeiro pão Argoselense, confecionado com massa mãe, com a particularidade do saber fazer pão, que lhe confere um bom sabor. O miolo é muito saboroso, contrastado pela côdea estaladiça que confere um carácter tostado ao pão.


Ilídio Bartolomeu


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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

OS LOBOS ATREVIDOS

Dizem que são animais bons e que na sua comunidade adoptam as crias orfãs, alimentam-nas tal como as lobas que dão leite, dividindo sem violência as presas que capturam, numa partilha orgulhosa. Mas o que perdura na memória, ainda são os medos.

Vi-os numa noite de inverno quando ia a caminho de Outeiro, a casa dos Bessas buscar uma bateria para a Professora Dona Maria Cepeda. Lá estavam eles olhos que nem faróis e o”tio Mantino” que o tinha encontrado no Prado, ia para alto de São Roque de gasómetro na mão ver a corriça onde pernoitava o rebanho se estava bem fechada. Homem corajoso, tal que os lobos devem tal ter sentido que desandaram.

Agora que o frio já chegou, traz à lembrança tempos passados, já lá vai quase meio século, em que eles abundavam nas nossas terras, terror dos rebanhos, dos pastores e gentes da aldeia. No pico do frio vestido de chuva, gelo e neve, os rebanhos eram recolhidos a meio da tarde para prevenir... e na ausência de presas, esfomeados, por vezes eles desciam até à aldeia por caminhos e carreiros. Desciam atraídos pelo cheiro da recente matação dos porcos, ainda dependurados nas traves da loja, escorrendo para a desmancha. Andavam com fome e atrevidos, qual desafio entre homem e animal.

Alertados pelos intensos ganidos e rosnar dos cães, em casa fazia-se silêncio, enquanto se sentia o cheiro da lareira, fechavam-se as portas e janelas, com medo, medo esse que por vezes punha as pessoas "sobocadas", arrepiadas e de cabelos em pé. Ficava-se de atalaia até o uivar feroz do bicho  e o seu bater das "castanholas", fosse desaparecendo, largando a porta bem fechada da loja aonde o porco estava guardado.

Para prevenir a vida dos cães, foram adoptadas coleiras pontiagudas ao pescoço, como no caso do cão do “Tio Mantino”, maior em corpulência que os lobos, mas nunca fiando! 

Ilídio Bartolomeu