sábado, 29 de abril de 2023

FONTES DOS TEMPOS ÁUREOS!!!

A implantação da aldeia não foi alheia à riqueza das águas, existentes em quase todo o espaço, à qualidade dos terrenos. 
Largo da Espadana


A Fonte da Espadana, senhores,

Sítio de velhos amores,

Tem o mágico condão

De alegar a nossa alma,

De nos dar sólida calma

E falar ao coração.

 

Venham ver as Fontinhas

Venham a sede matar,

Venham novas e velhinhas,

Todas lá têm lugar!

A da Espadana é bela,

A da Praça é singular,

A da Escola é singela,

A do Prado pra namorar.


Largo da Praça


A da Espadana é bela,

Com a sua água fresca

Chama gente aos milhões,

Chama o doente e o são,

E fica-se contente, então,

Quando fala aos corações!

 

Venham ver as Fontinhas,

Venham a sede matar,

Venham novas e velhinhas,

Todas lá têm lugar!

A da Espadana é bela,

A da Escola é singular,

A da Praça é singela,

A do Prado pra namorar!

Largo da Escola Velha


lídio Bartolomeu


domingo, 23 de abril de 2023

TODOS TÊM AS SUAS MEMÓRIAS!!!

 

Cada um de nós tem as suas memórias da Terra que é o nosso berço, sendo certo que intrinsecamente de lá nunca saí. Em mim, está sempre presente o inultrapassável tempo da infância. Tempo maior da descoberta dos sentidos e da aprendizagem da vida, que, com saudade, recordo para sempre. Sobre a minha Terra, para além das memórias inconfundíveis da minha gente, dos meus amigos para sempre, das brincadeiras, dos sabores, dos cheiros que me estão colados, vibro, desde criança, com as histórias fascinantes que escutava.

Odiaria ser um daqueles que não tem terra, não tem a sua terra, a terrinha, perdida “lá na província” e onde brinquei. Primeiro porque é a minha, depois porque é de facto a melhor do mundo.

Na minha terra há sempre comida e bebida para toda a gente. Seja porque é dia de festa, seja porque decidimos que, apesar de não haver qualquer motivo para a fazer, é dia de festa. Sim, porque na minha terra qualquer acontecimento é desculpa para comer e beber, seja ele um baile de verão ou simplesmente por visita de um amigo.

Na minha terra há histórias que se contam e histórias que se criam todas as semanas. Na minha terra as pessoas riem com vontade e riem tanto dos outros como de si, não tendo problemas em contar à mesa do café a estupidez que acabaram de fazer. Todos têm alcunhas, todos sabem as histórias mais humilhantes de toda a gente e toda a gente sabe as tuas. Na minha terra o humor raramente tem limites e quando tem, esses limites desaparecem ao 7º copo que é pago como pedido de desculpas e aí já é a própria vítima quem mais ri.

Na minha terra, memórias e histórias despertam imediatamente em mim uma mistura de sentimentos: a enorme solidariedade para com todos os sacrifícios suportados pelas gerações anteriores, e o enorme orgulho de saber da coragem e da humildade para ultrapassar os maiores obstáculos e, se for caso disso, conquistar o mundo. Sou sempre e para sempre de Argoselo, e de todas as nossas aldeias, a minha vila de Argoselo é a melhor do mundo..

Na minha terra as pessoas são brutas, às vezes até um pouco rudes, mas são as pessoas mais sinceras e disponíveis que vais conhecer na tua vida, porque na minha terra um amigo é para a vida, mesmo quando se chateiam. Podes estar um ano sem falar com alguém porque te roubou um metro de terreno ou andou à porrada com o teu melhor amigo, mas no dia em que esse alguém tiver um acidente ou perder um familiar, tu vais ser o primeiro a bater-lhe à porta com uma grade de minis, um chouriço e um abraço.

Na minha terra há pretos e ciganos, há mulheres, homens e crianças, há casados, divorciados e solteiros e todos são iguais: todos são alvo de gozo, por igual, todos levam na tromba, todos dão na tromba, todos bebem e riem e choram e ninguém é posto de parte desde que seja boa pessoa, não tenha a mania e aguente bem a bebida.

Na minha terra há invejas, há problemas, há jogadas políticas e também alguma vaidade totalmente descabida, mas até nisto a minha terra é melhor do que a vossa, porque a maioria de nós está-se figurativamente a cagar para esta gente e, por vezes, até literalmente quando a noite vai longa e aquela decima bebida te dá ideias bem divertidas.

Na minha terra há rios e serras, há calor e há neve às vezes, há javalis de 2 e de 4 patas e há uma felicidade que poucas vezes se vê noutros lados. Na minha terra há gente que sobrevive ao esquecimento e às tormentas do isolamento e da velhice e, normalmente sorri quando o normal seria chorar.

Hoje, infelizmente, a minha Terra encontra-se profundamente despovoada, envelhecida, empobrecida, e marcada pelo êxodo rural e pela emigração. Aqueles que resistem vão observando o desaparecimento de inúmeras tradições agrícolas, de alguns rituais sociais, e de muito conhecimento popular. Na minha Terra, primeiro desapareceram os jovens, e com eles os casamentos, as crianças, as escolas e gradualmente muito de tudo.

Ilídio Bartolomeu


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terça-feira, 11 de abril de 2023

NO MEU TEMPO A PÁSCOA! MAS QUE TEMPO!!!


 

A Fonte da Espadana
Sendo natural de Argoselo, onde vivi cerca de 16 anos, a Páscoa sempre teve uma magia muito especial e uma enorme importância! O que me deixa sempre saudades a Páscoa em Argoselo. Decidi recordar algumas das tradições populares, tradições estas que tendem a desaparecer ou a entrar na fase do esquecimento. Assim, no período da Páscoa, era costume os jovens (e não só) brincarem umas com as outras aos jogos do anel, do cântaro, da barra, do fito, bailes  entre outros.

“E isto, quando era eu novo, isto era uma maneira,  agora é diferente. A juventude era muita… os rapazes estavam a ver onde é que as (raparigas) andavam para ir ter com elas e esperá-las aos caminhos. Elas  estavam a lavar roupa no tanque e nós iam-mos lá ter, elas iam á fonte e nós iam-mos para lá botar pedritas nos cântaros para demorarem mais tempo: nós botávamos uma pedra e as raparigas tiravam-nas fora e tornavam a pô-lo na bica e nós tornávamos a botar para as raparigas estar assim mais tempo ao pé de nós ”.

O que está a acontecer nesta aldeia é um fenómeno que se repete em várias aldeias portuguesas. Os descendentes mais jovens procuram ir viver para locais mais urbanizados, e as pessoas com maior idade que ficam na aldeia, deixam de poder trabalhar devido a doenças e à falta de familiares que os ajudem. As aldeias perdem vigor e vão ficando esquecidas, até que perdem os seus últimos habitantes e eventualmente ficam abandonadas.

A aldeia que outrora era próspera na agricultura e criação de gado, começou a perder habitantes: uns emigraram outros faleceram na aldeia que os viu nascer. Os últimos habitantes viram-se para a religiosidade e para relembrar os tempos da sua infância e juventude, mas reconhecem, no seu ponto de vista, que a aldeia nunca mais tornará a ser o que era. Trata-se de um lugar que parou no tempo. O número de pessoas nascidas recentemente na aldeia é muito baixo e o número de pessoas que faleceram recentemente ou que abandonaram a aldeia é muito superior.

Os que escolhem sair da aldeia fazem-no quase sempre à procura de um futuro melhor. No entanto, há aqueles que continuam a visitar regularmente a aldeia sem nunca se desfazerem dos bens materiais como casas, campos e palheiros que ainda possuem na localidade. Outros ainda cortam totalmente o seu contacto com a aldeia
É de notar que os habitantes permanentes da aldeia quer tenham nascido cá ou tenham vindo de fora, sempre cresceram no meio rural e viveram neste ambiente durante praticamente toda a sua vida.

Em gerações passadas, sobretudo nos anos de 1950 a 1990, aldeia contou com os maiores números de habitantes de que há memória, chegando a integrar todos os anos nas inspeções militares mais de 50 jovens. As memórias destes tempos são as mais estimadas pelos habitantes que as viveram, pois relembram os anos de ouro da aldeia. Hoje em dia a aldeia ― hoje (Vila) conta com uma população total de 300 ou 400 habitantes.

Esta é uma das minhas teorias, mas o futuro da Vila e dos seus habitantes é incerto, e muitos dos seus habitantes dizem que “o Futuro a Deus Pertence”.

A realidade da Vila estende-se a muitas outras no interior do país, Vilas estas, nas quais, enquanto há habitantes e pessoas interessadas em tudo o que as Vilas têm para oferecer, a desertificação mais dificilmente se tornará uma realidade.

Ilídio Bartolomeu

terça-feira, 4 de abril de 2023

ENDOENÇAS EM ARGOSELO 1999


Em Argoselo são ainda muitas as tradições cristãs e pagãs que sobrevivem e repetem na semana que antecede a Páscoa, desde os autos da paixão, as endoenças, vias-sacras, queima do Judas.

Estas tradições são marcadas por fortes sentimentos de religiosidade, mesmo quando constituem momentos eufóricos da expansão lúdica do povo"