quarta-feira, 21 de novembro de 2018

CRONICA DOS BONS TEMPOS

Era um domingo. Por volta do meio dia. Só me lembro de que era no ano de 1968. O dia estava bonito. Muito sol, céu azul com poucas nuvens.  Cheguei ao bonito lugarejo, exatamente onde fica a casa onde nasci. Os vizinhos mal me viram, anunciaram a minha chegada: ólha o Ilídio! ólha o Ilídio!

Não demorou muito um casal, relativamente novo apareceu na porta da casa. Perguntei se eram os donos sim somos. Cumprimentei-os. Tudo bem? Logo em seguida fui dizendo que aquela casa fora de meus pais, já falecidos: Adelino e  Maria Tiró. Falei que ali nasci e vivi até aos 16 anos de idade. O casal convidou-me para entrar. Nem era preciso, pois eu lhe pediria para dar uma volta dentro  de toda a casa. Era o meu desejo. Meus olhos estavam marejados. Era emoção e saudade. Observei que a cozinha estava limpinha. Na entrada, não havia nada da alfaiataria onde o meu pai trabalhava. Subi as escadas  olhei para cima e observei as telhas. Estavam escuras. A fumaça da lenha que ardia na lareira assim as tornara. Parei e fixei os meus olhos, até parecia que estava a ver a minha mãe a cantar as lindas canções e a falar como se alguém estivesse ali presente. dormia. Também quis muito recordar o quarto onde dormia eu e os meus seis irmãos em duas camas e lembrar-me do furo que o meu pai fez no soalho para um estratagema habilidoso, quando os filhos bebés chorassem, prendia um cordel no berço que estava no quarto, enfiava-o pelo furo e atava-o ao pedal da máquina de coser os fatos e calças, e ao mesmo tempo que trabalhava, balançava  o bebé para que dormisse.

Contei para os donos da casa o porquê de estar observando tudo. Pedi para continuar a minha caminhada pelo restante do imóvel. Fui ao quarto dos meus pais. Imaginei os dois como se ali estivessem. Observei e debrucei-me por um instante na janela. Reparei o céu. Pude ver o horizonte onde todas as manhãs pelas quatro e cinco horas abria a janela para verificar os sete estrelos estavam para se levantar para ir trabalhar.

Não podia esquecer. Apesar dos meus 16 anos, lembrei-me dos momentos em que minha mãe, com uma faca, descascava as batatas, as cebolas, as couves para fazer o caldo e cortava pão para distribuir pelos filhos. Minha mãe, muito nova talvez com 40 anos, nessa época, quando estava eu com três ou quatro anos, ela tinha mais ou menos quarenta e sete, era linda. Apesar da vida difícil que levava, da luta diária pela sobrevivência, encontrava-se muito doente.

Éramos seis irmãos e uma irmã, embora pobres, a felicidade reinava entre todos, pois eramos uma família honesta e de carater

Eramos sete irmãos: Embora muito pobres, a felicidade reinava, pois  eramos uma família honesta e de carater. A casa era pequena e só tinha dois quartos, um para os sete filhos, o outro para os meus pais. No quarto deles, até aos quatro ou cinco anos, dormia aquele que ainda era bebé em cima duma mala ao fundo da cama deles improvisado de berço.

Depois de percorrer toda a casa, conversava com o casal  onde todos os anos vai passar férias, contei  aos dois um pouco de minha vida vivida em Argoselo. Falei dos meus pais e até sugeri a eles se um dia, quando houvesse alguma dificuldade, quem sabe eu poderia comprar. Não sei se fiz bem em fazer isso, mas fiz.

Para finalizar, passei no lado de fora da casa. Olhei para os lados das janelas e vi ainda a placa de azulejos com o nome; (Casa Chastre).

Não deixei de olhar também para a Capela de Santo Cristo a quem a minha mãe era muito devota.

A visita que fiz à casa onde nasci, na qual começou a minha história, trouxe-me muita emoção, muitas lembranças e eu prometi a mim mesmo que voltaria outras vezes aquele lugar tão simples, mas abençoado por Deus.

Quando um filho da terra pensa em ir visitar o lugar onde nasceu, raramente fica fora do roteiro, o que é compreensível. Mesmo que seja por pouco tempo, a visita é suficiente para descobrir alguns segredos que fazem dela um lugar que merece a sua visita!

As minhas viagens são curtas e normalmente são durante as festas de verão, e aproveitava com a minha câmara de filmar e máquina fotográfica, para explorar algumas partes do termo como: quedas de água, rochas, rio Maças, Rio Sabor e o Planalto de São Bartolomeu, lugar obrigatoriamente a visitar!

Se eu pudesse voltar atrás, eu não abriria mão da casinha onde nasci, e que me fez tão feliz e tantos bons sonhos mas, também passei algumas agruras. Mesmo assim, eu jamais arriscaria trocar o meu lar de infância por qualquer estadia noutro sítio. Mas hoje, volto e sei que aqui, já não é mais o meu devido lugar. Triste, mas feliz!... quando volto ao sítio onde nasci!

 

Ilídio Bartolomeu

24-1-2121