domingo, 15 de fevereiro de 2015

CARNAVAL EM ARGOSELO


O Carnaval, é uma festa celebrada de forma diferente em vários locais. O Carnaval ao contrário do que possamos pensar, é mais do que uma altura do ano em que reinam as palhaçadas e brincadeiras.
Existem duas teorias fundamentais quanto à origem e significado da palavra Carnaval. A primeira atribui à palavra Carnaval uma origem profundamente religiosa, com um significado quase oposto ao da diversão, brincadeiras e malícia a que a associamos atualmente. "Carnaval" ou "Terça-Feira Gorda" é último dia do 

calendário cristão em que é permitido comer carne, uma vez que, no dia seguinte, inicia-se a Quaresma.
Muitas das celebrações carnavalescas são bastante mais antigas do que a própria religião cristã, tendo sido alvo de diferentes manifestações ao longo da história. No fundo, todos os carnavais são memórias das festas dionisíacas da Grécia Antiga, dos bacanais de Roma e dos bailes de máscaras do renascimento.
As tradições carnavalescas específicas no nosso país são um misto de paganismo e de religiosidade; assim, a par da preparação para a Quaresma, o carnaval em Portugal tem muitos rituais pagãos ligados a celebrações da natureza, sobretudo de recomeço da vida purificada na primavera, com a morte das culturas antigas e o germinar das novas. Por isso, enraizado em vários locais de se faz o (Enterro da Velha), para depois se celebrar a vida, com danças, palhaçadas, cortejos e música.
Em muito locais, associado ao Enterro da Velha, surge um julgamento, que funciona como sátira à imposição eclesiástica de abstinência e jejum durante a Quaresma. As origens destas celebrações vão perdendo-se no tempo.

Ilídio Bartolomeu

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

A MATANÇA DO PORCO EM ARGOSELO 1986


No meu tempo por tradição as Matanças do porco eram uma festa na minha Terra – Argoselo ! o poder económico e outros fatores tem determinado com que estes hábitos populares tenham reduzido a sua expressividade, oxalá pudessem como outrora, realizar-se e animar estes dias na nossa vila.
A matança do porco realiza-se sobretudo nos meses de dezembro e janeiro quando o frio cria condições propícias para tal.
Uma matança do porco, pretende ser um momento de convívio entre a família, amigos e convidados.
De manhã cedo, ainda com os dedos entorpecidos da geada, não fora um suculento mata-bicho com aguardente, começa-se por preparar um banco cumprido para colocar o porco, onde se irá matar, quando tudo estiver preparado o matador e mais quatro ou cinco homens agarram o porco e deitam-no em cima do banco, e com uma corda prendem o pescoço em volta do banco, depois sim, o matador com a faca bem afiada espeta-a no porco direitinha ao coração e o porco começa a chorrar sangue para um alguidar onde uma mulher está constantemente a mexe-lo.

 Finalmente, o porco está morto, desata-se a corda que o prende e muda-se para o chão, começa-se então a chamuscá-lo com pequenas manadas de palha. Enquanto a pele está quente, raspa-se com uma faca, sachola, caco, ou um outro objeto cortante, até esta sair.
Quando a pele exterior estiver toda raspada, lava-se o porco com escova, pedra pomos e sabão, para retirar as cinzas, o carvão, ou qualquer outro tipo de substâncias improprias.

Ao fim de estar lavado, vai-se proceder à sua abertura para retirar o baço, o coração, o fígado, os pulmões, os intestinos e outros órgãos que também estão contidos no seu interior
 Chega a hora do almoço da matança, todos se sentam em volta da mesa, e de acordo com a tradição, este é composto á base de pratos típicos, como sangue cozido, os fígados, os rins, uns bons nacos de barbada (marrã) assados, rojões e outras carnes,
 Como sobremesa, havia nozes, figos, amêndoas e outros doces caseiros.


Depois do almoço os homens amanham a carne, ou seja, cortam o porco em costeletas, presuntos, espadas e barriga, as mulheres, lavam as tripas, agora não, mas no meu tempo iam à ribeira dos inverníços, e cortavam a carne em pequenos pedaços para as chouriças e os salpicões.
 A matança do porco, embora sem a importância que teve outrora, continua a realizar-se em Argoselo, a qual obedece a um certo ritual.
O porco é uma das refeições mais frequentes das pessoas de Argoselo. Todos os lavradores matam um ou dois porcos.
É um episódio que, a história, regista a ligação e apego da comunidade às mais antigas tradições de Argoselo.

Do porco faziam-se (e ainda se faz) alheiras, chavianos, chouriços, salpicões, butelos, toucinho e os saborosos presuntos.
Mais do que uma festa que durava o dia inteiro, agora, a matança é um ato que dura apenas umas horas. São poucas as famílias que ainda cumprem a tradição. Não fora o hábito das pessoas não passarem sem as chouricitas e os presuntos, a matança do porco já tinha acabado em Argoselo
Esta tradição era verdadeiramente comunitária.

 Ilídio Bartolomeu