quinta-feira, 14 de setembro de 2023

MUITA GENTE AINDA SE LEMBRARÁ DO ENXERGÃO DE PALHA!

Enxergão de Palha

Assim eram as camas nesta aldeia no meu tempo, como em tantas de Trás-os-Montes.

O centeio dava o pão para comer, mas também a palha para mais comodamente descansar e dormir nos “enxergões”, assentes sobre travessas de ferro ou de madeira. Eram as camas que se podiam ter e "ai...ai...".

Já havia notícias de colchões de mola que iam aparecendo, mas andavam arredados destas vidas.

O tecido de que eram feitas era resistente, tipo lona, por norma com padrão de riscas grossas e pouco claras, comprado para o efeito. No centro tinha um buraco através do qual seria cheio, sempre pela altura das malhas do pão e a sua palha fresca iria substituir a velha e moída do ano anterior.

Havia para o efeito que lavar o pano, secar e voltar a lavar e com a ajuda do sol quente de verão, libertá-lo do cheiro das mijadelas das crianças e das marcas repelentes dos percevejos que nas noites quentes por vezes apareciam sem terem sido rogados.

Encher o enxergão com palha


Com pequenos fachos de palha centeia escolhida, através do buraco e de modo meticuloso, esta era introduzida e espalhada no seu interior, com a ajuda de uma pequena forquilha de madeira em forma de fisga para encher bem os  cantos e finalmente o buraco cozido com uma agulha grossa e curva e linha grossa.

E estava pronto o “enxergão”, era assim que nós lhe chamávamos, apesar de inicialmente dura, a receber os lençóis e mantas; com o tempo e o peso iria amaciando, sendo que de vez enquanto, haveria que remexê-la para não ficar acamada e pronta para acolher aqueles corpos que vinham de um dia de lavoura, "modinhos que nem palhas".

Coisas que agora na distância do tempo se "enxergam" com nostalgia

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sábado, 9 de setembro de 2023

EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS



As emissões de gases de efeito estufa recobrem a Terra, retendo o calor do sol. Isso leva ao aquecimento global e às mudanças climáticas. O mundo agora está aquecer mais rapidamente do que em qualquer outro momento registado na história.

A maioria dos carros, caminhões, navios e aviões funcionam com combustíveis fósseis. Isso faz com que o transporte seja um dos grandes responsáveis pelos gases de efeito estufa, especialmente emissões de dióxido de carbono. Os veículos rodoviários representam a maior parte, devido à combustão de produtos derivados de petróleo, como a gasolina, em motores de combustão interna. No entanto, as emissões de navios e aviões continuam a crescer. O transporte é responsável por quase um quarto das emissões globais de dióxido de carbono relacionadas à energia. E as tendências apontam para um aumento significativo no uso de energia para o transporte nos próximos anos.

A produção de alimentos gera emissões de dióxido de carbono, metano e outros gases do efeito estufa de várias maneiras, inclusive pelo desmatar das florestas e limpeza de terras para agricultura e pastagem, consumo por gado e ovelhas, produção e uso de fertilizantes e esterco para a agricultura e uso de energia para o funcionamento de equipamentos agrícolas ou barcos de pesca, geralmente com combustíveis fósseis. Tudo isso torna a produção de alimentos um dos principais contribuintes para as mudanças climáticas.

As mudanças climáticas afetam a disponibilidade de água, tornando-a mais escassa em mais regiões. O aquecimento global agrava  os períodos de seca em regiões onde a falta de água já é  comum e leva a um risco maior de secas agrícolas, afetando as plantações e aumentando a vulnerabilidade dos ecossistemas. Os períodos de seca também podem causar destrutivas tempestades de areia e poeira, que podem mover  bilhões de toneladas de areia entre continentes. Os desertos estão crescer, reduzindo a área cultivável. Muitas pessoas agora enfrentam a ameaça de não ter água suficiente regularmente.

O oceano absorve a maior parte do calor gerado pelo aquecimento global. A taxa de aquecimento do oceano aumentou muito nas duas últimas décadas, em todas as profundidades. À medida que essa temperatura sobe, o volume dele aumenta, já que a água se expande quando aquecida. O derretimento de placas de gelo também provoca o aumento do nível do mar, ameaçando comunidades litorâneas e insulares. Além disso, o oceano absorve dióxido de carbono, evitando que ele se concentre na atmosfera. No entanto, mais dióxido de carbono deixa a água mais ácida, ameaçando a vida marinha e recifes de corais.

As mudanças climáticas aumentam os fatores que levam as pessoas à pobreza e as mantêm nessa situação. Inundações assolam os países, vejam o que está acontecer na Espanha, na Grécia, na Turkia no Brasil em todo o mundo, destruindo casas e meios de subsistência. Isto por causa das mudanças climáticas.

O aumento das temperaturas ao longo do tempo está a mudar os padrões climáticos e perturbando o equilíbrio da natureza. Isso representa muitos riscos para os seres humanos e todas as outras formas de vida na terra. Com isso, embora os cientistas ainda não possam ser taxativos, alguns dizem que este ano 2023, está a caminho de se tornar o mais quente já registado.

 

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domingo, 3 de setembro de 2023

AS VINDIMAS DA MINHA ADOLECENCIA!


 

Há quantos anos? Há cinquena? Há sessenta? 

Experiências da infância e da adolescência costumam ficar marcadas na nossa memória. Naturalmente, há aquelas que até desejamos esquecer, mas a maior parte daquilo que vivemos nessas fases da vida têm significado especial. Brincadeiras de criança, namoricos da escola, presentes de Natal, almoços de domingo, festas de aniversário. São recordações indeléveis, que nos ajudam a escrever capítulos importantes da nossa história.

Já tinha começado a emigração, já havia tratores. O tempo do carro das vacas com a dorna em cima já tinha dado o lugar ao trator e aos bidons. 

As vindimas era um tempo de muita alegria, trabalhava-se de graça com comida abundante, enchia-se a barriga de cachos e bebia-se o mosto. De recordação tenho os bolos de bacalhau, enquanto comíamos o patrão, com uma bola de cêbo de porco, vedava a dorna que teimava em deixar escapar o sumo da uva.

 A vindimas são uma época do ano especial, que abrange todas as atividades que decorrem entre a apanha da uva e a produção do vinho. Estas ocorrem entre setembro e outubro, quando as uvas já estão maduras. Quando os pés das uvas estão murchos e as peles dos bagos começam a encolher, estas estão prontas a serem colhidas.


Recordo com saudade as vindimas da minha infância e da adolescência, a atividade intensa salpicada de alegria e de constante boa disposição.   Era um trabalho em que toda a família se envolvia, era um ato de amor e de união, o reencontro de amigos, um trabalho partilhado em sintonia e harmonia.  Um sorriso fácil, um abraço de conforto que matava a saudade, uma autêntica celebração! Contavam-se histórias, havia conversas de mal dizer, assim como se  cantavam modas da época  e se namoriscava com a rapariga ou rapaz do agrado de cada um.

Fizesse sol ou chuva, a apanha das uvas começava bem cedo para aproveitar todas as caraterísticas de cada cepa. As pessoas distribuíam-se pelos valados e  apanhavam os cachos de uvas à mão ou cortavam-nos com ajuda de um canivete ou de uma tesoura, processo, ainda, utilizado nas vindimas.

Depois de uma manhã inteira a vindimar, chegava o descanso merecido com um almoço nutritivo, sempre em ambiente de festa. Desses almoços tenho saudades do sabor da espanholada e aromas inconfundíveis das sardinhas assadas na fogueira feita com vides. Sabores e cheiros que nunca mais os vivenciei!

Todo este ambiente era um verdadeiro manjar para as atarefadas abelhas que procuravam o néctar nas doces e suculentas uvas ou nas saborosas sardinhas. Dessas não tenho saudades, visto que fui mais de que uma vez ferrado.

À noite, o trabalho e as celebrações continuavam, nos lagares de pedra, onde homens e rapazes, de calções ou calças arregaçadas, em roda, davam os braços e ao ritmo da  música da rádio, pisavam as uvas colhidas ao longo do dia. 

Primeiro era o  corte, em que os homens, com os braços nos ombros uns dos outros, esmagam as uvas, sem deixar nenhum centímetro quadrado por pisar.

Após a fase de fermentação que durava várias horas, mais de vinte e quatro, o lagar era novamente trabalhado. Era pisado para que a parte sólida, que se formava na superfície do lagar, se misturasse com a parte líquida e haver uma maior extração de cores, aromas e sabores.

Por fim com o grau alcoólico atingido, deixava-se, por algumas horas, o lagar descansar para que a parte sólida ficasse à superfície. Depois abria-se a torneira na base do lagar e o mosto era transferido para pipas ou tonéis de madeira.

No meu caso, as férias grandes eram acima de tudo a grande oportunidade de ler. Adorava histórias de príncipes e princesas, fadas e bruxas, em que o bem triunfava sobre o mal e o amor saía sempre vencedor. Gostava também das  histórias de animais personificados, quase sempre começadas por: “Há muito, muito tempo, na época em que os animais falavam…” Nessa altura era utente assíduo da Biblioteca Itinerante Calouste Gulbenkian, que nos visitava regularmente. Aos seus abalizados funcionários devo o gosto que ainda tenho pela leitura. Foram eles  que muito contribuíram para esta minha paixão pelos livros e pela escrita,. Recordo que simpaticamente me aconselhavam os  livros adequados à minha idade e me deixavam trazer mais dos que os permitidos.


As férias na praia só as tive na idade de adulto, quando fui para o Estoril. Não são as minhas preferidas! Mas adoro passear à beira mar, chapinhar na água, pontapear as ondas e saborear e cheirar a brisa marinha! Apraz-me observar o sol espraiar-se no mar e criar um resplandecente por do sol  em tons de laranja e amarelo! Gosto de apreciar a beleza do verde e do azul  do mar  e sonhar com as terras distantes e os lugares recheados de magia que são banhadas por aquelas águas imensas! Como gostaria de viajar na crista das ondas e ser transportado para essas aventuras fantásticas e encantatórias.

Como gostaria de regressar aos verões da minha adolescência, em que tudo era simples e muito feliz, mas eu não o sabia.

De todos os trabalhos do campo, a vindima era aquele que eu mais gostava, pelos momentos de alegria e emoção.

 

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