Infelizmente a falta de respeito, principalmente para com os mais
velhos é um facto. É lamentável, mas é um facto. São filhos que menosprezam os
pais porque envelheceram. São netos que desprezam ostensivamente os avós,
porque envelheceram mais ainda. E, principalmente, jovens que, por serem jovens
acham-se no direito de menosprezar os idosos que encontram pela frente, com
atitudes libertinas, ridicularizando certas deficiências que esses idosos, por
vezes, tem com a sua locomoção.
Um facto que me revoltou, foi ver um rapaz, dos seus 17, 18 anos,
tremendamente chateado porque "tinha que acompanhar aquele velho chato
(seu avô), pois "esse inútil não é capaz nem de andar sozinho". Não
aguentei tal comentário. Pedi ao "velho chato" que se sentasse um
pouquinho num banco do jardim, peguei o rapaz pelo braço e simplesmente perguntei-lhe:
quantas vezes o teu avô teria pegado pela tua mão para te ensinar a andar
quando eras pequenino?. Lembrei ao infeliz que se todos o tivessem desprezado
"porque ele não era capaz de andar sozinho", possivelmente estaria
até hoje a gatinhar. Quanto ao facto de ter nojo "do velho" porque
não conseguia controlar as suas necessidades fisiológicas, procurei lembrá-lo
de que, quando bebê, também ele foi trocado de fralda um sem número de vezes,
possivelmente pelo próprio avô, pois ele não conseguia controlar as suas
necessidades. O rapaz tentou defender-se dizendo que era diferente, pois ele
era criança e precisava ser ajudado. Fiz então ver ao rapaz e entender que,
muito mais do que uma criança, um velho incapaz merece ser ajudado e muito,
pelo tanto que já fez pela família, pela comunidade, por todos, enfim. Acredito
que talvez uma pequena luz tenha entrado na cabecinha daquele infeliz,
principalmente quando eu o fiz ver que, com sorte, ele também iria chegar ao
ponto de voltar a precisar dos outros até para as menores necessidades e o que
ele preferiria encontrar: se quem lhe estendesse a mão para ajudar, ou quem o
empurrasse para cair mais depressa.
Pessoas como este rapaz precisam entender que até mesmo os velhos
que só estão "ocupar espaço", que é como eles gostam de definir,
merecem todo o respeito e toda a consideração, mais ainda do que os outros
plenamente capazes, pois já viveram e trabalharam muito. Fizeram a sua parte. E
já que as nossas autoridades não são capazes de proporcionar um fim digno para
quem tanto já fez, pelo menos aqueles que tem condições de dar um amparo, e
principalmente os familiares que tanto já usufruíram do seu trabalho, devem
sentir-se, não na obrigação, mas no dever de fazer alguma coisa por eles.
Hoje, além de defender os direitos de quem já chegou lá, estou a
trabalhar também em causa própria, pois já estou perto de lá também chegar.
Espero que todos os filhos, netos e demais, entendam a indireta...
“Algum tempo depois encontrei esse rapaz, já um homem feito, que
fez questão de me vir cumprimentar pela lição que lhe dei naquele dia.
Não preciso dizer que ganhei o dia, pois é bom demais ver o reconhecimento
por algo que fizemos, e o amigo idoso daquele dia, está certamente abençoar-me esteja
lá onde estiver, pois já está a descansar ao lado de Deus, que certamente o
trata com todo amor e carinho...
Assim, vamos sempre procurar fazer de cada dia que vivermos, sempre
um…
Ilídio Bartolomeu
