sábado, 25 de fevereiro de 2017

FRUSTRAÇÃO OU DESESPERO!..

O maior pecado para com os nossos semelhantes, não é odiá-los, mas sim tratá-los com indiferença; é a essência da desumanidade.
Ficaremos cada vez mais indiferentes quando alcançarmos um conhecimento suficiente da superficialidade e da futilidade dos pensamentos, da limitação dos conceitos, da absurdez das opiniões e do número de erros na maioria das cabeças de quem nos representa. Se prestássemos atenção ao que os outros podem dizer de nós, perderíamos depressa toda a possibilidade de fazer bem.
Tento ser, à minha maneira, inabalável e prático, mas a indiferença, como condição nunca teve lugar na minha vida, e se é certo que busco afincadamente o sossego do espírito, também é certo que não me libertei nem pretendo libertar-me da paixão pela minha terra, o que tiver para dizer, eu digo ou escrevo.

Longe vão os tempos em que a aldeia de Argoselo fervilhava de vida. As casas estavam cheias de gente que trabalhava nos campos, alegre, pois não conheciam outro modo de vida e os seus desejos de ambição resumiam-se às colheitas fartas que assim afastavam o espectro da fome. Mas havia fome, muita fome. Estou a falar de um tempo antigo, no qual uma sardinha era dividida por três, do carolo de centeio bem negro torrado nas brasas untadas com banha a servir de manteiga, caldo de cebola quando as batatas já se haviam acabado e de refeições em que a travessa do guisado era só uma e se colocava no meio da mesa, quando havia mesa e no caso de não haver, à roda do da fogueira, onde a família comia em silêncio depois de dar graças ao divino por mais uma refeição... o silêncio da refeição não se devia ao não terem que dizer, mas sim ao tempo que perderiam se ocupassem a boca com palavras em vez de mastigar a parcela que a cada um calhava. As batatas eram cozidas com a pele por via de não desperdiçar nada. O pão, muitas das vezes, mesmo duro, era o único que havia.

As crianças pequenas eram deixadas na rua todo o santo dia, entregues a elas próprias, enquanto os pais e os irmãos mais velhos cuidavam das novas colheitas. Quando a fome começava a apertar, as brincadeiras, faziam esquecer a vontade de comer o carolo de pão, porque muitas das vezes nem isso havia, e se resmungassem muito, ainda levavam uma valente tareia.
Hoje, disto tudo o que resta destas memórias, para além de algumas vezes de barriga cheia, é claro, e destas histórias para contar aos filhos e aos netos, se bem que estes últimos tenham tido dificuldades em acreditar, visto que nada lhes falta e não conhecem as consequências da palavra miséria, ou se calhar, nem a própria palavra fome…

É agora esta espécie de gente que se alimenta do resultado imediato obtido sob o efeito produzido nos outros, sobre quem, corrosivamente, pulverizam o éter resultante do destilamento efetuado com a requintada performance da sua frustração e malvadez. Impotentes perante o complexo de inferioridade que lhes assola a existência e com quem se debatem ingloriamente, só lhes resta espezinharem os mais fracos que se cruzem no seu caminho, obtendo desse modo a dose de satisfação que lhes permita sobreviver no submundo das sombras, do qual nunca parecem crer abandonar. Da frustração é claro!...
Ridículas criaturas essas, que, atormentadas pela cegueira do brilho que se lhes afigura terem o dom de originar e cuidando serem estrelas de uma qualquer constelação superior do reino da mesquinhez, lá se vão entretendo a atirar maléficos venenos sobre os defeitos dos demais. Por mais que se metam em bicos de pés tentando elevar-se ao alto da perfeição, na verdade, nunca passaram do chão. E é sob o desmesurado que escavam túneis de trevas por onde, contentes se lançam de arrojo num submundo cheio de outros seres rastejantes.

O vento tudo leva, desvanece. O tempo faz tudo ficar no seu lugar, no seu tempo. Tudo se acalma, tudo se acerta, o que não é para ficar não fica, o que tem que permanecer, garante-se. Mas nem o vento e nem o tempo, nos consegue ensinar a lidar com a saudade que alguém nos deixou.
Há que mudar de vida em Argoselo! senão queremos ir aos velhos tempos da miséria doravante sempre pelos mesmos…  É só abrirmos um pouco mais os olhos e serão banidos das suas frustrações e malvadez…

Ilídio Bartolomeu 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

CASA ABANDONADA EM ARGOSELO… TRISTE ESPETACULO … NO CENTRO DA VILA!

BEM NO CENTRO DA VILA


É comum encontrar edifícios abandonados em cidades vilas e aldeias, mas eu vou especialmente falar de Argoselo. Basta um passeio pelo centro da Vila e por outras ruas, nobres ou não, para identificar inúmeros espaços sem utilização, ou com esqueletos de prédios desocupados, servindo de hospedeiros para lixo, pragas, marginalidade e egoísticos interesses individuais especulativos dos seus proprietários.

Mas, como solucionar esta questão e promover a sustentabilidade destes bens, principalmente do prédio situado bem no centro da Vila de Argoselo?

A resposta para este problema encontra-se na Constituição da Republica, num artigo que eu não estou habilitado para fornecer, dedicado à Política Urbana, sob a premissa das funções sociais da Vila e sustentável da propriedade que impõe o uso deste bem em conformidade com o interesse não só do proprietário, mas de toda a sociedade, conforme diretrizes do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, a partir de efetividade econômica, social e promoção do meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Assim, impõe-se ao Executivo Camarário de Vimioso o dever de imprimir políticas públicas de ordenação deste ou doutros espaços urbanos, condicionando e delimitando o efetivo exercício do direito de usar, gozar e dispor do imóvel pelo próprio poder público e, notadamente, em nome dos citado princípio e mencionado artigo constitucional, bem como por força da norma fundamental que eleva a supremacia do interesse coletivo sobre o individual.

Para tanto, a própria Câmara pode autodenominar e colocar à disposição do poder executivo municipal os artigos que conferem esses instrumentos. Referindo assim à obrigação conferida à administração pública de determinar ao proprietário da casa edificada, não utilizada e abandonada, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de divisão ou aplicaçãço de multas, em prazos pré-definidos e após projeto aprovado, imposto sobre a propriedade e, se persistir na omissão legal, a expropriação adequada, com pagamento mediante títulos da dívida pública, com prazo de resgate de até dez anos, tudo com base dos conformes procedimentos estabelecidos e garantidos pelos  devidos processos legais, contraditório e ampla defesa, no âmbito administrativo e judicial se for o caso.

Com estes passos, será possível concretizar direitos básicos como moradia, lazer, inerentes às funções sociais da Vila e da propriedade, ultimando o abandono que se encontra num triste espetáculo há mais de 30 anos. Não é compreensível tanto pela Junta de Freguesia como da Câmara de Vimioso, que tenham até hoje nada feito para acabar com esta situação, e que nada dignifica a Vila por quem por aqui passa  há 30 ou mais anos.

Os Serviços Camarários, segundo me parece tem dado alguns passos para solucionar este problema, mas também não tem feito tudo que está ao seu alcance, porque se fosse com um munícipe radicado na Vila, e Argoselense, que paga os seus impostos e se descuidasse, tinha tudo já penhorado faz tempo.

Mas também não quero deixar de expressar o meu descontentamento e condenar as várias Juntas de Freguesia das debilidades e desleixes como se não fosse nada com eles e deixarem-se andar ao sabor da Câmara de Vimioso.

A verdade seja dita: estes indivíduos são como os morcegos, só vêem de noite, durante o dia, não vêem nada, nem se passa nada na Vila. Mas não vai tardar muito, que durante alguns dias, não há-de faltar muito, em que vão começar a distribuir os bacalhaus e palmadas nas costas e dizerem; que eles são os seus defensores, e portanto se for preciso eu vou-te buscar de carro, não esqueças meu amigo…Quanto aos de Vimioso, tem-se esquecido muito dos vivos mas, quando eles morrem lá estão eles a enterra-los com a herança duma coroa de flores e paz à sua alma…

Não é admissível como o Povo tem sido representado por estes indivíduos, que em vez de o defenderem, vendem-no por dacá uma migalha; só pode ser isto, porque quem gosta da sua Terra, o dever tem de se interessar com paixão por ela. Se não… não vai representá-lo. Vai cavar batatas e tratar da horta…

 

Ilídio Bartolomeu