domingo, 28 de janeiro de 2024

A “MINHA ALDEIA DO SOSSEGO”

Já largos anos, sobre as minhas periódicas deslocações à aldeia de Argoselo, terra de onde são naturais meus pais, pessoas pobres e humildes, mas de gente imensamente rica em valores os quais incutiram à minha pessoa e aos meus irmãos. Esses longínquos tempos trazem-me doces recordações que por vezes recordo quando percorro o silêncio da minha mente e alimento uma felicidade interior sempre que vasculho as minhas memórias.

A minha rua era na altura cheia de vida, ao contrário dos tempos presentes. Lembro-me bem dos rostos de alguns vizinhos cujos nomes: tio Queninas, tio Tó, tio Funguinha, tio Tramar, tio Patarata, tio Alberto sapateiro, tia Estrela, tia Moca e tia Fernanda que nunca esquecerei... por ter sido a parteira de todos os filhos que a minha mãe teve.

Apesar dos anos que carregamos nos ombros, existem caras, amizades, conhecimentos e principalmente momentos que nunca esquecemos e as doces lembranças de Argoselo guardo-as também comigo…

As saudades conduziram-me a casa do meu tio Porfirio, com quem sempre tive uma relação muito especial. Na verdade, não sei o que esperava de alguém que já se encontra perto dos 90. Acho que nunca esperamos que as pessoas que amámos envelheçam, porque sabemos qual é o passo seguinte.

Num dos terrenos onde me deslocava com o meu tio Porfirio, colhia frequentemente do regato de águas límpidas a “merujinha” e os agriões com os quais a minha mãe preparava saladas que muito me agradavam. Gostava especialmente da merujinha … adorava voltar a comer, já não a saboreio à muitos anos.

Como todos os terrenos eram cultivados, encontrava-se sempre alguém para dar dois dedos de conversa, para além dos habituais cumprimentos.

Nos percursos efetuados de tarde era usual levar alguma coisa para se comer à merenda, tarefa que se realizava quase sempre à sombra de uma árvore que lá existia.

Numa dessas tardes, quando se estava a regressar a casa, encontramos um casal já idoso o António Amado que andavam a regar a horta. Após os cumprimentos da praxe iniciou-se uma pequena troca de palavras de circunstância. O casal não tirava os olhos da cesta da merenda que tinha bem à vista uma garrafa de vinho. O meu Tio Porfírio apercebeu-se e perguntou ao casal se queriam beber uma pinga. A resposta foi pronta e afirmativa. O senhor António Amado começa a beber e, golada após golada, esvaziou a garrafa.

Depois encontrei o meu antigo amigo de escola Eugénio Quina. Ao olhar para ele, recuperei velhas memórias, amizades perdidas, professores de quem não gostei e outros que não esquecerei, amores que se alimentavam de cartas e recadinhos em papel, recantos que foram palco de grandes histórias…

Durante os Invernos não havia tanto tempo para esta convivência. Os dias eram muito pequenos e frios e não dava para estar na conversa ao ar livre. As lareiras estavam quase sempre acesas, comiam-se sopas de cavalo cansado para dar força e ânimo, ou bebiam-se umas gemadas bem fortes.

Mal eu sabia que, dias mais tarde, teria mais memórias para chorar. O meu tio Porfirio acabaria por morrer. Sentiu-se mal, nada havia a fazer. Uns anos mais tarde, os meus pais também faleceram.

Pedaços da minha existência que se afastam. Pessoas que não víamos há anos, mas que quando sabemos mortas, sentimos que algo dentro de nós também se apaga, como se pouco a pouco o livro da nossa vida fosse perdendo folhas, uma história de vida, que vai perdendo os seus personagens.

Uma terra onde todos se conhecem, onde ainda se mantêm alguns costumes, tradições, princípios e onde também se adquirem muitos valores e isso sente-se quando as pessoas que nos visitam ficam marcadas pelo nosso acolhimento, respeito e simpatia.

Voltei para a cidade convencido que não tinha mais motivos para regressar à minha aldeia, onde as minhas histórias não se iriam repetir, onde não iria construir mais memórias, onde os rostos não me iriam abraçar como outrora, onde nada seria como era.

Deixo em jeito de conclusão, um sentimento de especial amor para com as suas gentes que tão bem me trataram desde a minha infância até aos presentes dias.


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domingo, 7 de janeiro de 2024

SEM ÓDIOS...

Revolta... a mania de certas pessoas de fazerem pactos com o diabo para prejudicar o próximo. São aqueles que por recalque e inveja, conspiram com tudo e com todos para prejudicar quem nunca os ofendeu ou lhes causou mal nenhum. Esquecem-se que essas pessoas da maldade, que o recurso á raiva, ao rancor e ao ódio, é como arma de arremesso que volta e atinge o agressor.

Melhor é viver a vida sem rancores e sem praticar maldades. Também sem ambições desmedidas que levam ao caminho da perdição. Pôde-se viver com dignidade sem ganância e sem venerar o bezerro de ouro. Que mal há em viver frugalmente? Não, ninguém deve abrir mão das suas ideias, deve defendê-las, mas para isso não precisa ofender quem pensa diferente.

Outro ponto, fica ridículo e é uma agressão ao bom senso negar os factos, tentar esconder a verdade. Tudo bem, todos temos os nossos temperamentos, antipatias e aversões pessoais. Faz parte da natureza humana. No entanto, não podemos transformar esses sentimentos em ódio e nem em maldade.

Estamos a viver um momento em que as pessoas até com boa bagagem cultural recorrem ao ódio gratuito.

Creiam, podemos viver sem recorrer ao ódio.

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