quarta-feira, 30 de setembro de 2020

NO MEU TEMPO DE ESCOLA PRIMARIA!



Antiga Escola Primária
Hoje ´Posto da G.N.R.

  Lembro-me como se fosse ontem o meu primeiro dia de aula. Incrível como o tempo passa! Queremos tanto nos livrar desta fase de escola, que quando nos damos conta, já passou.

Fazia, diariamente, a pé, o percurso casa/escola/casa, quer morasse perto ou longe, chovesse, nevasse ou fizesse sol. Tinha dois caminhos por onde ir: pela estrada principal ou pela rua Padre Cruz, era no tempo das chuvas lamacentos ou cheios de água e no tempo seco estavam cobertos de pó. Quando chegava à escola molhado ou com frio esperava uma pequena braseira, que de pouco servia, condenando-me a passar várias horas molhado e com frio.

Um ou outro caminhavam descalços uma vez que os pais não tinham dinheiro para lhe comprar umas botas, ainda que grosseiras. Os que moravam mais distanciados da escola levavam o almoço consigo, muitas vezes uma sardinha albardada, ou um pedacito de queijo e um bocado de pão de centeio, tanta vez, endurecido. Nesse tempo não só não havia cantinas com leite, refeições de graça, como também dinheiro para comprar sandes, bolos, chupas, gasosas ou pirolitos...

Levava os livros, cadernos e o restante material escolar, como a pedra de ardósia, o lápis, a borracha, a caneta de tinta não permanente, numa sacola, confecionada de pano. Brincávamos e jogávamos, durante o recreio, ao pião, ao berlinde, à bilharda, ao botão, à bola (de trapos) e às escondidas.

Sinto saudades do barulho da campainha ao dar sinal para os intervalos, que era sempre um alívio...

Sinto saudades daqueles alunos que faziam graça na sala de aula, e aqueles quietinhos que se sentavam logo nas primeiras carteiras junto ao professor. havia sempre um que se destacava, seja pelo espalhafato ou pela educação exagerada. Eu nunca fui dos melhores, mas também nunca fui mal exemplo, juro!

A professora Dona Maria Cepeda, era uma Professora extremamente exigente e disciplinada. Quem fez a quarta classe com ela, tenho a certeza absoluta, que além desses dois predicados que tinha, todos dirão que era uma Senhora Professora que tratava muito bem dos seus alunos.

Enquanto outras/os professores só davam aulas de manhã  ou da parte da tarde, a Senhora Professora, Dona Maria Cepeda, abdicava do seu tempo de lazer, para dar aula da parte da tarde em sua casa, ai de quem não fosse! Além da aula, dava-nos de lanchar, sandes, bolos e fruta. Esta Professora era mesmo extraordinária!

Os professores/as eram muito respeitados pelos nossos pais que lhes davam a liberdade de nos castigar, caso não soubesse-mos o que nos competia. Os castigos podiam ser desde puxões de orelhas a bofetadas e até mesmo reguadas! A maior parte da matéria era para ser decorada e recitada na pontinha da língua: 2x2=4, 2x4=8…   

A escola tinha quatro salas, duas para rapazes e duas para raparigas. Havia oito turmas, cada uma com vinte e quatro alunos, uns tinham aulas da parte da manhã e outros da parte da tarde. Todos os dias tínhamos de rezar e cantar o hino nacional.

Uma semana antes do Carnaval, era tradição oferecer o melhor Galo da localidade a cada uma das professoras. Todas as turmas nesse tempo, procuravam um carrinho de mãos, ornamentava-se com um pinheiro e serpentinas para depois colocar lá dentro o Galo mais bonito e o melhor da aldeia, comprado pelos alunos da turma. Outras turmas iam comprá-lo às aldeias em redor. Depois do Galo todo enfeitado, íamos dar a volta ao Povo com o carrinho de mãos, quando em quando, recitávamos versos como por exemplo este:

O Galo não é de cá,

Ele é da Paradinha,

Para o menino Zeca,

Namorar a Mariazinha.

E antes de entregar o Galo à professora em sua casa, lia-se o testamento do Galo que era assim:

Não haverá quem me alive, nesta minha tão má sorte.

Esta noite está a ler-se, a minha sentença de morte.

Estou tão atribulado, nesta minha despedida.

Deixar-vos nesta hora, de certo me custa a vida.

Deixo as minhas tripas e tudo, o demais  em demasia.

À mulher mais rabugenta que houver nesta Freguesia.

Depois batiam-se palmas e a Senhora Professora dava-nos rebuçados e bolos. Era uma alegria!

Para fazer o exame da 4ª classe, íamos a Vimioso sede de Concelho. Uns a cavalo, outros deslocavam-se a pé. Depois  quem passava no exame, comprava rebuçados para depois os distribuir  aos mais novos. A primária terminou!

Depois da escola, os pais dos alunos que tinham poder económico, prosseguiam os estudos no Liceu em Bragança. Os outros, além de fazer os deveres de cada dia, brincava-se e ajudávamos  os nossos pais no que fosse preciso. Eu, ao meu pai, fazia recados, pequenas compras e tarefas ligadas à vida de alfaiate, à minha Mãe ia à fonte buscar água para fazer a comida.

Com o passar do tempo, percebi que a vida de cada um acabou tomando um rumo diferente. Rumo que o próprio destino se encarregou de traçar. O quotidiano foi e é sempre a luta pela sobrevivência. Trabalhar e preocupar-se com o futuro.

Então aqueles amigos que fiz durante a infância, aos poucos foram distanciando-se... E cada vez mais, até que nunca mais os vi com a mesma frequência de antigamente. O tempo passa, há como passa!

Mas é incrível como existem coisas que marcam a vida da gente. Quando me lembro do tempo de escola por exemplo, logo o associo à minha infância. Seria mentira se eu dissesse que não sinto nem um pingo de saudades, sinto sim.

Saudades daqueles momentos tão simples, que até então, para mim não eram significativos na época. Eu estava somente vivendo aqueles momentos, e nunca notei que a vida passaria tão depressa.

Mas o que mais me indigna é, sabendo que toda a população que esta, Professora Dona Maria Cepeda, Senhora de grande generosidade tenha sido esquecida todo este tempo,  por todas as autoridades máximas da localidade, ao ponto de ser esquecida sem que lhe tivessem feito um reconhecimento digno à sua pessoa.

Raro aluno que frequentou a escola com esta Senhora Professora, que não diga: eu tenho uma 4ª classe bem feita!

Esteja lá onde estiver, o meu reconhecimento e meu muito obrigado.

Ilídio Bartolomeu

 


 


sábado, 26 de setembro de 2020

A GERAÇÃO MAIS BEM PREPARADA DE SEMPRE?


 Analisar o que se passa nos comportamentos dos mais jovens dá-nos a avaliação do fracasso do presente. É uma geração de direitos que esquece os deveres, adequa-se às tecnologias e incapaz para o resto, hipersensível, egoísta, que exige mas não dá. É a geração mais protegida de sempre e a mais amedrontada, que se desagrega à mínima contrariedade, sempre ligada a terminais de informação e diversão, mas apagada do que importa e incapaz de distinguir o essencial do irrelevante.

Ao conviver com os mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco tempo e com aqueles que estão provando que são gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada  e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dificuldade.

Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é obra  e para conquistar um espaço no mundo é preciso lutar muito. Com ética e honestidade  e não a cotoveladas ou aos gritos.

Este é um facto. Há uma geração de pais que está a criar monstrinhos alienados. É a geração que é incapaz de lidar com o sacrifício, com o sentido de dever, com a responsabilidade familiar, porque é fruto de uma época de paz e de prosperidade, porque é fruto da lógica de filho único e de infantocentrismo, porque foi moldada para o sucesso profissional e não para o compromisso familiar.

 Os novos pais não toleram crianças. Muito menos toleram crianças que se mexam. Ora, novidade das novidades, as crianças mexem-se. E falam. Muito. E gritam. E choram. E fazem birras. É assim desde que existe a humanidade. O problema é que antes destes novos tempos, sempre que uma criança ultrapassava os limites da boa educação, do respeito e do sossego de terceiros, levava uma palmada. Bastava um olhar. Hoje damos-lhes iPads e playstations.

Quando uma criança deve ouvir um não, hoje recebe um sim e qualquer coisa que a entretenha. Porque tudo é mais importante que educá-la para que possamos ter um ser humano decente em casa. Não há regras, porque as regras dão trabalho a implementar. Exigem paciência e eles não têm paciência. Podem ter paciência para tudo. Para jantar fora, para trabalhar até à meia-noite, para irem de férias com os amigos, para jantaradas e noites durante a semana, para desportos radicais, para irem a todos os sítios fashion,  para estar no Facebook, no Twitter, no Instagram, no Whatsapp. Mas não têm paciência para chegar a casa e perder uma hora do seu tempo a brincar com uma criança.

Não têm paciência para ouvir os miúdos porque os miúdos, claro está, só dizem asneiras, não são racionais e não medem as palavras. E esperam que eles cresçam sozinhos. Ou com uma caixa de jogos didáticos, para aprenderem enquanto brincam, ou com filmes que os fazem assimilar conceitos. Não os levam para a rua porque a rua é um perigo. Há um mar de perigos nos parques.

Nós, a geração "mais bem preparada de sempre", temos a maior taxa de alfabetização de sempre. Nunca o mundo teve tantos diplomados como agora. Somos esplêndidos. Ensinaram-nos desde pequeninos que somos esplêndidos. Disseram-nos que tínhamos direito a ter tudo e queremos ter tudo. E disseram-nos que os sacrifícios não eram necessários. Estava tudo ali. E quando faltasse alguma coisa, estavam os pais, para libertar algum dinheirito, para comprar um carro novo, para mobilar a casa, para uma beijoca, para mais um computador portátil.

 E agora têm filhos. Filhos, imagine-se! Uma geração de filhos que está a chegar, que ainda está nas barrigas ou que entrou agora para a escola. Uma geração de filhos que se enfrasca em anti-depressivos e em tecnologia para explicar à geração dos próprios pais esta coisa tão simples: a "geração mais bem preparada de sempre" é a geração mais incapaz de constituir família e de educar uma criança dos últimos séculos. E está a criar uma nova geração de pequenos e selvagens tiranos.

O que difere a nova geração das demais é, principalmente, o facto dos jovens dessa geração serem “nativos digitais”, tendo praticamente nascido junto com a internet e se ter desenvolvido junto com ela e as outras tecnologias.

Tenho-me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas  onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece porque obviamente não acontece sentem-se traídos, revoltam-se com a injustiça e boa parte se embrutece e desiste.

Nada é suficientemente bom. Então vamos fazer o que é certo, dedicar o melhor dos nossos esforços para atingir o inatingível, desenvolver ao máximo os dons que Deus nos concedeu, e nunca parar de aprender.

Tenham um bom dia.

Ilídio Bartolomeu

terça-feira, 22 de setembro de 2020

PARA ALGUNS… A MEMÓRIA É CURTA…


Com razão, as pessoas costumam responsabilizar sempre o presidente da Câmara, por tudo o que acontece no Concelho. A falta, de empregos, qualidade de vida, industrialização, mobilidade, secas, recursos hídricos, buracos, lixo, ausência de contratos para a contratação de empregados para o Poder Público que deve ser precedida de concurso público, porque sem tal conduta implica ilegalidade, o colapso da natalidade - um problema mesmo com continuamento de estímulos dados aos cônjuges e a pandemia que exige da sociedade uma grande cooperação e responsabilidade. A culpa é do presidente.

Tudo, rigorosamente tudo, é com o presidente. Vale opinar que, como as pessoas não moram em abstrações políticas, do ponto de vista objetivo, a supervalorização da figura do presidente é mais que justificada. Não é sem razão que, ao ver um presidente esquivar-se de questionamentos sobre certos temas, os munícipes em variados graus de consciência cidadã, reagem, insistindo em responsabilizar o Presidente do Município.

No imaginário das pessoas, talvez pela proximidade com o governo, o presidente é a autoridade responsável por tudo o que ocorre ou influencia o concelho. Na prática, o presidente sabe da responsabilidade política que tem sobre todos os assuntos públicos no âmbito municipal. Se quiser ser bom governante, tem de contornar as restrições financeiras que dificultam a realização das tarefas próprias do cargo, e ir além dos limites estabelecidos pela Constituição na busca de soluções dos problemas que perturbam o bem estar das populações.

E nesta perspetiva, um presidente incapaz de fazer valer a força política do município que governa para superar os problemas que afetam a prosperidade e o bem estar dos conterrâneos, não merece o cargo que exerce.

A missão do Presidente da Câmara Municipal é promover a qualidade de vida de todos os cidadãos no município, gerindo de forma sustentável os recursos do território e praticando um serviço público de qualidade. Para isso, desenvolvem determinadas tarefas, em determinadas áreas, como por exemplo planear, gerir, investir, fiscalizar, licenciar dar a opinião e defender os direitos dos cidadãos que representa junto de outras entidades, como a Assembleia da República ou o Governo.

Por vezes, algumas das suas tarefas são realizadas pelas Juntas de Freguesia, delegadas através de contratos ou acordos, ajudando-o assim a cumprir a sua missão.

A Assembleia Municipal, é o órgão eleito diretamente pelos cidadãos, a quem compete aprovar certas decisões da câmara e fiscalizar a sua ação. Também fazem parte, por inerência, os presidentes das juntas de freguesia desse município, se estão presentes e não reclamam, será que a culpa é do presidente? Ou falta coragem de expor os problemas inerentes à sua Freguesia? Ou não sabem ao que vão?

Há memórias que parecem curtas, sim. Quando? Quando nos toca. Aí os remorsos que sentimos leva-nos a fugir da culpa por mais que, “à vista desarmada”, faça com que  pareçamos indiferentes a ela. Ou quando temos uma dificuldade fundamental de sermos sensíveis ou solidários com o mal estar da comunidade. Por outras palavras, as pessoas não têm a memória curta. Curta é acima de tudo a rapidez com que se ignora tudo o que se sente e se diz de alguém quando não nos convém, para depois na altura certa, dar continuidade dos disparates que se dizem aos Presidentes da Câmara e da Freguesia.

Há coisas que nunca deixarão de me surpreender.
A capacidade que as pessoas têm para eliminarem da sua memória tudo o que anterior a determinado acontecimento. É a tendência visível dos seres humanos para passarem uma esponja por cima de tudo o que não lhes convém no momento...

Mesmo quando fazemos por esquecer e tentamos recalcá-la, a memória reage, “engasga-nos”, gera sintomas e interpõe-se em relação a tudo aquilo de falso que pretendemos erguer à margem da memória.

Sejamos mais coerentes! Língua cumprida, memória curta…

 

Ilídio Bartolomeu 

domingo, 13 de setembro de 2020

VIVER COM DIÁLISE

Os rins estão em estado terminal da sua vitalidade. O renal chora, desespera, tem medo,  insegurança e na sua maioria entra num quadro depressivo, uma grande tristeza toma conta do seu ser... E agora?

São muitas as perguntas, turbilhões de pensamentos... Em muitos podem  gerar sentido de culpa, (não foi o meu caso) por nunca ter feito exames de rotina, devido a sedentarismos... e fica perdido nos seus pensamentos.

Quando da admissão à clínica, os pacientes têm acompanhamento psicológico, o paciente e a família. Depois de todos os passos importantes após o diagnóstico terem sido atendidos, há que habituar a vida com a diálise. E à medida que os sentimentos iniciais de confusão e medo acabaram, é hora de assumir o controlo da nossa vida regularmente.

Com insuficiência renal crónica em particular, é importante observar atentamente a  nossa rotina diária: O que eu quero e todos aqueles que estão na mesma situação, devem fazer? Quais os desafios que temos que enfrentar e quais são as nossas prioridades na vida? E além disso, como nos podemos organizar para poder atingir os nossos objetivos? Eu, como tantos outros, após a sessão de hemodialise, sente-se um cansaço, e por vezes um mau estar… Sendo assim, o melhor que há a fazer, é descansar e manter repouso total algumas horas para se recompor. Normalmente, a energia está de volta no dia seguinte.

 Depois de se consultar o médico, pode praticar-se desporto, como ginástica, caminhadas, ciclismo e natação, em dias sem diálise. De fato, podemos fazer qualquer coisa que nos faça sentir bem. Os desportos são muito benéficos para quem não tem limitações motoras, para aqueles que andam em cadeiras de rodas, (que é o meu caso), é conveniente fazer-se movimentos com os braços e pernas, levantar-se frequentemente para não criar escaras, que é o que acontece normalmente quando se está muito tempo sentado. Atividade física, ativa a circulação e os músculos.

Viagens mais longas como férias, podem ser organizadas com antecedência em coordenação com a clinica onde está a fazer hemodialise. A diálise precisa de continuidade, para permitir umas férias saudáveis e relaxantes. Sempre existe uma margem de flexibilidade para se ajustar à nossa vida. O mais importante de tudo é que o tempo e a energia se tornarão muito mais importantes. Definir prioridades e organizar a vida de acordo com o que queremos fazer. Uma programação regular irá manter-nos fortes e ajudam-nos a permanecer ativos. É essencial desenvolver a confiança no ambiente em que cada qual se encontra,

Como organizar a nossa vida - Uma analise cuidadosa, o que significa qualidade de vida, reparamos os aspetos particulares e avaliemos o que é importante para nós: comida e bebida, exercícios, viagens, férias, relações, autodeterminação, agilidade contatos sociais e trabalho etc. Um sentimento positivo começará a surgir certamente assim que definirmos os nossos critérios pessoais de qualidade de vida.

Vida social­ - Lembrar quais os nossos anteriores papéis na vida, por ex. como esposa, marido, pai, amigo ou especialista e na profissão particular, ainda continuam a ser importantes. Façamos um esforço consciente para cuidar deles.

Atividades - Quem tem hobbies devem mante-los, porque é uma boa distração  na vida quotidiana. Também é possível envolvermos em desportos. Apenas consulte o seu médico antes de participar em qualquer desporto.

Escolhas saudáveis - Existem muitas coisas que podemos fazer para nos mantermos saudáveis. Certificarmos que tomamos a medicação conforme prescrito. Seguir também os conselhos sobre alimentos e alimentação. Há muitos pratos que são saudáveis e saborosos.

Frustrações - Muitos doentes com esta doença crónica, passamos por fases difíceis, geralmente no início da doença, assim como no decorrer. Embora algumas pessoas possam mobilizar a sua energia e resolver a situação por si, muitas pessoas precisam de apoio.

Apoio - Lembre-se: que a sua família, amigos e a  equipa do seu centro de cuidado renal, estão sempre disponíveis e livres para si, se precisar de ajuda. O trabalho humanizado dos profissionais da clínica que trabalham com a multidisciplinaridade ajuda bastante e é fundamental. Esteja em contato próximo, eles irão apoiá-lo e aconselhá-lo.

Diálise e estilos de vida saudável - Além da terapia médica, um estilo de vida saudável é essencial para nos manter saudáveis e preservar o nosso bem-estar geral. Um estilo de vida saudável envolve uma ampla gama de fatores que, juntos, permitem que vivamos a vida ao máximo, tanto física como psicologicamente. Vida saudável, por exemplo, inclui atividades com amigos e familiares, comer os alimentos certos e fazer exercício sempre que possível. Qual a dieta ou o exercício físico ideal para cada um, depende de vários fatores, como as suas preferências, o nível da insuficiência renal ou o tipo de tratamento que está a fazer. É importante estar consciente das nossas escolhas de estilo de vida e optar pelas que irão permitir que nos façam sentir melhor.

Alimentação e nutrição - Comer os alimentos certos pode desempenhar um papel importante na proteção e manutenção de muitos dos sistemas vitais do corpo. Para doentes em diálise, isso é ainda mais importante. Uma dieta saudável é realmente essencial para si como doente em diálise. Mas isso não significa que a sua dieta deve ser aborrecida. Ainda há muitos alimentos saborosos que podem ser incluídos no menu.

Como os seus rins não funcionam com a capacidade total, pode precisar de ter cuidado com certos alimentos, mas na sua clinica de saúde há um/a nutricionista que irá aconselhá-lo sobre como lidar com essas questões. Provavelmente também terá que restringir a quantidade de líquidos que bebe para se sentir bem e gerir o seu tratamento de diálise com sucesso.

“Tenhamos fé, nós conseguimos, nós somos capazes, tenhamos força para enfrentar esse desafio!”

Para os dias bons, sorrisos. Para os dias ruins, paciência. Para todos os dias, fé…

 

Ilídio Bartolomeu

sábado, 12 de setembro de 2020

QUALQUER AMIGO DE ARGOSELO PODE CONTAR A SUA HISTÓRIA…

As exigências e desafios que são hoje colocados às pessoas são completamente diferentes do que eram no passado. Hoje uma pessoa deve ser capaz de abandonar os antigos dogmas e ser capaz de planear uma campanha pensando em primeiro lugar no bem comum, para depois na sua audiência.

A ideia aqui é apoiar quem, com ou sem tecnologia, apresente soluções para ajudar a promover a sua Terra, seja nas redes sociais ou por outros meios, para isso a pessoa deve ter: grande componente de argumentos, e bastante facilidade em arranjar histórias. Por outro lado pensar em produzir conteúdo e que saiba como o fazer chegar ao público,  para depois pensar nas audiências, e isso, é uma enorme vantagem.

O vídeo é o formato predominante atualmente. O Facebook, Instagram ou o YouTube favorecem nos seus algoritmos o formato de vídeo. Desta forma, ter um editor de vídeo é quase uma obrigação para uma pessoa deste tipo.

Uma análise cuidada permite perceber quais os conteúdos que funcionam da melhor maneira, e  há pessoas, que além de gostarem da sua Terra, são capazes de tornar um conteúdo interessante em algo viral.

Um abraço

Ilídio Bartolomeu

 

terça-feira, 1 de setembro de 2020

E TUDO SE PASSAVA ASSIM…

Entre Quintanilha e Vimioso é um território marcado geograficamente e historicamente, pelo Rio Maças. Região serrana por natureza, apresenta um típico relevo ondulante, proporcionando paisagens de distinta beleza, cheias de luz, vida e cor. Em tempos passados, foram inúmeras as atividades praticadas e desenvolvidas neste cenário de fronteira natural entre Bragança e Espanha.

 Este facto foi visto por alguns populares locais como um mundo de oportunidades, onde sempre existiu, trocas comerciais e laços afetivos que ajudaram a criar uma identidade local.

O contrabando foi a “arte” de comercializar às escondidas dos olhos da lei e dos governos, respondendo às necessidades e dificuldades das gentes raianas.

Alimentos básicos, foram transportados, pela calada da noite, de um lado ao outro da fronteira. Para além dos bens matérias partilharam-se sentimentos, conhecimentos e alimentaram-se sonhos.

Vivemos no “tempo” das memórias. Atualmente, com o crescente interesse pelo património cultural faz todo o sentido registar e estudar as “memórias” do contrabando numa perspetiva de melhor entender a identidade local e contribuir para a discussão do despovoamento do interior e especialmente nesta zona raiana. As gerações que viveram o contrabando tradicional desapareceu, perdendo-se a sua cultura e sentido de sobrevivência.

Era pelo silêncio da noite que cinco ou seis homens de Argoselo, percorriam os trilhos mais difíceis pelo mato e atravessavam as águas fronteiriças entre Nordeste e Espanha, com os quilos de ‘carga’ às costas.

Nestas décadas de 1930 e 1960, um conjunto de circunstâncias criou as condições ideias para se gerar um intenso contrabando entre estas zonas fronteiriças.

Café, amêndoa, farinha, ovos, grão, feijão, açúcar, bacalhau entre outros víveres, eram passados durante a noite para Espanha, que vivia as dificuldades da Guerra Civil (1936-39) e posterior regime, do General Franco. De lá, vinham para um Nordeste profundamente pobre e sem condições: tabaco, sapatos, alpergatas, perfumes, roupa, isqueiros… e outros bens que dificilmente circulavam num país debaixo de uma dura ditadura, o Estado Novo (1933-74)

E era assim, à luz das estrelas e ao som dos animais da noite, que estes homens se aventuraram, de forma intensa por mais de três décadas, para conseguirem fazer face às condições difíceis da vida de então. Na região, trabalhava-se no campo ou nas Minas de Argoselo e Coelhoso, outros emigraram. Mas mesmo alguns dos mineiros encontravam no contrabando um complemento para a vida difícil que levavam. Em todas as localidades raianas havia contrabandistas.

Entre as décadas de 1930 e 1960, o contrabando fez parte destas gentes, como forma de sobrevivência. E não há aldeia ou monte que não tenha histórias para contar.

Uma viagem pelos montes e aldeias da região e dois dedos de conversa com as pessoas de mais idade resulta em múltiplas histórias de outros tempos. De coragem, de dureza e de medo. Os Marroeiros e o Maribum, contrabandistas já falecidos, eram os mais conhecidos nesta atividade em Argoselo.

Nas combinações secretas nas tabernas, onde se originavam e misturavam sentimentos, interesses e sonhos, os contrabandistas que carregavam as sacas pesadas às costas, não transportavam só mercadorias que passavam a fronteira, levavam sonhos, fantasias e a ambição de uma vida melhor.

Também os contrabandistas  (designados passadores) orientados  por um guia conduziam grupos de homens e mulheres, por rotas pouco seguras e onde o perigo espreitava a cada esquina, ajudava os contrabandistas a passar a mercadoria entre os dois lados da fronteira.

À espera do grupo num local discreto e recôndito (normalmente num palheiro) já estava o “Patrão” e o angariador.

A agricultura é um trabalho duro e pouco rentável; sem o contrabando, a vida seria muito mais difícil. Era assim nos anos 60, em Trás-os-Montes. O contrabando era normal, praticado por muitos, mas só alguns tinham por vez o aval comprometido das próprias autoridades. Portugal estava sob a ditadura de Salazar e as fronteiras estavam encerradas. Sob chuva e frio, tudo era possível, mas não sob neve e gelo.

Ás vezes eram apanhados, os bens eram confiscados, e não ganhavam um tostão. O mesmo risco corriam os espanhóis com os Carabineiros que atravessassem  a fronteira em direção a Portugal, invariavelmente na posse de bacalhau e café, os principais bens de contrabando no sentido Espanha-Portugal. Ir e voltar podia levar toda a noite e no outro  dia era de trabalho no campo. Este era um esforço que faziam a troco de bom dinheiro. Era um crime, é certo, mas não era um pecado.

Por vezes, contrabandistas e elementos da Guarda Fiscal (um corpo de força pública organizado militarmente para o serviço de fiscalização, “eram como o cão e o gato” melhor dizendo: os carrascos destes homens fora da lei.

Hoje, todos aqueles que "passavam" mercadorias para Espanha têm mais de 75 anos. Alguns têm mesmo muito mais de 85. Consideram que apesar da abertura das fronteiras ter sido benéfica, todas as pessoas ficaram mais pobres. A região mantém-se fiel à pouca agricultura, e os rendimentos dos seus habitantes fiéis à legalidade. O contrabando existe ainda nas memórias dos mais velhos, mas o seu rasto perdeu-se. Mantêm-se os postos fronteiriços, abandonados, vandalizados, os marcos de fronteira, e algumas das rotas que servem, hoje em dia, outros propósitos.

Ilídio Bartolomeu