quinta-feira, 28 de abril de 2022

O HUMOR DO “TIO PENHAS E TIA DEOLINDA” 1



Inspirado na cultura popular de Argoselo, o Teatro “Tio Penhas”, nasceu, como uma pequena companhia de teatro amador do Bairro de Baixo, que pretende dar relevância ao diálogo entre saberes.

Foi fundado com o propósito de recuperar a tradição do falar das suas gentes. É uma história de resiliência e continuidade, onde a cultura popular de gerações resiste nas mãos de uns artistas que pisam o palco de botas altas com atacadores, de onde deriva o topónimo daquele lugar. É teatro feito na aldeia, comunitário e associativo, que pretende manter viva a identidade daquele lugar, enquanto espaço de criação, numa luta contra o desaparecimento do mundo dos peliqueiros.

 O grupo pretende “mostrar que é possível fazer teatro amador de gargalhada fácil, que é um lado, muito mais apetecível” pelas pessoas que gostam e vão querer mais.

Conta o actor “Tio Penhas “ que as pessoas genuínas do Bairro de Baixo já desapareceram todas, e com elas toda a sabedoria e conhecimento.  O ator afirma que cultura é uma expressão da construção humana. A cultura é construída através do diálogo entre as pessoas no dia a dia.

A nossa cultura está repleta de elementos e significados que identificam este povo como pertencente a uma determinada comunidade, diferenciando-a de outras comunidades.

 Só conhecendo a nossa própria cultura, compreenderemos a importância de mantê-la viva na memoria, protege-la e valoriza-la como forma de preservar o que somos, as nossas características e a  nossa identidade. “proteger não significa defender o isolamento ou o fechar o diálogo com outras culturas, mas sim encontrar meios de promover a sua própria cultura”.

Este artigo tem como objetivo apresentar a importância de conhecer e preservar na memória as raízes culturais de um povo, no sentido da afirmação da identidade e pertinência a sua região, nesse sentido, é primordial ter conhecimento e manter viva na memória as próprias origens

Com este tipo de cenários caricatos, o “Tio Penhas” procura que as pessoas se encham “de gargalhadas do início ao fim” O público gosta desta representação cómica para se  abstrair das coisas más da vida e serem felizes, mas também alertar para a consciência social e política.

Perante tanta riqueza, o grupo deste projeto é uma motivação trabalhada no seio de expressões, onde decidiram conceber o “Tio Penhas”, e a Tia Deolinda”  por serem umas figuras identitárias e animadas do Bairro de Baixo.

O resultado é muito além das expectativas, pelo impacto que tem no seio da comunidade que se envolve no espírito da iniciativa! Vale também muito pelos textos, porque não há aqui nenhuma ideologia política, há sim uma ideologia cultural”,

Não sei quem é a atriz que interage com o “Tio Penhas”, só sei dizer que faz fantasticamente o seu papel

Para o “Tio Penhas e Tia Deolinda” os meus agradecimentos e parabéns pelas interpretações feitas com muita genuinidade…


Ilídio Bartolomeu


quarta-feira, 27 de abril de 2022

sábado, 2 de abril de 2022

SER ARGOSELENSE!...

O facto de sermos argoselenses não é por si só condição para sermos argoselenses.

Mas então o que é ser argoselense?

Eu, que nasci em Argoselo, e vivi até aos 16 anos, tenho para mim que não chega possuir estas duas condições para se ser designado argoselense. Creio que existe algo mais, que caracteriza essas misteriosas pessoas, algo que nos traz recordações de um passado onde alguns se sentavam em pedras e blocos pesados de granito que formavam as escadarias frescas e que serviam para pôr a conversa em dia. Sentavam-se sujos do pó que haviam ganho nas terras duras e agrestes que os desafiavam todos os dias, repousando as mãos calejadas e fortes nos joelhos cansados de andar por entre estevas e giestas teimosas. Alguns, mais gastos pela vida, pousavam a cabeça e a coragem num pau feito à medida, e olhavam quem passava com uma ternura nos olhos e um cansaço na alma impossíveis de descrever.


A nossa vila é rica no seu passado, cheia de vigor no presente e certamente conquistadora no futuro. A nossa vila é História e feitos já alcançados, mas é também – e sobretudo – presente e futuro transbordantes de vontade de ir mais longe, de mostrar a esta região que iremos cada vez mais longe e melhor. Estou certo disso.

Mas depende de nós criarmos as condições para a nossa Vila desenvolver as suas potencialidades, de nós próprios mostrarmos o que realmente somos. Somos diferentes do resto da região e devemos ter orgulho nisso! As nossas gentes, o nosso ar, os nossos usos e os nossos costumes são o nosso bem mais precioso!

Devemos ter orgulho nos nossos velhotes que, com as dificuldades gravadas nos seus rostos, são uma imagem argoseleira, como as tradições e os nossos usos que são e serão sempre motivos de brio para todos nós.

Mas somos também jovens, que a cada passo se orgulham de Argoselo para o futuro, com a certeza e tranquilidade de um passado que nos enche de confiança e que faz com que possamos dizer que é um verdadeiro privilégio nascermos argoselenses e que assim encaremos o presente e construamos o futuro que almejamos.

Conhecer Argoselo é descobrir a ancestralidade de um povo

Falar da Nossa Gente é trazer à memória algumas figuras relevantes da nossa Terra.

Cada pedaço de terra esconde um segredo e cada pessoa tem uma história para contar. "A Nossa Terra, a Nossa Gente" pretende mostrar a alma da nossa região através de um conjunto de reportagens. 

Naturais de Argoselo, assumiram este como seu, destacaram-se ou destacam-se, deixando o seu legado em diferentes áreas. Mesmo correndo o risco de não serem todos citados, deixo aqui uma lista dos vultos que mais exerceram, uns influência na sociedade e outros típicos e bem humorados

Podendo cair em contradição, digo que bem lá no fundo todos argoselenses, mas, existe uma pequena diferença que nos afasta dos verdadeiros e puros argoselenses, e é essa diferença que nos dá tantas saudades da nossa aldeia, que nos faz recordar com mágoa aqueles que já foram, que nos faz ver a muito custo que essa aldeia envelhece, que nos faz chorar interiormente pelas mortes que vão levando os últimos resistentes…

Ilídio Bartolomeu

 

OS NOSSOS VELHOTES!...


Desde criança que os idosos me cativaram e sempre convivi com eles com muito carinho  e destaco os vizinhos dos meus pais com os quais privava mais de perto até aos meus desaseis anos. Apreciava muito as suas conversas e histórias de vida que me deixavam fascinado e muitas vezes pensativo, porque não entendia determinados factos que só mais tarde viria a deduzir a que se referiam.

Recordo que a maioria eram trabalhadores do campo (homens e mulheres) que trabalhavam até muito tarde. Não havia aposentações e só quando as forças começavam a faltar é que ficavam em casa.

Naqueles tempos as famílias eram habitualmente numerosas e alguns dos filhos estavam noutros países emigrados e  era estabelecida a periocidade em que ficariam na casa de cada filho, assim como a prestação de cuidados e alimentos.

Repartiam os seus teres e haveres e os filhos cuidavam deles com tudo o que podiam para o seu bem-estar. Muitos ficavam nas suas próprias casas, outros iam morar para casa de seus filhos. Outros  ainda  permaneciam uma semana, um mês, rotativamente em casa de cada filho.

Recordo-me que às senhoras mais idosas eram dados, para passar o tempo, pedaços de tecidos de roupas que já não eram usadas, que elas recortavam em tiras, que iam cosendo e com os quais dobavam novelos de trapo, como eram chamados. Esta atividade era normalmente efetuada sentadas à porta de casa aproveitando os raios do sol em sítios mais abrigados nos dias mais frios.

Esses novelos mais tarde eram trabalhados nos teares e davam origem a mantas e colchas que todas as famílias usavam. Lembro-me bem desse tempo! À porta dos meus pais, havia um desses teares.  

Era uma forma de reutilizar o que aparentemente já não tinha préstimo.

Veio-me isto à ideia, quando há dias vi junto dum contentor  do lixo um pedaço de tecido abandonado e lembrei-me do tanto desperdício que atualmente produzimos!

Compreendo que a vida hoje é diferente e há muita oferta e que muita gente não têm tempo para fazer os tais novelinhos com os quais poderiam tecer tapetes e muitas outras coisas de utilidade doméstica.

É mais prático ir aos armazéns dos chineses onde encontramos os novelos de trapilho que vieram substituir esta atividade.

Mas, neste tempo de confinamento que atravessamos, era talvez o ideal para remexer nos nossos armários e decerto nos surpreenderíamos com a quantidade de peças que poderíamos dispensar para os tais novelinhos e com eles criar artes para dar um toque diferente num qualquer recanto de nossas casas, além de outras utilidades diversas.

Ilídio Bartolomeu