Como um filho que não esquece as suas origens,
sigo atentamente, tudo o que vai acontecendo no
lindo e pacífico lugar onde nasci, cresci e vivi até aos 15 anos, os
mais lindos e puros sonhos da minha vida.
Refiro-me a sonhos, porque a vida é feita de sonhos e
eu sonhei muito, talvez desde muito cedo, quando comecei aprender a ler, e já
dizia que queria aprender a
escrever cartas ao meu pai e apontar as medidas que ele tirava aos seus clientes. Era
alfaiate
Uma aldeia que
apesar, de grande, tem diminuído muito a sua população residente, em relação ao seculo passado,
porque muitos tiveram que lhe dizer “adeus” e partir para outras regiões do
país, como eu, e muitos da minha geração, ou para o estrangeiro, à procura de
melhores vidas.
Argoselo, uma
aldeia do concelho de Vimioso - do distrito de Bragança - com um passado
histórico muito rico, perto à fronteira, mas que como tantas outras por essa
raia fora - tem vindo a emagrecer.
A
Vila retrata uma sociedade de 1965, extremamente coletivista, na qual
todos colaboram, vivendo de forma harmônica e preservando sentimentos bons e
puros, principalmente a inocência.
O desígnio de
criar a vila veio de um grupo de pessoas, que, infelizes com suas vidas na
aldeia, resolvem morar numa Vila.
Há quatro anos que eu não visitava a Argoselo,
por questões de saúde, quando cheguei ao cruzamento de São Bartolomeu, e
comecei a descer para a Vila, exclamei! Será que estou a entrar em Argoselo? Por um
momento achava que não, o que vi gostei! fiquei orgulhoso, agora sim; Argoselo
tem um cheirinho a Vila. Hoje reconheço que essas pessoas começam a ter razões…
Em muitas
aldeias de Vimioso os habitantes contam-se pelos dedos das mãos. Estão
habituados a percorrer quilómetros para chegar onde é preciso.
Na Vila de
Argoselo, moram entre 400 ou 500 pessoas durante todo o ano, metades estão
reformadas. As casas habitadas intercalam-se com outras tantas de portas
fechadas ou em ruínas. "Entre 1961 e 1968, havia muita gente, porque “em
cada família eram muitos”, mas “emigrou praticamente tudo”. Atrás de uma vida
melhor".
Apesar do
esvaziamento da povoação, os que aqui vão ficando acreditam que a Vila "ainda tem muito para dar". "Estas
casas podem ser restauradas”. “Isto não é para morrer", garantem as
pessoas, que olham para
o despovoamento com alguma melancolia. " Muitos dos que estão fora, gostam
de vir passar aqui uns dias, mas só isso, ninguém quer viver cá", lamentam
O abandono, desertificação
populacional e falta de jovens são sintomas de uma depressão demográfica que é
um cenário predominante nas aldeias trasmontanas. É o resultado de anos de uma
conjugação de fatores: “declínio da fecundidade, aumento da esperança média de
vida e emigração, territórios onde não nascem crianças, onde os jovens saem e
onde os que cá estão, estão cada vez mais velhos e a viver mais anos.”
A Vila de
Argoselo é para quem precisa de fugir de vidas agitadas ou de dias rotineiros.
É para quem quer sentir a força da terra e da natureza. É para quem
valoriza o silêncio. É para quem gosta de caminhar. É para quem tem tempo para
conversar com quem aparecer. É para quem procura conhecer tradições É para quem
não se aborrece em terras tranquilas ou sabe tirar prazer do aborrecimento. É
para quem tem saudades de andar descalço no campo.
Não pretendendo
fazer uma lista com o que fazer na Vila de Argoselo – nem tampouco fazer alguma
critica. É, tão somente, um registo de espaços de que eu gostei, cuja visita
recomendo a quem estiver de passagem por Argoselo.
Na minha
recente visita a Argoselo no mês de julho, acabei por dividi-la entre o São
Bartolomeu e a Vila. De tudo o que tive oportunidade de ver, destaco a entrada
com os respetivos passeios para a Vila.
Eu tinha um
pressentimento de que um dia a Vila de Argoselo e a realidade; encarregar-se-ia
de comprovar esse feeling.
Dito isto, se
fosse hoje talvez tivesse ficado sempre na Vila de Argoselo, para poder
usufruir do ambiente de vida que por lá se vive.
Continuo
interessado em preservar o que de melhor nos legaram os nossos antepassados e
dar-lhe vida, criar novas formas de atrair as populações de todo o país,
valorizando o nosso Património material e imaterial.
Ilídio
Bartolomeu