Rua Principal de Argoselo anos 60 |
Tal como gosto que leiam o que escrevo, porque partilho a escrita e o pensamento com os meus leitores, sobretudo quando mais próximos, que me incentivam a escrever, me dão ideias, me abordam e presenteiam com comentários, sinceros, são esses que eu valorizo, naturalmente, também gosto de ler quem escreve bem, tornando-se uma mais valia para mim, para a minha motivação, para o sentir criativo do meu imaginário, das saudades… do passado.
Acredito que
ninguém conhece melhor a sua aldeia que aqueles que lá nasceram e cresceram. Nasci
numa aldeia onde as ruas cheiram a sol torrado no Verão e a lenha queimada no
Inverno. É uma aldeia como qualquer outra, mas tem o seu quê de especial
já que mais não seja pelo seu nome, quanto a mim, peculiar – Argoselo. Nasci lá
por imposição da minha mãe a quem não passava pela cabeça que os seus filhos
pudessem ter outra naturalidade diferente da sua. Gosto de regressar sempre que
posso a Argoselo, ver a humilde casa dos meus pais. Gosto de matar
saudades dos cheiros. Nada cheira como a nossa aldeia, nada cheira como a nossa
casa da terra!
Na minha aldeia
os velhos no verão ainda espreitam sempre que podem a sombra nos bancos da
Capela de Santo Cristo, contam as
mesmas histórias de sempre. Mas gosto deles
assim, lembram-me a minha mãe sentada numa pedra abrigada ao sol de inverno
encostada ao chafariz da Praça, que
naquele tempo existia. a fazer na meia... Nasci em Argoselo mas sou do Estoril.
Talvez por isso não consiga também viver sem o rebuliço desta grande Freguesia,
do trânsito infernal, da confusão das ruas, do stress que se adivinha em cada
pessoa com quem nos cruzamos. Mas este texto não é dedicado ao Estoril.
Lembrei-me da minha Terra!!! Quando me canso de ensinar e de repetir as
palavras preciso de vir. Venho muitas vezes. Aqui o tempo é outro, nem depressa
nem devagar, apenas cheio de sentido. Não me perguntem porquê!!!
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O Largo da Praça anos 60 |
Dispenso-me de
grandes apresentações. Já noutras alturas me demorei sobre os encantos deste
lugar imperdível. Não vem no mapa, não se fala das suas gentes, não se lhe
conhecem artefactos históricos.
O Planalto de
São Bartolomeu, é apesar disso, um dos Santuários de paz de onde dificilmente
saio a pensar nos problemas do costume. Aqui apetece somente o fervilhar do
verde, apetece a respiração pura, avista-se com facilidade o horizonte leito do
Rio Sabor, é uma vista
maravilhosa, tudo isto é belo é digno de ser visto e possui o
seu inegável ar bucólico. Muitos, que assim pensam, vêm aqui em romagem para o
retrato da praxe. Por estas bandas há também as lendas, as deliciosas fantasias
que nem o desgaste dos tempos apagou. Há as tradições, as boas tradições que a
distância de muitas das suas gentes tornaram mais sagradas.
Afinal, há mais
gente que tem apelo das raízes e que concretiza a vontade e os sonhos de
voltar, de lá estar, de conviver e partilhar. De rever os amigos, os
familiares. De viver o desejo, de pisar chão, de sentir o cheiro da terra,
agora já misturada com o alcatrão. O odor dos animais, o cheiro a feno, e
muitas outras coisas mais, que nos transportam para um pensamento que nos faz
recordar vivências de um outro tempo, já sem tempo.
Lavadouro da Espadana |
Não poderemos
ficar no domínio das ações apenas, mas teremos que passar ao reino das paixões,
de todas aquelas afeções nascidas na alma e que têm no corpo o seu palco: a
alegria, o amor, a admiração, a glória e seus opostos. Por isso, o que
oferecemos são memórias de pessoas e lugares, histórias quase reais, em que
nunca saberemos onde começa a realidade e acaba a ficção. Importante mesmo é
que motivemos o querido leitor a puxar pela memória, pela sua memória para
poder «contar a si mesmo a sua própria história».
“Um blog
perfeito que nos diga tudo é um blog inútil”. Esta é a boa razão que me levou
ao atrevimento de poder apresentar-lhe este blog imperfeito, pedindo-lhe a si,
leitor, que o corrija, cortando, acrescentando, discordando tanto quanto for
necessário para «salvar a interpretação do seu conto». À medida que for lendo,
contará a sua própria história reconstruindo a viagem que o levou até onde se
encontra agora. Todos temos um paraíso perdido que é todo o tempo passado com
tudo o que nele ficou marcado. A maior parte talvez tenha perdido o lugar onde
nasceu, talvez uma aldeia como Argoselo e, no meio de todas as casas, a casa
onde nasceu. E essa ficou para sempre a ser A Casa. A casa que um dia teve de
deixar. A casa está na nossa memória como a conhecemos.
Festa de São Bartolomeu 1973 |
E se eu não
esqueço a “minha terra”, a casa onde nasci e cresci, que me faz recordar
um passado feliz e tudo o que ali vivi, obviamente que não posso esquecer as
festas do mês de agosto.
E, aqui, não
posso esquecer que, se os meus pais me incutiram, entre outros, os valores da
identidade e da disponibilidade para colaborar com a comunidade, não é menos
verdade que me sinto muito feliz por perceber que, pela minha gente
tudo isso é vivido com especial afetividade, o que vai certamente, sustentar a
obrigação da continuidade.
Ilídio
Bartolomeu
Olá !
ResponderEliminarE é pena que a juventude actual não possa sentir estes prazeres. Penso que seriam diferentes!. PC´s, Telemóveis e outras tecnologias, são os divertimentos actuais!.Obrigado por este lindo texto, espetacular!.....
A nossa terra sempre teve a educação de bem receber, dar e agradecer.
ResponderEliminarÉ isso que "quase" marca a diferença, a sua autenticidade e de apesar de uma grande aldeia, manter os seus pergaminhos.
Terra aonde todos se conheciam e ainda se vão conhecendo.
Aqui entra o "quase", por não serem todos, alguns renegam as suas origens de sucessores de gente humilde, como que envergonhados, outros tentam ganhar algo com a sua história.
Pelo menos ainda tiveram a "coragem" de se esconderem pois nunca deram algo de digno à nossa terra e já se aperceberam que gente honrada não gosta de erva daninha..
"Terra de gente trabalhadora, humilde e corajosa"
Parabéns, caro Ilídio Bartolomeu, por mais este belo texto que, connosco, partilha. Mudando o cenário, o da nossa infância e o atual, o seu texto poderia ter como autor centenas, se não mesmo. milhares, de outras pessoas que, como o Ilídio, demasiado cedo - mas eram as condições e situações da época - deixaram a sua terra, o seu torrão natal. Foi esse também o meu caso, como, certamente, o de muitos outros nossos conterrâneos, tenha sido sair da nossa terra para uma cidade do litoral ou mesmo do seu país para o estrangeiro - foi este o caso de outros menos afortunados que nós. Hoje, vivemos a ambivalência, essa cisão interior, que tão bem descreve, entre o passado e o presente, a infância e a vida adulta, quiçá mesmo a entrada na velhice, entre a terra e/ou país onde nascemos e aquela/e onde agora vivemos e onde passamos a maior parte da nossa vida. Porém, quando nos perguntam qual a nossa terra, tenho a certeza que todos nós diremos ser aquela onde nascemos e passámos a nossa infância, aquela/e a que os laços familiares nos ligam e prendem. E, sempre que podemos - talvez não tantas vezes como desejaríamos - lá vamos nós matar saudades dos nossos familiares, vizinhos e amigos na localidade onde estão as nossas raízes. Um abraço.
ResponderEliminarCorrijo de "(...) autor centenas, se não mesmo. milhares, de outras pessoas (...)" para "(...) autor centenas, se não mesmo milhares, de outras pessoas (...)"
ResponderEliminarOLA ILIDIO e com muita atencao que leio as tuas pubilcacoes que escreves no teu site de Argozelo pois na proxia vez deves escrever sobre a nossoa estadia curta na floresta em Montezinho no ano 1961 penco que esta data esta correta sobre o tio CACOLEIRO . um abraco meu chicao
ResponderEliminarAgradeço os comentários.
ResponderEliminarAdoro tudo o que Argoselo tem de bom e lindo. E, também adoro fazer este trabalho! Aos poucos e poucos aprendi muita coisa, já fiz alguns erros, mas consegui algo que me dá muita satisfação: um instrumento de comunicação onde guardar pedacinhos da nossa história e onde se revive aquilo torna Argoselo tão especial.
Só tenho pena que muitas coisas hoje bonitas percam toda a beleza, se não existir vontade, para a cuidar.
Obrigado a todos
abraços