O TRONCO |
Sendo o gado bovino,
asinino e cavalar um auxiliar precioso para os trabalhos do campo, depressa o
povo concluiu que lhes tinha de proteger os cascos, o que deu ao proliferar nas
aldeias de um equipamento fundamental importância: o "Tronco" que servia
para ferrar o gado do trabalho.
O tronco tal como a própria designação indica, consistia numa estrutura de
madeira, de quatro pilares obtidos através de troncos, dois deles com orifícios
onde se fixava uma pequena armação em madeira, em forma de jugo, onde era
metida a cabeça do animal quando vinha a ferrar. A estrutura cingia-lhe os
movimentos, permitindo ao ferrador executar o seu trabalho, evitando coices e
cornadas.
Houve três em Argoselo.
O mais antigo de que há memória era na praça; o outro ficava nas
quatro esquinas e o outro perto da escola velha.
No largo do tronco fizeram o tronco, que servia todos os lavradores de Argoselo.
Ainda existiu até aos anos 70.
O ferrador da praça era o tio António da (Prina), (já falecido), uma pessoa muito entendida em
animais, com conhecimentos de veterinário popular, formado na universidade da
vida, por isso chamado também sempre que algum animal doméstico sofria acidente
ou tinha um achaque. Exemplo, quando as vacas se engasgavam com uma batata
entalada na goela, lá vinha o tio António da (Prina)...
O ferrador das quatro esquinas, por acaso com o mesmo nome, tio António e que viria a casar com a viúva tia (Prina) era um ferreiro mais aprimorado e mais conhecedor da Profissão, também já falecido.
Trabalharam no tronco a "calçar" e cuidar dos animais dos nossos antepassados.
O ferreiro da escola velha, o tio (Fachoquinho) já falecido, além de fazer ferraduras
para os animais, fazia outros utensílios para agricultura.
Bem-hajam!
TROCAR DE FERRADURA |
Cavalos, burros e machos, animais com casco único, levavam ferraduras,
seguras com cravos que entravam a martelo. Já as vacas, animais de dois cascos,
eram aplicados canelos, igualmente seguros por cravos.
Imobilizados os animais, o ferrador tirava a ferradura velha com uma
grande turquês. Depois cortava com um formão um pouco do casco. Alisava o casco
com uma grosa e aplicava-lhe a seguir com grandes marteladas uma nova
ferradura, ajustada ao tamanho e unha do animal. Com um martelo espetava os
cravos - uns pregos que eram enfiados em buracos da ferradura de modo oblíquo
relativamente à pata. Depois cortava e limpava com uma grosa as pontas dos
cravos que saiam do casco.
Existe uma expressão relacionada com o ofício de ferrador "dar
uma no cravo e outra na ferradura" que significa dar um golpe certo e
outro não, dizer duas coisas contraditórias.
Naquele tempo, nos animais sujeitos a muito trabalho, os cascos dianteiros
tinham de ser ferrados de quinze em quinze dias, não só por trabalharem
todo o santo dia, mas devido também ao esforço desses animais
na tração dos carros pelos caminhos pedregosos. Mas havia lavradores que
não levavam ao tronco os seus animais com esta regularidade. Como em quase
todos os lares havia pelo menos um animal de tração ou carga, o tempo de
espera para ferrar os animais, chegava a ser algum tempo.
As ferraduras
tinham de ser mudadas ou ajustadas com regularidade, para que os animais
andassem confortáveis nos terrenos e caminhos mais duros da serra
Enquanto esperavam, conversavam entre si, perto do tronco, ou então iam até
à taberna Os troncos de ferrar eram locais de convívio aonde servia para contar
e ouvir histórias e novidades.
Foi com a preciosa colaboração das minhas memórias: que fiz este artigo
sobre um "património menor", porém de uma funcionalidade e de um
saber-fazer importantíssimo.
Ilídio Bartolomeu
E agora onde vão ferrar as mulas e burros, os ferreiros morreram não há quem faça esse serviço. O senhor Ilidio lembra-se de cada uma É tão bom ler os seus textos
ResponderEliminarobrigado