Há quantos anos? Há cinquena? Há sessenta?
Experiências da
infância e da adolescência costumam ficar marcadas na nossa memória.
Naturalmente, há aquelas que até desejamos esquecer, mas a maior parte daquilo
que vivemos nessas fases da vida têm significado especial. Brincadeiras de
criança, namoricos da escola, presentes de Natal, almoços de domingo, festas de
aniversário. São recordações indeléveis, que nos ajudam a escrever capítulos
importantes da nossa história.
Já tinha começado a emigração, já havia tratores. O tempo do carro das
vacas com a dorna em cima já tinha dado o lugar ao trator e aos bidons.
As vindimas era um tempo de muita alegria, trabalhava-se de graça com
comida abundante, enchia-se a barriga de cachos e bebia-se o mosto. De
recordação tenho os bolos de bacalhau, enquanto comíamos o patrão, com uma bola
de cêbo de porco, vedava a dorna que teimava em deixar escapar o sumo da uva.
A vindimas são uma época do ano especial, que abrange todas as
atividades que decorrem entre a apanha da uva e a produção do vinho. Estas
ocorrem entre setembro e outubro, quando as uvas já estão maduras. Quando os
pés das uvas estão murchos e as peles dos bagos começam a encolher, estas estão
prontas a serem colhidas.
Recordo com
saudade as vindimas da minha infância e da adolescência, a atividade intensa
salpicada de alegria e de constante boa disposição. Era um trabalho
em que toda a família se envolvia, era um ato de amor e de união, o reencontro
de amigos, um trabalho partilhado em sintonia e harmonia. Um sorriso
fácil, um abraço de conforto que matava a saudade, uma autêntica celebração!
Contavam-se histórias, havia conversas de mal dizer, assim como se
cantavam modas da época e se namoriscava com a rapariga ou rapaz do
agrado de cada um.
Fizesse sol ou chuva, a apanha das uvas começava bem cedo para
aproveitar todas as caraterísticas de cada cepa. As pessoas distribuíam-se
pelos valados e apanhavam os cachos de uvas à mão ou cortavam-nos com
ajuda de um canivete ou de uma tesoura, processo, ainda, utilizado nas
vindimas.
Depois de uma manhã inteira a vindimar, chegava o descanso merecido
com um almoço nutritivo, sempre em ambiente de festa. Desses almoços tenho
saudades do sabor da espanholada e aromas inconfundíveis das sardinhas assadas
na fogueira feita com vides. Sabores e cheiros que nunca mais os vivenciei!
Todo este
ambiente era um verdadeiro manjar para as atarefadas abelhas que procuravam o
néctar nas doces e suculentas uvas ou nas saborosas sardinhas. Dessas não tenho
saudades, visto que fui mais de que uma vez ferrado.
À noite, o trabalho e as celebrações continuavam, nos lagares de pedra, onde homens e rapazes, de calções ou calças arregaçadas, em roda, davam os braços e ao ritmo da música da rádio, pisavam as uvas colhidas ao longo do dia.
Primeiro era o
corte, em que os homens, com os braços nos ombros uns dos outros, esmagam
as uvas, sem deixar nenhum centímetro quadrado por pisar.
Após a fase de
fermentação que durava várias horas, mais de vinte e quatro, o lagar era
novamente trabalhado. Era pisado para que a parte sólida, que se formava na
superfície do lagar, se misturasse com a parte líquida e haver uma maior
extração de cores, aromas e sabores.
Por fim com o
grau alcoólico atingido, deixava-se, por algumas horas, o lagar descansar para
que a parte sólida ficasse à superfície. Depois abria-se a torneira na base do
lagar e o mosto era transferido para pipas ou tonéis de madeira.
No meu caso, as férias grandes eram acima de tudo a grande oportunidade de ler. Adorava histórias de príncipes e princesas, fadas e bruxas, em que o bem triunfava sobre o mal e o amor saía sempre vencedor. Gostava também das histórias de animais personificados, quase sempre começadas por: “Há muito, muito tempo, na época em que os animais falavam…” Nessa altura era utente assíduo da Biblioteca Itinerante Calouste Gulbenkian, que nos visitava regularmente. Aos seus abalizados funcionários devo o gosto que ainda tenho pela leitura. Foram eles que muito contribuíram para esta minha paixão pelos livros e pela escrita,. Recordo que simpaticamente me aconselhavam os livros adequados à minha idade e me deixavam trazer mais dos que os permitidos.
As férias na
praia só as tive na idade de adulto, quando fui para o Estoril. Não são as
minhas preferidas! Mas adoro passear à beira mar, chapinhar na água, pontapear
as ondas e saborear e cheirar a brisa marinha! Apraz-me observar o sol
espraiar-se no mar e criar um resplandecente por do sol em tons de
laranja e amarelo! Gosto de apreciar a beleza do verde e do azul do mar
e sonhar com as terras distantes e os lugares recheados de magia que são
banhadas por aquelas águas imensas! Como gostaria de viajar na crista das ondas
e ser transportado para essas aventuras fantásticas e encantatórias.
Como gostaria
de regressar aos verões da minha adolescência, em que tudo era simples e muito
feliz, mas eu não o sabia.
De todos os trabalhos do campo, a vindima era aquele que eu mais gostava,
pelos momentos de alegria e emoção.
Blog Freixagosa
Fiquei encantada, que maneira de viver maravilhosa.
ResponderEliminarGosto imenso da vida do campo, apesar de saber que é dura.
Felicidades
Eu tenho a sorte de poder acompanhar e participar em todo este processo, é um pouco duro, mas mesmo assim aconselho a experimentarem pelo menos uma vez, é uma experiência verdadeiramente enriquecedora. O Ilidio detalhou muito bem todo este processo
ResponderEliminarParabéns