Já se referiu a
influência do Castro de Avelãs na decisão das culturas agrícolas a trabalhar
por estas paragens e como a mudança de paradigma, trazida pela chegada dos
judeus, criou a tensão necessária à mudança.
Cereais, vinha
e oliveira foram elementos dominantes na paisagem rural cultivada no país,
desde as origens e aqui não foi exceção.
Falarei mais
tarde na importância dos cereais como moeda de troca referindo, por agora, que
o cultivo de trigo e centeio, por estas paragens, não se remeteu à alimentação
pelo fabrico do pão, mas a formas de transação de bens e pagamento de impostos,
tendo em conta que as moedas tinham um valor elevado para o quotidiano rural.
A importância
dessas sementes era tal que, até ao séc. passado, a maior parte do terreno
cultivado reservou-se a esta cultura. Na generalidade os campos eram abertos,
isto é, sem qualquer tipo de muros e campos praticamente limpos de árvores,
cultivados em regime de afolhamento bienal, com duas folhas, uma ocupada pelo
cereal (maioritariamente o centeio, mas também algum trigo) e a outra deixada
de pousio para pastos. Muito associado a práticas comunitárias e a direitos
coletivos, este sistema era complementado por uma estrutura individualista de
prédios fechados de regadio, implantados junto dos povoados, com hortas,
árvores de fruto, vinha e lameiros.
Esta
dependência económica, quase exclusiva dos cereais, trouxe miséria em anos
escassos e sucumbiu à desvalorização em anos de fartura.
A introdução da
vinha, exemplo bem conhecido do vale do Douro, fez-se em terrenos incultos,
assim como a oliveira que em Argozelo surgiu nas encostas íngremes e não na
denominada “faceira” para manter a área de sequeiro.
No séc. XVII as
exportações de vinho fizeram crescer o seu valor económico e o azeite foi
utilizado, em Trás- os- Montes, na produção de sabão.
Cabe aqui uma
referência a outras culturas que constituíram parte, embora em menor expressão,
da paisagem agrícola como a figueira, macieira, pereira e o cultivo de hortas.
Estas, apesar de ocuparem uma área limitada da superfície agrária,
desempenharam um papel extremamente importante na satisfação da subsistência
alimentar quotidiana.
Na segunda
metade do séc. XVIII deu-se a introdução da batata, pela alta de preços dos
cereais e pelas crises de subsistência da época. No início do séc. XIX a sua
utilização na alimentação foi generalizada.
Indica-se outro
alimento que, apesar de introduzido no séc. XVI, foi neste período que
encontrou rápida divulgação – o milho maís (não o painço). A sua elevada
rentabilidade levou à “revolução do milho” com aplicação de técnicas de regadio
que trouxeram à agricultura intensiva, de expressão ténue por estas bandas
considerando as vicissitudes climáticas.
A paisagem
agrícola, como se viu, não é estática ao longo do tempo – molda-se aos sabores
da economia e do clima. Hoje encontra-se paulatinamente abandonada, até
quando!?
Faltou referir
o castanheiro e a amendoeira, um casamento que está a viver uma história um
pouco atribulada. Veremos se não resulta em divórcio.
Escrito por
Luiz Rodrigues
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