terça-feira, 7 de novembro de 2017

COFLITOS ARMADOS!


Mais uma História sobre Argoselo que vem no seguimento de personagens que contaram histórias mais ou menos reais, que se intitulavam “José Vasconcelos”. Tive curiosidade em saber mais quando para minha surpresa, remete para alguém falecido há 76 anos e que está ligado à História da nossa querida terra! Leiam com o interesse que melhor vos aprouver.

José Leite de Vasconcelos era beirão de nascimento. Nascido muito próximo da fronteira sul da área dos dialetos transmontanos e alto-minhotos (Cintra e Rei:1993) portanto, com conhecimento científico e empírico de algumas particularidades dialectais que pretendemos tratar. Nasceu na localidade de Ucanha, Mondim da Beira, a 7 de Julho de 1858, e viria a falecer em Lisboa, a 17 de Maio de 1941.

Como Autor de obra vastíssima, é considerado um linguista, filólogo e etnógrafo.
Algumas das suas obras que constam da bibliografia das notas monográficas do concelho de Vimioso: Religiões da Lusitânia; Estudos de Filologia Mirandesa, 1900, 2 volumes; O dialecto  Mirandês, 1882; Línguas raianas de Trá-os-Montes, 1886; Flores Mirandesas, 1884; Silva Mirandesa, 1903; Dicionário da Corografia de Portugal, 1884. Na página 42, pode ler-se e passo a citar Adrião Martins Amado:

“Li há pouco na página 315.ª da Etnografia Portuguesa do Dr. J. Leite de Vasconcelos o seguinte: «Argozelo, em Trás-os-Montes, compõe-se de 3 bairros principais: de Cima, de Baixo, do Latedo: o primeiro e o segundo acham-se ligados entre si e unicamente o terceiro fica algo afastado numa encosta, para lá do riacho do Prado, que corre num vale. Os bairros de Cima e de Baixo habitam-nos lavradores e comerciantes, e num deles ergue-se a igreja matriz: o do Latedo ocupam-no Judeus (há muitos em Argoselo como se dirá a seu tempo).

Não sei onde o sábio autor colheu tais informações. Não foi, decerto, em escritos do Prior Miranda Lopes que, enviando informes sobre a nossa terra natal para o Dicionário Corográfico de Portugal Continental e Insular, disse: «O bairro-do-latedo, o mais pequeno da povoação, pois tem apenas nove fogos. É também antigo» - E ainda: (sublinhado e negrito meus) alguns escritores, levados por falsas informações, imperfeitas observações e ligeiras operações antropométricas, afirmam que em Argoselo predomina a índole, o carácter e o tipo da raça semita e que há aqui mil cripto-judeus. É leviana e falsa uma tal afirmação. Em época muito remota, vindos de Espanha, abordaram efetivamente a Argoselo alguns judeus; mas foram logo perseguidos pelas autoridades e naturais do lugar que nem sequer os admitiam nos cargos e funções públicas, chegando a haver entre uns e outros conflitos armados, ficando vencedores os naturais do lugar; e se alguns aqui ficaram, converteram-se e talvez nem chegassem a constituir família, porque os naturais do lugar não uniam a eles pelos laços do matrimónio.

«Note-se também que Argoselo foi terra de muitos padres, mesmo durante a época em que a perseguição aos judeus era violenta. Só nos livros do registo paroquial de 1751-1800 encontrámos notícia de 28 sacerdotes naturais desta freguesia. Ora é sabido que nos processos de ordenação eram excluídos, até à quarta geração, todos aqueles que fossem judeus os descendentes da sua raça. Na árvore genealógica de cada indivíduo, até ao quarto grau, entram oito troncos ou oito famílias ou dezasseis pessoas. Multiplicando esse número por 28, temos nos processos daqueles sacerdotes 448 representantes de famílias de puro sangue cristão – e isto na altura em que esta povoação tinha apenas 150 familias».

Por tudo isto conclua-se: o Latedo de Argoselo nunca foi ocupado por judeus. (final de citação)

A ser verdade que José Leite Vasconcelos recebeu a informações do Prior Miranda Lopes que alertava para alguns escritores, levados por falsas informações, imperfeitas observações e ligeiras operações antropométricas, afirmam que em Argoselo predomina a índole, o carácter e o tipo da raça semita e que há aqui mil cripto-judeus. É leviana e falsa uma tal informação.”

Falsas informações (de quem?) imperfeitas observações (por quem?) e ligeiras operações antropométricas (já se podia fazer outro tipo de medição?) Quem tinha interesse em veicular essas falsas informações?

Por que razão o Prior Miranda Lopes classifica de “leviano” e “falso” o indício que Argozelo foi terra de mil cripto-judeus? O que terá José Leite Vasconcelos levado a desconsiderar tal informação? Não seria credível a fonte? Estaria a mentir? Se sim - com que pretexto?
É desconcertante, no seguimento da explanação do religioso, ter referido que “ Em época muito remota, vindos de Espanha, abordaram efetivamente a Argoselo alguns judeus; mas foram logo perseguidos pelas autoridades e naturais do lugar que nem sequer os admitiam nos cargos e funções públicas, chegando a haver entre uns e outros conflitos armados(…)” Conflitos Armados?! Como foi possível? (tipos de armas, número de feridos e mortes)

Uma invasão de judeus hostis que tiveram de ser rechaçados por bravos lavradores crentes em Cristo armados de machados, foices, espalhadouras e calagouças e até estadulhos!?

Uma brigada de infantaria de proteção das fronteiras do Reino, numa incursão não programada tratou de despachar à bastonada homens, mulheres, jovens e crianças de igual forma e mandaram os judeus todos para Carção? Será que foram aceites numa primeira fase e depois, por já não terem dinheiro para os vícios fora expulsos das tascas e mandado para Carção?

Mais à frente (P. 45) referem-se queixas de cristãos velhos aos representantes da Igreja pelos cristãos novos pegarem nas varas do palio nas procissões do Santíssimo Sacramento. Coitados, se vissem a falta de pessoal que há hoje para levar o palio não se queixavam tanto!

Está aqui matéria deliciosa para uma peça de teatro – em Argozelo sempre foram muito dados a essa arte.

Escrito por

 Luiz Rodrigues


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