Gosto de
Argoselo. terra dos meus pais e onde eu nasci. Terra de boa gente, gente
simples, humilde, honesta e trabalhadora. Foi em Argoselo que passei parte da
minha infância e férias de verão na companhia dos meus pais. Lembro-me do
reboliço do mês de agosto, juntos com amigos e os demais. Tenho
saudades desses tempos, mas tenho ainda mais saudades dos meus queridos pais.
Nesta terra
linda, onde o tempo passava devagar, fascinava-me ver as portas sempre
abertas, francas como as suas gentes, onde ainda vive um dos meus irmãos,
amigos e primos que não se deixaram seduzir pelo encanto das cidades.
Ontem ao ler um
artigo dum amigo vieram-me à memória estas recordações. Boas recordações…
Mas este mesmo
artigo transportou-me para um outro mundo que nos parece tão distante no
tempo, mas que continua a ser uma realidade passados 50 anos. É verdade.
“Algumas coisas continuam iguais”.
Os argoselenses
estão fartos de apresentar reclamações. Fizeram-no várias vezes, sempre sem
sucesso, junto das mais diversas entidades e instituições,
Todos ouvimos
apelos à necessidade de investimento no interior do País de modo a que diminuam
as assimetrias entre o litoral e o interior, em nome de uma coesão territorial.
No largo da
praça, no centro da Vila de Argoselo, quatro homens lembram os 50 anos de
ditadura e os tempos em que não se podia dizer que se ganhava pouco ou que se
tinha fome. Quem dissesse isso, se chegasse aos ouvidos das autoridades, que
nessa altura eram os Regedores ou a Guarda Republicana, ia logo preso para
interrogatório, explicavam para surpresa de três jovens que contestavam a
situação da sua vida. A gente aqui não tem emprego. Isto está muito mau, diziam
os rapazes com os seus 20 anos de idade que passam os dias na rua à espera de
um emprego que tarda em aparecer. O desemprego é uma das maiores preocupações
da freguesia que continua a ser difícil encontrar, a criação de um polo de
desenvolvimento industrial com pequenas oficinas, era uma necessidade imediata
para travar as famílias, mas não a única.
O
presidente da junta, o “Tio Carilhas” na altura e os que lhe sucederam até aos
anos 50, sublinhavam a renovação das acessibilidades municipais uma ponte do
Rio Maças e a continuação da estrada Carção Vimioso, eram fundamentais, porque
para ir de carro nesse tempo a Vimioso tinha-se que ir por Outeiro Pinelo,
dava-se uma grande volta 55 quilómetros para tratar de algum documento.
Precisávamos de
vias, referiam os presidentes de junta de freguesia, dessa altura, mas nada
podiam fazer, pelas circunstâncias e outros fatores designadamente
autoritárias. Argoselo era a maior freguesia do que a própria Sede de Concelho
Vimioso, e a do distrito de Bragança.
Hoje, o que
verdadeiramente seria muito importante para Argoselo era a continuação do troço
Outeiro Vimioso, que como se sabe certas pessoas absolutistas se opuseram em
que hoje estivesse feita. Populares e juntas de freguesia, depois do 25 de
Abril, têm reconhecido que quem decide tem sido bastante prejudicial à
freguesia, mas então não deixaram de ser até à data a mesmíssima coisa, um
desinteresse total pela sua Terra...
Durante muitos
anos as famílias da maioria dos mil e quinhentos habitantes, várias gerações
trabalharam nos campos em culturas de sequeiro e outros. As Minas também deram
trabalho e alimentavam algumas famílias, porque o desespero morava na
freguesia, outros dedicaram-se aos negócios das peles e tudo que lhes aparecia,
porque “ninguém era feliz sem trabalho”.
Hoje a
população a maior parte está envelhecida e, por isso, o Lar, foi bem-vindo. É
acolhedor, mas já não é suficiente. Os mais jovens reclamam ocupações e a
descentralização de iniciativas por parte da autarquia. Espaços de lazer como a
tão prometida em leitarães pelo Francisco Lopes, ficou só na promessa. Uma das
maiores riquezas de Argoselo, é a sua gente trabalhadora, honesta e
hospitaleira. Duas associações dão vida à freguesia com atividades desportivas
e culturais.
Os casais mais
jovens que têm resistido à desertificação saem de manhã e regressam à noite,
trabalham em Vimioso e Bragança.
Para mudar este
cenário, é preciso ocupar a mente com outras atividades que tragam boas
energias e o bem comum, além de se apoiarem em pessoas de confiança que poderão
mostrar outras visões sobre o que fazer por Argoselo. Ficar sozinhos
nunca é uma boa opção, ainda mais neste período onde o clima com a mesma
concordância tem prevalecido.
De certa forma
não posso acreditar que hajam tantas barreiras que não possam ser
intensificadas pelas pessoas que sabem os segredos de como tornar os sonhos
realidade. Esses segredos podem ser resumidos em quatro questões: curiosidade,
confiança, coragem e perseverança. O maior de todos eles é a Confiança. Quando acharem
que acreditam que uma nova mudança pode ser possível experimentem-na…
A chegada de um
novo ano pode-nos trazer uma grande diversidade de sentimentos. Aos que tiveram
um bom ano, o otimismo pode ganhar mais força, com a expectativa de que o
próximo continue no mesmo caminho. Já os que atravessaram muitas dificuldades,
recebem uma nova chance de deixar os problemas no passado e renovar a esperança
para um futuro mais agradável.
Passar por um
ano difícil não é exclusividade de poucas famílias. Seja qual for o motivo, as
adversidades acompanham a vida de muita gente, e não é uma tarefa muito fácil
abraçar a positividade quando estamos passando por tantas adversidades.
Mas talvez se
pensarmos como é bom viver livre de problemas, nossas forças aumentem e o
otimismo faça parte de uma porção maior do nosso tempo, vamos todos os
argoselenses entrar no ano novo com a esperança renovada, com espaço livre para
a felicidade, afastando-nos cada vez mais de tudo que trouxer tristeza ou
atrapalhar as nossas prosperidades!
A continuação
de um Bom Ano Novo para todos os Argoselenses
Ilídio Bartolomeu
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