Na página 103
das notas monográficas do concelho de Vimioso, Adrião Martins Amado regista, de
forma avassaladora, uma perfeita descrição orográfica e o melhor esboço daquilo
que a arqueologia pode encontrar no termo da freguesia.
«Há em Argoselo
ruínas e vestígios bem visíveis de três grandes fortalezas antigas: o Castro da
Terronha, o Castro do Cabeço de S. Bartolomeu e o Castro do Serro Grande.
O primeiro é o mais notável e parece ter sido uma fortaleza árabe. A sudoeste
vê-se ainda parte dos alicerces e muros de uma grande muralha e ao nascente as
ruinas de dois grandes
torreões de forma piramidal. O terceiro encontra-se no lado oriental do Serro
Grande à esquerda, indo da povoação, no alto da grande ladeira do rio Maças.
Lá encontrámos
vários fragmentos de panelas e bilhas antigas. Há anos o nosso paroquiano
Domingos da Costa ali encontrou uma adaga, um machado, um dardo e outros
instrumentos em forma de escopro, que pareciam ser de oiro. Nas ingremes
ladeiras do Sabor, em frente da Paradinha Nova, nas covas do Teixo, existe o
Buraco do Fumo e a Sala Assobradada (aliás, Casa Assobradada, que fica no Cimo
de Cavessilvar), que parecem ter sido habitação do homem pré-histórico. No cabo
da rodeira da Terronha encontram-se as ruínas do Poço dos Lobos, que talvez
fosse a grande cisterna do Castro que fica próximo. Estas estações prendem
deveras a atenção do observador, evocando o viver dos povos desta região em
épocas remotíssimas».
«Os horizontes que se descobrem do alto de S. Roque, do alto da Cabreira, do
Seixagal e de outros pontos são grandiosos e deixam funda e agradável impressão
no espírito do observador. Destes altos descobrem-se lindos trechos da Serra da
Sanábria, na Espanha, coberta de neve durante quase todo o ano, os mais elevados
píncaros das serras de Trás-os-Montes, grandes porções da raia espanhola, na
fronteira da Galiza e Castela, os castelos de Outeiro, Algoso e Penas-Roias e
muitas povoações dos vizinhos concelhos de Bragança, Macedo de Cavaleiros e
Mogadouro. Dos píncaros do Serro Grande vários trechos do rio Maçãs e do Cabeço
de S. Bartolomeu o rio Sabor apresenta um panorama interessantíssimo com o seu
leito caprichoso e as suas ribas muito inclinadas e grandes e escalvados
penedos».
Para aqueles
que não sabem que a minha área de formação se situa na matemática e ciências
naturais tenho de registar a ressalva que as minhas exposições neste espaço
encontram ancoragem apenas no meu interesse pelo tema, tolhido pelas versões do
património oral que me fez argozelense, não apenas por isso, as teorias
apresentadas podem ser refutadas por argumentação de especialistas.
Repito - as
minhas exposições neste espaço encontram enquadramento, não na minha preparação
científica na área – que não tenho, mas interesse em perpetuar a memória dos
nossos antepassados.
Apesar dos
castros referidos no relato do séc. passado se encontrarem praticamente
erradicados da paisagem, pelo abandono a que foram vetados, levando os céticos
à sua negação, as provas ainda lá estão para quem as quiser ver. Quando uma
pedra de xisto aparece no meio das pedras do serro, isso é um apelo
descomprometido à curiosidade. Alguém a transportou para aquele local, porque a
natureza não escreve essas linhas. Uma simples pedra, pela sua consistência ser
menor do que os minerais de quartzo que constituem o afloramento rochoso a que
chamam em Argozelo “O Serro” desaparecerá e consigo apagar-se-á uma história.
Os diversos
achados arqueológicos provenientes de Argozelo perdem-se em acervos de museus
inacessíveis e ou delapidados por curiosos. Chegaram até nós referências como
aquela que vos trago em cima, com data do ano 107 da era dos romanos e uma
lápide que fez capa da revista Sumagre no ano 2009 – dois bons exemplos de
divulgação do património.
Os antepassados
que fizeram a arte rupestre no Vale do Coa, muito provavelmente, deixaram
registos nos afloramentos rochosos dos vales do Maçãs ou Sabor – é uma questão
de procurar.
Quantas pedras não andarão desejosas de nos contar uma bela História de milénios?
Assim, por ser
imperioso dar às pedras, pedregulhos, calhaus e lapadas o seu devido lugar na
História, declaro-me Auto proclamado Comendador Mor do Serro Grande! Sem votos
nem reuniões aclamatórias! Quem vier a seguir que fique Comendador do Serro
Pequeno.
Como primeira
medida exijo que toda e qualquer pedra que possa servir para uma lapada, fique
onde está - as pedras são pela paz!
Escrito por
Luiz
Rodrigues
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