sábado, 7 de julho de 2018

CASTROS E AFLORAMENTOS ARGOSELO


Na página 103 das notas monográficas do concelho de Vimioso, Adrião Martins Amado regista, de forma avassaladora, uma perfeita descrição orográfica e o melhor esboço daquilo que a arqueologia pode encontrar no termo da freguesia.

«Há em Argoselo ruínas e vestígios bem visíveis de três grandes fortalezas antigas: o Castro da Terronha, o Castro do Cabeço de S. Bartolomeu e o Castro do Serro Grande.
O primeiro é o mais notável e parece ter sido uma fortaleza árabe. A sudoeste vê-se ainda parte dos alicerces e muros de uma grande muralha e ao nascente as ruinas de dois grandes
torreões de forma piramidal. O terceiro encontra-se no lado oriental do Serro Grande à esquerda, indo da povoação, no alto da grande ladeira do rio Maças.

Lá encontrámos vários fragmentos de panelas e bilhas antigas. Há anos o nosso paroquiano Domingos da Costa ali encontrou uma adaga, um machado, um dardo e outros instrumentos em forma de escopro, que pareciam ser de oiro. Nas ingremes ladeiras do Sabor, em frente da Paradinha Nova, nas covas do Teixo, existe o Buraco do Fumo e a Sala Assobradada (aliás, Casa Assobradada, que fica no Cimo de Cavessilvar), que parecem ter sido habitação do homem pré-histórico. No cabo da rodeira da Terronha encontram-se as ruínas do Poço dos Lobos, que talvez fosse a grande cisterna do Castro que fica próximo. Estas estações prendem deveras a atenção do observador, evocando o viver dos povos desta região em épocas remotíssimas».
«Os horizontes que se descobrem do alto de S. Roque, do alto da Cabreira, do Seixagal e de outros pontos são grandiosos e deixam funda e agradável impressão no espírito do observador. Destes altos descobrem-se lindos trechos da Serra da Sanábria, na Espanha, coberta de neve durante quase todo o ano, os mais elevados píncaros das serras de Trás-os-Montes, grandes porções da raia espanhola, na fronteira da Galiza e Castela, os castelos de Outeiro, Algoso e Penas-Roias e muitas povoações dos vizinhos concelhos de Bragança, Macedo de Cavaleiros e Mogadouro. Dos píncaros do Serro Grande vários trechos do rio Maçãs e do Cabeço de S. Bartolomeu o rio Sabor apresenta um panorama interessantíssimo com o seu leito caprichoso e as suas ribas muito inclinadas e grandes e escalvados penedos».

Para aqueles que não sabem que a minha área de formação se situa na matemática e ciências naturais tenho de registar a ressalva que as minhas exposições neste espaço encontram ancoragem apenas no meu interesse pelo tema, tolhido pelas versões do património oral que me fez argozelense, não apenas por isso, as teorias apresentadas podem ser refutadas por argumentação de especialistas.

Repito - as minhas exposições neste espaço encontram enquadramento, não na minha preparação científica na área – que não tenho, mas interesse em perpetuar a memória dos nossos antepassados.

Apesar dos castros referidos no relato do séc. passado se encontrarem praticamente erradicados da paisagem, pelo abandono a que foram vetados, levando os céticos à sua negação, as provas ainda lá estão para quem as quiser ver. Quando uma pedra de xisto aparece no meio das pedras do serro, isso é um apelo descomprometido à curiosidade. Alguém a transportou para aquele local, porque a natureza não escreve essas linhas. Uma simples pedra, pela sua consistência ser menor do que os minerais de quartzo que constituem o afloramento rochoso a que chamam em Argozelo “O Serro” desaparecerá e consigo apagar-se-á uma história.

Os diversos achados arqueológicos provenientes de Argozelo perdem-se em acervos de museus inacessíveis e ou delapidados por curiosos. Chegaram até nós referências como aquela que vos trago em cima, com data do ano 107 da era dos romanos e uma lápide que fez capa da revista Sumagre no ano 2009 – dois bons exemplos de divulgação do património.

Os antepassados que fizeram a arte rupestre no Vale do Coa, muito provavelmente, deixaram registos nos afloramentos rochosos dos vales do Maçãs ou Sabor – é uma questão de procurar.
Quantas pedras não andarão desejosas de nos contar uma bela  História de milénios?

Assim, por ser imperioso dar às pedras, pedregulhos, calhaus e lapadas o seu devido lugar na História, declaro-me Auto proclamado Comendador Mor do Serro Grande! Sem votos nem reuniões aclamatórias! Quem vier a seguir que fique Comendador do Serro Pequeno.

Como primeira medida exijo que toda e qualquer pedra que possa servir para uma lapada, fique onde está - as pedras são pela paz!

Escrito por

 Luiz Rodrigues


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