Profundas
arcas, tulhas abissais, celeiros como naus da Índia, dornas e tonéis, arcais
senhora minha, tudo isto medido em côvados, varas e alqueires, em almudes,
moios e canadas, cada terra com seu uso. (José Saramago in “Levantado do chão”)
Esta frase do
romance de Saramago, tirada à força da realidade Alentejana, bem se aplica às
nossas paragens quando era preciso transacionar bens e mercadorias no período
em que a moeda corrente não circulava tão facilmente pelo elevado valor.
Poderá parecer
confuso na comparação das unidades padronizadas dos nossos dias, mas o legado
que vos falo é anterior à fundação do país e tem raízes, entre outros, da
ocupação árabe.
Veja-se o
exemplo do alqueire como medida de capacidade, existe um outro “alqueire”, este
como medida de superfície e que é utilizado ao longo dos anos nas medições de
terrenos agrícolas ou florestais, para inventário do património dos respectivos
proprietários, quer na compra e venda de propriedades rústicas, quer ainda para
cálculos de foros, adubações, sementeiras e colheitas. O alqueire, como medida
de superfície é reconhecido desde os primórdios até hoje.
Alqueires,
palmos e varas…pequenas e grandes! Uma confusão que só quem viveu esse tempo
percebe!
Recordo a caixa que media um alqueire de centeio do meu avô, sempre junto à
tulha para pagar ao barbeiro, vender ou ensacar o cereal necessário à
sementeira da terra x ou y.
O valor deste
alqueire (capacidade) varia entre os 10 a 12 litros. Era recorrente vender-se o
grão do feijão, do milho, do trigo, do centeio, da fava etc..., e até em certas
regiões o azeite, ao alqueire.
A diferença da
quantidade para a mesma unidade de medida era uma espécie de inflação que
perdurava mais numa região do que noutras – em função dos impostos. Nas
balanças colavam-se determinadas quantidades de metais no fundo do prato dos
pesos (variável ao contrário da massa) para alterar o preço das coisas ou
beneficiar o comerciante menos sério.
Um alqueire de
terra é duzentas varas quadradas, ou seja: 2,64 x 2,64 m x 200 = 1393,92 metros
quadrados. Um “moio” de terra é sessenta alqueires.
À conversa com
os mais velhos fala-se que a propriedade x leva n alqueires…Até quando?
Escrito por
Luiz Rodrigues
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