quarta-feira, 15 de agosto de 2018

ALQUEIR RAZA E ALMUDE ARGOSELO


Profundas arcas, tulhas abissais, celeiros como naus da Índia, dornas e tonéis, arcais senhora minha, tudo isto medido em côvados, varas e alqueires, em almudes, moios e canadas, cada terra com seu uso. (José Saramago in “Levantado do chão”)

Esta frase do romance de Saramago, tirada à força da realidade Alentejana, bem se aplica às nossas paragens quando era preciso transacionar bens e mercadorias no período em que a moeda corrente não circulava tão facilmente pelo elevado valor.

Poderá parecer confuso na comparação das unidades padronizadas dos nossos dias, mas o legado que vos falo é anterior à fundação do país e tem raízes, entre outros, da ocupação árabe.

Veja-se o exemplo do alqueire como medida de capacidade, existe um outro “alqueire”, este como medida de superfície e que é utilizado ao longo dos anos nas medições de terrenos agrícolas ou florestais, para inventário do património dos respectivos proprietários, quer na compra e venda de propriedades rústicas, quer ainda para cálculos de foros, adubações, sementeiras e colheitas. O alqueire, como medida de superfície é reconhecido desde os primórdios até hoje.

Alqueires, palmos e varas…pequenas e grandes! Uma confusão que só quem viveu esse tempo percebe!
Recordo a caixa que media um alqueire de centeio do meu avô, sempre junto à tulha para pagar ao barbeiro, vender ou ensacar o cereal necessário à sementeira da terra x ou y.

O valor deste alqueire (capacidade) varia entre os 10 a 12 litros. Era recorrente vender-se o grão do feijão, do milho, do trigo, do centeio, da fava etc..., e até em certas regiões o azeite, ao alqueire.

A diferença da quantidade para a mesma unidade de medida era uma espécie de inflação que perdurava mais numa região do que noutras – em função dos impostos. Nas balanças colavam-se determinadas quantidades de metais no fundo do prato dos pesos (variável ao contrário da massa) para alterar o preço das coisas ou beneficiar o comerciante menos sério.

Um alqueire de terra é duzentas varas quadradas, ou seja: 2,64 x 2,64 m x 200 = 1393,92 metros quadrados. Um “moio” de terra é sessenta alqueires.

À conversa com os mais velhos fala-se que a propriedade x leva n alqueires…Até quando?

Escrito por

Luiz Rodrigues


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