Era um domingo.
Por volta do meio dia. Só me lembro de que era no ano de 1968. O dia estava
bonito. Muito sol, céu azul com poucas nuvens.
Cheguei ao bonito lugarejo, exatamente onde fica a casa onde nasci. Os
vizinhos mal me viram, anunciaram a minha chegada: ólha o Ilídio! ólha o Ilídio!
Não demorou
muito um casal, relativamente novo apareceu na porta da casa. Perguntei se eram
os donos sim somos. Cumprimentei-os. Tudo bem? Logo em seguida fui dizendo que
aquela casa fora de meus pais, já falecidos: Adelino e Maria Tiró. Falei que ali nasci e vivi até aos
16 anos de idade. O casal convidou-me para entrar. Nem era preciso, pois eu lhe
pediria para dar uma volta dentro de
toda a casa. Era o meu desejo. Meus olhos estavam marejados. Era emoção e
saudade. Observei que a cozinha estava limpinha. Na entrada, não havia nada da alfaiataria
onde o meu pai trabalhava. Subi as escadas
olhei para cima e observei as telhas. Estavam escuras. A fumaça da lenha
que ardia na lareira assim as tornara. Parei e fixei os meus olhos, até parecia
que estava a ver a minha mãe a cantar as lindas canções e a falar como se
alguém estivesse ali presente. dormia. Também quis muito recordar o quarto onde
dormia eu e os meus seis irmãos em duas camas e lembrar-me do furo que o meu
pai fez no soalho para um estratagema habilidoso, quando os filhos bebés
chorassem, prendia um cordel no berço que estava no quarto, enfiava-o pelo furo
e atava-o ao pedal da máquina de coser os fatos e calças, e ao mesmo tempo que trabalhava,
balançava o bebé para que dormisse.
Contei para os
donos da casa o porquê de estar observando tudo. Pedi para continuar a minha
caminhada pelo restante do imóvel. Fui ao quarto dos meus pais. Imaginei os
dois como se ali estivessem. Observei e debrucei-me por um instante na janela.
Reparei o céu. Pude ver o horizonte onde todas as manhãs pelas quatro e cinco
horas abria a janela para verificar os sete estrelos estavam para se levantar
para ir trabalhar.
Não podia
esquecer. Apesar dos meus 16 anos, lembrei-me dos momentos em que minha mãe,
com uma faca, descascava as batatas, as cebolas, as couves para fazer o caldo e
cortava pão para distribuir pelos filhos. Minha mãe, muito nova talvez com 40
anos, nessa época, quando estava eu com três ou quatro anos, ela tinha mais ou
menos quarenta e sete, era linda. Apesar da vida difícil que levava, da luta
diária pela sobrevivência, encontrava-se muito doente.
Éramos seis
irmãos e uma irmã, embora pobres, a felicidade reinava entre todos, pois eramos
uma família honesta e de carater
Eramos sete irmãos:
Embora muito pobres, a felicidade reinava, pois eramos uma família honesta e de carater. A
casa era pequena e só tinha dois quartos, um para os sete filhos, o outro para
os meus pais. No quarto deles, até aos quatro ou cinco anos, dormia aquele que
ainda era bebé em cima duma mala ao fundo da cama deles improvisado de berço.
Depois de
percorrer toda a casa, conversava com o casal onde todos os anos vai passar férias, contei
aos dois um pouco de minha vida vivida em Argoselo. Falei dos meus pais e
até sugeri a eles se um dia, quando houvesse alguma dificuldade, quem sabe eu
poderia comprar. Não sei se fiz bem em fazer isso, mas fiz.
Para finalizar,
passei no lado de fora da casa. Olhei para os lados das janelas e vi ainda a
placa de azulejos com o nome; (Casa Chastre).
Não deixei de
olhar também para a Capela de Santo Cristo a quem a minha mãe era muito devota.
A visita que
fiz à casa onde nasci, na qual começou a minha história, trouxe-me muita
emoção, muitas lembranças e eu prometi a mim mesmo que voltaria outras vezes
aquele lugar tão simples, mas abençoado por Deus.
Quando um filho
da terra pensa em ir visitar o lugar onde nasceu, raramente fica fora do roteiro,
o que é compreensível. Mesmo que seja por pouco tempo, a visita é suficiente para
descobrir alguns segredos que fazem dela um lugar que merece a sua visita!
As minhas
viagens são curtas e normalmente são durante as festas de verão, e aproveitava
com a minha câmara de filmar e máquina fotográfica, para explorar algumas
partes do termo como: quedas de água, rochas, rio Maças, Rio Sabor e o Planalto
de São Bartolomeu, lugar obrigatoriamente a visitar!
Se eu pudesse
voltar atrás, eu não abriria mão da casinha onde nasci, e que me fez tão feliz
e tantos bons sonhos mas, também passei algumas agruras. Mesmo assim, eu jamais
arriscaria trocar o meu lar de infância por qualquer estadia noutro sítio. Mas
hoje, volto e sei que aqui, já não é mais o meu devido lugar. Triste, mas feliz!...
quando volto ao sítio onde nasci!
Ilídio
Bartolomeu
24-1-2121
Sem comentários:
Enviar um comentário