Atribuindo-se à
situação crítica que Portugal atravessava nos anos sessenta, muito se falava
acerca da emigração para França, Suíça, Alemanha e outros Países como recurso
de muitos jovens, e não só, que não encontravam trabalho no seu País, e daí
sentirem um alívio para encontrar um novo rumo.
Não se sabia o
que iriam encontrar, nem imaginariam o quanto querer voltar. Levavam na bagagem
a ilusão de uma vida melhor. Mas nem sempre é isso que podem encontrar. Nesta
caminhada pode-se tropeçar em muitas desilusões, deitam-se muitas lágrimas
fora. No fundo tornam-se mais fortes e talvez, com muito esforço e com muita
coragem, muitos alcançaram o seu objetivo.
No tempo
"Salazarista", o Governo tentava impedir essa emigração, que embora
fosse favorável a quem emigrava, era negativo para o progresso do
desenvolvimento e economia do país.
Evidentemente,
emigrar não seria fazer turismo. O prazer de conhecer novas terras e novas
gentes, não seria aquilo com que se deparava. Os sacrifícios começavam logo à
saída, quando se deixava o meio a que se estava acostumado, os amigos e
principalmente a família.
Nos
países de acolhimento, por muito bem recebidos que fossem, apareciam de
imediato outras dificuldades, como o idioma, acomodação, alimentação, e
obviamente a saudade que só o emigrante sabe do seu verdadeiro significado.
O alojamento,
que não é em hotéis de 5 estrelas, é por vezes o que mais se estranha à
chegada, comparando com a casa que deixamos, e à qual estávamos acostumados.
A alimentação,
se não forem os próprios a prepará-la, diferente daquela a que se está habituado,
é um padecimento até que se consiga adaptar a uma nova realidade. Quem não se
fizer acompanhar pela família mais próxima, então o mais mortificante ainda, é
a saudade.
Emigrar ou ser. Imigrante, é uma experiência que requer uma decisão enorme de
coragem e vontade de vencer, quando por motivos tão diversos se é obrigado a
procurar aquilo que o seu País ou a sua terra onde nasceu não lhe pode, ou não
lhe quer dar.
Aqueles que
nunca da sua terra saíram, nunca poderão compreender o que no início é ser imigrante.
Mas também para emigrar há que estar preparado para uma vida diferente, não só
de muitas privações como dedicação ao trabalho, por vezes tão árduo para
aqueles que na sua terra a isso não estavam habituados ou dispostos. Como
se pode verificar, até nos dias de hoje, aqueles que mais úteis poderiam ser ao
seu país, sentem-se repelidos por não verem num futuro próximo melhores
condições de vida na terra onde nasceram, se criaram e se educaram, depois de
os terem enganado com uma faustosa e fictícia forma de viver, isto, nestas
últimas décadas anteriores à situação atual.
Muito eu teria
a contar, sobre os meus primeiros 5 anos em Paris, sobre o que eu passei. Hoje,
graças a Deus, sem arrependimento do passado, sinto-me feliz e realizada.
É da sabedoria
popular que se diz: “Há males que vêm por bem”, e muitos estarão
agradecidos às circunstâncias da altura a deixarem Portugal, para trabalhar e
viver dignamente no estrangeiro ou fora da sua terra, sem que no entanto fossem
indiferentes e insensíveis ao estado em que se encontrava o nosso País de
origem, por consequência do oportunismo torpe do mau Governo que durante 40
anos se dizia Democrático.
Este mundo está
cheio de heróis e heroínas, emigrantes e imigrantes, homens de H grande e
mulheres de M grande que lutam pela vida.
A todos esses homens e mulheres de letra grande, para os que ficaram e para
aqueles que regressaram, desejo a maior sorte, felicidade e força. Parabéns.
Clotilde Brás
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