No meu tempo por tradição
as Matanças do porco eram uma festa na minha Terra – Argoselo ! o poder
económico e outros fatores tem determinado com que estes hábitos populares
tenham reduzido a sua expressividade, oxalá pudessem como outrora, realizar-se
e animar estes dias na nossa vila.
A matança do porco
realiza-se sobretudo nos meses de dezembro e janeiro quando o frio cria
condições propícias para tal.
Uma matança do porco,
pretende ser um momento de convívio entre a família, amigos e convidados.
De manhã cedo, ainda com
os dedos entorpecidos da geada, não fora um suculento mata-bicho com
aguardente, começa-se por preparar um banco cumprido para colocar o porco, onde
se irá matar, quando tudo estiver preparado o matador e mais quatro ou cinco
homens agarram o porco e deitam-no em cima do banco, e com uma corda prendem o
pescoço em volta do banco, depois sim, o matador com a faca bem afiada espeta-a
no porco direitinha ao coração e o porco começa a chorrar sangue para um
alguidar onde uma mulher está constantemente a mexe-lo.
Finalmente, o porco
está morto, desata-se a corda que o prende e muda-se para o chão, começa-se
então a chamuscá-lo com pequenas manadas de palha. Enquanto a pele está quente,
raspa-se com uma faca, sachola, caco, ou um outro objeto cortante, até esta
sair.
Quando a pele exterior
estiver toda raspada, lava-se o porco com escova, pedra pomos e sabão, para
retirar as cinzas, o carvão, ou qualquer outro tipo de substâncias improprias.
Ao fim de estar lavado,
vai-se proceder à sua abertura para retirar o baço, o coração, o fígado, os
pulmões, os intestinos e outros órgãos que também estão contidos no seu
interior
Chega a hora do
almoço da matança, todos se sentam em volta da mesa, e de acordo com a
tradição, este é composto á base de pratos típicos, como sangue cozido, os
fígados, os rins, uns bons nacos de barbada (marrã) assados, rojões e
outras carnes,
Como sobremesa,
havia nozes, figos, amêndoas e outros doces caseiros.
Depois do almoço os
homens amanham a carne, ou seja, cortam o porco em costeletas, presuntos,
espadas e barriga, as mulheres, lavam as tripas, agora não, mas no meu tempo
iam à ribeira dos inverníços, e cortavam a carne em pequenos pedaços para as
chouriças e os salpicões.
A matança do porco,
embora sem a importância que teve outrora, continua a realizar-se em Argoselo,
a qual obedece a um certo ritual.
O porco é uma das
refeições mais frequentes das pessoas de Argoselo. Todos os lavradores matam um
ou dois porcos.
É um episódio que, a
história, regista a ligação e apego da comunidade às mais antigas tradições de
Argoselo.
Do porco faziam-se (e
ainda se faz) alheiras, chavianos, chouriços, salpicões, butelos, toucinho e os
saborosos presuntos.
Mais do que uma festa que
durava o dia inteiro, agora, a matança é um ato que dura apenas umas
horas. São poucas as famílias que ainda cumprem a tradição. Não fora
o hábito das pessoas não passarem sem as chouricitas e os presuntos, a matança
do porco já tinha acabado em Argoselo
Esta tradição era
verdadeiramente comunitária.
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