Antes de mais nada, os
meus agradecimentos pelo convite. A vida nem sempre é como a gente quer, muitas
vezes impede-nos de dar colaboração e atenção ao que realmente vale a pena.
Muito gostaria de ter participado nesse evento tão importante na área da
cultura do “Peliqueiro Argoselense” promovido pelos meus amigos do Bairro de
Baixo. Certamente será uma referência para todos aqueles que pretendem
preservar a memória desta tradição, em nome dos ideais e da identidade
cultural. Agradecer é uma das coisas que acabam ficando esquecidas no decorrer
do dia-a-dia.
Pode ser por um
simples favor ou por uma grande atitude, mas o agradecimento nunca deve ser
esquecido. Assim, endereço esta mensagem de agradecimento a todos em geral e em
especial ao Manuel Barreira e ao Nuno Granjo; pode ser uma forma simples
de vos dar algum alento para “criardes em Argoselo, por exemplo, o Museu do
Peliqueiro”.
A identidade de um povo
está na sua cultura. Podemos entender como tudo aquilo que é construído pelo
ser humano. Inclui os mitos, símbolos, ritos, todas as crenças, todo o conjunto
de conhecimentos e todo o comportamento etc. Portanto, conhecer e valorizar a
nossa cultura Argoselense, são auto-afirmações do que somos.
Contudo, as gestões
públicas locais, não se têm preocupado muito com os movimentos que mantém a
chama acesa da identidade do povo… Talvez por acharem desnecessário manter viva
esta identidade, cujo nascimento vem das classes mais desfavorecidas do nosso
passado. É o que acham estes gestores; o que morreu esqueceu… mas vocês, com
esse convívio, dizem: não!...
“A alma de um povo
é a sua cultura que todos devemos manter” …
Ao contrário,
poderemos ser conduzidos por qualquer outra tradição que chegue,
desconsiderando os Valores Culturais de um Povo, já existentes e merecedores do
nosso apoio.
Em relação à cultura,
estes gestores não perguntam se o povo quer, eles ligam-lhe muito pouco e
impõem a que eles querem. Por isso, não poderemos consentir que o Patrimônio
Cultural de Argoselo seja esquecido ou trocado, mas sim manter sempre viva esta
cultura popular Argoselense, não desvalorizando os grupos folclóricos e a arte
das comédias.
A cultura é uma
preocupação constante e permanente em qualquer Povo. Todos querem entender como
é o modo de vida de uma sociedade onde nós vivemos, isto é, como as
pessoas se relacionam entre si, de forma mais ou menos organizada, cooperando
umas com as outras, na qual se manifestam por formas especificas e às vezes até
divergentes. Os contatos entre os diferentes grupos marcaram a civilização
Argoselense ao longo da história, promovendo transformações culturais tanto
pelos movimentos internos, inter-bairros, como pelos movimentos externos, entre
as várias localidades vizinhas. É assim que eu entendo a cultura.
Há muito que o ser
humano tem rebuscado de várias maneiras identificar-se, tomar consciência de si
mesmo, orgulhosamente, nas crenças, costumes, tradições e experiências
vivenciadas pelos seus antepassados, torna-se prudente preservar os bens que
compõem a história vivida, individual ou coletivamente, considerando as
expressões dessa diversidade, um suporte para a sustentação desta identidade
cultural.
No instante em que as
pessoas não perceberem que o passado não são só restos ou só histórias contadas
através de monumentos materiais, que se relacionam com o tempo ou os fatos aqui
ocorridos, nós não estamos a assumir um novo legado de descobertas e valores,
associando o conceito de bens, tradições ou patrimônio, abrangendo as relações
estabelecidas entres os nossos antepassados. Sendo assim, as manifestações
culturais de um povo passam a ter elementos do passado que vinculados a
técnicas do presente possibilitam a ligação entre a história e a vida atual.
Mas para que tenhamos de
acautelar o rico património deixado pelos nossos antepassados, no cuidar desse
Patrimônio deve-se considerar o restaurar e não simplesmente o derrubar e
deixar desaparecer de vista. Os gestores na altura, tudo que era património
deixado pelos nossos antepassados, foi destruído ou vendido a patacas,
simplesmente para imporem a sua vontade. Hoje talvez não fosse bem assim,
porque o estado dispõe de dispositivos legais para subsidiar a comunidade nas
ações de integridade e preservação das propriedades culturais. Dirão algumas
pessoas… estás bem enganado… estarei… compreendo-vos muito bem! Só quem está no
convento, é que sabe o que lá vai dentro…
Nas relações
estabelecidas entre toda a comunidade deve-se evidenciar a urgência em
preservar a herança patrimonial, pois só é possível dela usufruir quando se
reconhece no modo que existiu e querem que continue, seria interessante vocês
próprios fizessem uma sondagem aos familiares oriundas destes antepassados, se
teriam alguns objetos inerentes desse tempo, se os podiam abdicar deles. Depois
disto sim; os gestores locais que começassem a encaminhar algumas verbas para
desterrar os pelames e recuperá-los para sedimentar um projeto de valor incalculável
deste património inexplicável no respeito à história, à cultura e à natureza.
Enfim, deve haver
entre o patrimônio e a comunidade uma espécie de cordão umbilical onde o homem,
ser social, estabeleça uma relação de vida preenchida de sentimentos, de
valores e de cuidados que espontaneamente entrelaçam passado, presente e
futuro.
Em Argoselo praticamente
pouco se tem falado em conceito de “história e tradições familiares”. Mas
quando uma pessoa nasce, ela começa a escrever uma história com as ações que
vai praticando. Se pararmos e pensarmos bem, a história de cada membro das
famílias Argoselenses encontrará semelhanças essenciais e objetivos comuns dos
seus antepassados. Parece que cada um é um capítulo de uma história maior,
seguindo as tradições ao longo de diferentes gerações.
Para assegurar a
permanência dos valores identificados. dos bens culturais advindos do modo de
viver dos seres humanos, torna-se importante caracterizá-los considerando três
grupos: natureza e meio ambiente, técnicas de saber fazer e conservar
patrimônio material e imaterial, bem como respeito pelas tradições herdadas, e
vocês sabem fazê-lo muito bem!... Força Amigos.
Viva a verdadeira
identidade de um povo… A sua cultura popular!
Espero que no próximo ano
a saúde me permita estar convosco.
Agradecimento, às pessoas
do Bairro de Baixo, por reviverem as suas tradições.
Ilídio Bartolomeu
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