A Eira é um espaço plano,
de chão duro e de dimensões maiores ou menores, conforme a quantidade de cereal
a trabalhar. A Eira podia ser um espaço fixo, em terra batida ou preparada em
cada colheita perto ou junto às habitações. Outros careciam de alugar o espaço
na Eira e esperar até que chegasse a sua vez.
Os cereais, depois de
ceifados com a Foice eram feitos em molhos, ficavam nos próprios
campos em Bornais (sirvo-me dos termos que o povo usa) ou então, iam logo para a Eira em
carros de bois e mais tarde em tratores, e com o Forcado fazia-se as Medas
esperando a hora até que a Malhadeira se colocasse ao lado delas para ser
malhado. Ou então para serem trilhados ou batidos com o Malho para separar os
grãos das espigas.
A ação de malhar era feita durante o dia, ao
sol e durante o calor, para a humidade ser menor e o grão saltar mais
facilmente. Esta fase do trabalho da Eira era muito dura: o trabalho com o
Malho exigia um esforço físico violento, era feito nas horas de maior calor e,
as poeiras e a palha picavam e ardiam no corpo dos trabalhadores.
Quando na Eira se
trabalhava o trigo, usava-se o Trilho, que fazia a função do Malho, mas era
puxado por animais, normalmente por Burros ou Mulas.
Depois de malhado, o grão
ou as sementes eram volteados no ar com a Forquilha para separar com a ajuda do
vento, as palhas mais leves. No chão, o Ancinho (Engaço) retirava as palhas
mais pesadas e a Vassoura e o Rodo juntavam o grão ou as sementes em
montes.
Os grãos e sementes eram
então passados, ou crivados, pelo Crivo, que tinha orifícios maiores ou menores
conforme o tamanho do grão, para separar as impurezas mais finas. Quando estava
limpo o “Pão”, era medido com o Medidor Alqueire e ensacado.
Era um momento mais
social, de convívio e transmissão de saberes entre as gerações. Partilhava-se a
refeição, cantava-se cantigas era uma autêntica alegria.
Durante todo o Verão
passam diversas colheitas pela Eira, nada se perde e tudo se aproveita: as
palhas dos cereais serviam para renovar os colchões das camas, mas também para
a alimentação e cama dos animais.
A Eira era um local de
trabalho duro, mas também de partilha e de diversão. Os vizinhos e as famílias
ajudavam-se uns aos outros, faziam refeições em conjunto e cantavam cantigas
que ainda hoje se conhecem e cantam.
//
Ó Rosinha! Ó Rosinha do
meio,
Vem comigo malhar o
centeio,
O centeio, o trigo e a
cevada,
Oh! Rosinha, minha
namorada!
//
Atualmente, a Eira quase
não é usada pelos agricultores, pois existem cada vez menos famílias de
agricultores e a agricultura que existente já está muito mecanizada.
Conhece-se a Eira e a sua
função pelas histórias que os mais velhos contam nas aldeias, e também por
livros, fotografias e filmes. Alguns Museus, feiras e iniciativas ligadas à
agricultura e à tradição.
Se não se registar e
transmitir este saber, e se não se contar e recriar estas histórias, o
conhecimento perde-se com a morte dos mais velhos e com a diminuição e
mecanização da agricultura.
Ilídio Bartolomeu
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