terça-feira, 11 de agosto de 2020

AS EIRAS E AS MALHADAS


A Eira é um espaço plano, de chão duro e de dimensões maiores ou menores, conforme a quantidade de cereal a trabalhar. A Eira podia ser um espaço fixo, em terra batida ou preparada em cada colheita perto ou junto às habitações. Outros careciam de alugar o espaço na Eira e esperar até que chegasse a sua vez.
Os cereais, depois de ceifados com a Foice eram feitos em molhos, ficavam nos próprios campos em Bornais (sirvo-me dos termos que o povo usa) ou então, iam logo para a Eira em carros de bois e mais tarde em tratores, e com o Forcado fazia-se as Medas esperando a hora até que a Malhadeira se colocasse ao lado delas para ser malhado. Ou então para serem trilhados ou batidos com o Malho para separar os grãos das espigas.
 A ação de malhar era feita durante o dia, ao sol e durante o calor, para a humidade ser menor e o grão saltar mais facilmente. Esta fase do trabalho da Eira era muito dura: o trabalho com o Malho exigia um esforço físico violento, era feito nas horas de maior calor e, as poeiras e a palha picavam e ardiam no corpo dos trabalhadores. 
Quando na Eira se trabalhava o trigo, usava-se o Trilho, que fazia a função do Malho, mas era puxado por animais, normalmente por Burros ou Mulas.
Depois de malhado, o grão ou as sementes eram volteados no ar com a Forquilha para separar com a ajuda do vento, as palhas mais leves. No chão, o Ancinho (Engaço) retirava as palhas mais pesadas e a Vassoura e o Rodo juntavam o grão ou as sementes em montes. 
Os grãos e sementes eram então passados, ou crivados, pelo Crivo, que tinha orifícios maiores ou menores conforme o tamanho do grão, para separar as impurezas mais finas. Quando estava limpo o “Pão”, era medido com o Medidor Alqueire e ensacado. 
Era um momento mais social, de convívio e transmissão de saberes entre as gerações. Partilhava-se a refeição, cantava-se cantigas era uma autêntica alegria.
Durante todo o Verão passam diversas colheitas pela Eira, nada se perde e tudo se aproveita: as palhas dos cereais serviam para renovar os colchões das camas, mas também para a alimentação e cama dos animais.
A Eira era um local de trabalho duro, mas também de partilha e de diversão. Os vizinhos e as famílias ajudavam-se uns aos outros, faziam refeições em conjunto e cantavam cantigas que ainda hoje se conhecem e cantam.
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Ó Rosinha! Ó Rosinha do meio,
Vem comigo malhar o centeio,
O centeio, o trigo e a cevada,
Oh! Rosinha, minha namorada!
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Atualmente, a Eira quase não é usada pelos agricultores, pois existem cada vez menos famílias de agricultores e a agricultura que existente já está muito mecanizada.
Conhece-se a Eira e a sua função pelas histórias que os mais velhos contam nas aldeias, e também por livros, fotografias e filmes. Alguns Museus, feiras e iniciativas ligadas à agricultura e à tradição.
Se não se registar e transmitir este saber, e se não se contar e recriar estas histórias, o conhecimento perde-se com a morte dos mais velhos e com a diminuição e mecanização da agricultura.
Ilídio Bartolomeu

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