Do Alto de S. Roque, ao vale mais profundo do Teixo, do xisto das
entranhas, donde saiu o estanho e volfrâmio, ao granito esculpido das campas
milenares, da água calma, presa nos Inverniços, ao som das cascatas que fluem
livres em Cal Silvar, do denso carvalhal da Estercada à rara crista do Serro
surge o trabalho ousado da engenharia popular, simples engenhos para dar
resposta a problemas quotidianos e a grandes obras que moldam a paisagem.
Chega até nós uma enorme riqueza cultural
que manteve um estilo de vida em comunhão com a Natureza, séculos de História
onde imperou um modelo económico centrado na casa.
A casa está concebida, não apenas como o lugar onde se mora. Engloba nela, para
além da vivenda, espaços complementares de trabalho: curral, lojas, adega, espaço
para o carro, para a lenha, procurando a intimidade, criando um mundo interior
para que o exterior seja visto apenas pelas janelas. O elemento de ligação com
o exterior é o portão, o único acesso para pessoas e animais e a sua estrutura
coberta de madeira dá abrigo ao carro e serve de armazém do arado e outras
ferramentas permitindo a realização de muitas tarefas ao abrigo do sol e chuva.
É a altura do carro que transporta os
produtos do campo, com os estadulhos, que determina a medida para a portada.
Define ainda a localização do armazém de sementes e palha, mantidos em lugar
elevado como é o caso do palheiro. Por vezes, alinhado com o portão, na parte
superior, fica a porta de abastecimento do palheiro.
Os diferentes tipos de casas admitem múltiplas variantes, o recurso a paredes
meeiras, por exemplo, é uma estratégia tendo em vista a economia de espaço e
recursos, muito utilizado em espaços mais urbanizados, cujas fachadas se
enfeitam com varandas no piso superior e janelas no piso inferior.
Em Argozelo ainda é possível encontrar habitações que correspondem à típica
casa transmontana, mas há sobretudo muitos exemplares que trazem até aos nossos
dias o testemunho das vivências dos nossos antepassados – casas que resistem ao
abandono, que nos gritam memórias de gentes que habitaram nelas e que receiam
cair no esquecimento.
Escrito por
Luiz Rodrigues
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