Já se falou
muito sobre este tema. Mas todas as abordagens que se fazem são sempre
diferentes, por serem diferentes os intervenientes em cada momento e local
desta região. No caso do Ambrósio “nome fictício” a partida para França era a
primeira da sua terra. E a primeira é sempre mais dolorosa e difícil que as
restantes.
Há algum tempo
que o Ambrósio tinha colocado na sua cabeça a necessidade de ir trabalhar para
terras diferentes da sua, pois na sua não conseguia ser retribuído de forma a
dar à sua família uma melhor qualidade de vida. Na sua aldeia como em todas as
outras a fome apertava. Fruto que os trabalhos no campo lhe proporcionavam,
fosse a cavar terra, fosse a cortar e transportar lenha, fosse a arrancar as
batatas, cavar as vinhas e tantas outras sessões que de forma gratuita estavam
disponíveis naqueles tempos e locais que
geralmente todos os habitantes frequentavam.
Mas, como tinha
nascido para trabalhar e trabalho era coisa que não lhe metia medo, então resolveu ir para França. Foi falando
com quem podia orientá-lo e estava prestes a iniciar uma parte da sua vida
deveras complicada. É que naquele tempo ir a salto para França era um crime
punível pelo regime e por isso tudo era tratado clandestinamente. Aliás coisas
tratadas de forma clandestina são uma garantia para quem as trata e nenhuma
garantia dão aos eventuais tratados. Isto é se a coisa desse para o torto e
algum fosse preso, naturalmente que apenas ele era sancionado.
É importante
referir, para que se perceba esta prosa, que na aldeia o Ambrósio era o
primeiro que partia… para França, não
sabia uma palavra de francês e não tinha ninguém à espera dele lá. Tinha que descobrir tudo num local onde
ninguém o entendia, e passar perigos na viagem que certamente alguns um dia
contarão.
Passados alguns
anos, o Ambrósio voltava na altura do
natal que passava invariavelmente com os filhos e a mulher na casa que ambos
tinham construído na aldeia e que já tinham dotado de condições sanitárias. Voltou
apenas quando já tinha pago tudo o que devia a quem lhe tinha emprestado.
Isto aconteceu
há 60 anos, e o filho Ambrósio lembra-se perfeitamente da despedida do pai como
se fosse hoje. Claro que o Ambrósio já se não lembra, pois o campo do silêncio
da aldeia há muito que o reclamou e obteve para si a tempo inteiro. Mas, mesmo
hoje, tenho dúvidas que o Ambrósio esteja a descansar. Ele sempre trabalhou e
não é certamente a morte que lhe vai tirar esse hábito!…
Há pessoas que
pensam que a vida de emigrante é fácil pois não imaginam o quanto é
difícil estar longe daquelas pessoas que amamos, isto
porque nunca saíram da sua "zona de conforto" para ir à
luta de uma vida melhor, num país que não é o nosso.
Há quem se
queixe que trabalhe longe e só pode ir ao fim-de-semana a casa para estar com
a família e os amigos, eu também já fui uma delas, mas acreditem que é
muito mais difícil estar a milhares de Km de distância, e só poder estar com
quem amamos uma vez por ano.
E se hoje
estamos aqui, é porque infelizmente Portugal não nos oferecia a vida
estável que tanto precisávamos... É preciso tomar decisões, lutarmos por algo
melhor, e acreditarmos que no final tudo irá dar certo! Mas acreditem, que
há dias bons, há dias menos bons, há dias em que sabemos que isto é o melhor
para nós.
A vida de emigrante não é fácil,
não é uma vida de luxos e extravagancias como muitos pensam. É preciso ter
muita coragem, força e determinação para deixar tudo em busca de uma vida melhor
num país que não é o seu.
Podem acreditar
só quem passa por uma situação dessas é que sabe o enorme sacrifício que se
faz. Eles não vivem, apenas sobrevivem, eles até podem estar noutros países,
mas o coração deles está aqui, no seu verdadeiro cantinho.
Este mundo está
cheio destes heróis e heroínas, emigrantes e imigrantes, homens de H grande e
mulheres de M grande que lutam pela vida.
A todos esses
homens e mulheres de letra grande, eu desejo a maior sorte e felicidade.
Ilídio
Bartolomeu
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