O facto de sermos argoselenses não é por si só condição para sermos
argoselenses.
Mas então o que é ser argoselense?
Eu, que nasci em Argoselo, e vivi até aos 16 anos, tenho para mim
que não chega possuir estas duas condições para se ser designado argoselense.
Creio que existe algo mais, que caracteriza essas misteriosas pessoas, algo que
nos traz recordações de um passado onde alguns se sentavam em pedras e blocos
pesados de granito que formavam as escadarias frescas e que serviam para pôr a
conversa em dia. Sentavam-se sujos do pó que haviam ganho nas terras duras e
agrestes que os desafiavam todos os dias, repousando as mãos calejadas e fortes
nos joelhos cansados de andar por entre estevas e giestas teimosas. Alguns,
mais gastos pela vida, pousavam a cabeça e a coragem num pau feito à medida, e
olhavam quem passava com uma ternura nos olhos e um cansaço na alma impossíveis
de descrever.
A nossa vila é rica no seu passado, cheia de vigor no presente e
certamente conquistadora no futuro. A nossa vila é História e feitos já
alcançados, mas é também – e sobretudo – presente e futuro transbordantes de
vontade de ir mais longe, de mostrar a esta região que iremos cada vez mais
longe e melhor. Estou certo disso.
Mas depende de nós criarmos as condições para a nossa Vila desenvolver
as suas potencialidades, de nós próprios mostrarmos o que realmente somos.
Somos diferentes do resto da região e devemos ter orgulho nisso! As nossas
gentes, o nosso ar, os nossos usos e os nossos costumes são o nosso bem mais
precioso!
Devemos ter orgulho nos nossos velhotes que, com as dificuldades gravadas nos seus rostos, são uma imagem argoseleira, como as tradições e os nossos usos que são e serão sempre motivos de brio para todos nós.
Mas somos também jovens, que a cada passo se orgulham de Argoselo
para o futuro, com a certeza e tranquilidade de um passado que nos enche de
confiança e que faz com que possamos dizer que é um verdadeiro privilégio
nascermos argoselenses e que assim encaremos o presente e construamos o futuro
que almejamos.
Conhecer Argoselo é descobrir a ancestralidade de um povo
Falar da Nossa Gente é trazer à memória algumas figuras relevantes
da nossa Terra.
Cada pedaço de terra esconde um segredo e cada pessoa tem uma
história para contar. "A Nossa Terra, a Nossa Gente" pretende mostrar
a alma da nossa região através de um conjunto de reportagens.
Naturais de Argoselo, assumiram este como seu, destacaram-se ou destacam-se, deixando o seu legado em diferentes áreas. Mesmo correndo o risco de não serem todos citados, deixo aqui uma lista dos vultos que mais exerceram, uns influência na sociedade e outros típicos e bem humorados
Podendo cair em contradição, digo que bem lá no fundo todos argoselenses,
mas, existe uma pequena diferença que nos afasta dos verdadeiros e puros argoselenses,
e é essa diferença que nos dá tantas saudades da nossa aldeia, que nos faz
recordar com mágoa aqueles que já foram, que nos faz ver a muito custo que essa
aldeia envelhece, que nos faz chorar interiormente pelas mortes que vão levando
os últimos resistentes…
Ilídio Bartolomeu
Quando comecei a leitura deste belíssimo excerto das suas e nossas memórias, alegrou-se-me a alma por ver algumas fotografias e, através delas poder identicá-lo.
ResponderEliminarAssim, resta-me agradecer-lhe os momentos de boa leitura..
É realmente uma desolação de alma ir a Argoselo no inverno e ouvir aquele silêncio tão pesado da aldeia.
Agora, em Agosto, sabe pela alma ir e rever bons e velhos amigos. Estes, partiram por necessidades diversas. Outros têm partido sem que quiséssemos que tal acontecesse. Mas, essas partidas são independentes da nossa vontade. A nossa vida tem um princípio e um fim, e se não pedimos para nascer, também não pedimos para definitivamente partir.
Os castanheiros... esses têm resistido e, decidiram ficar, felizmente.
Quem escreve, sentindo, ternura e amargura... e descreve, perfeitamente, carinhosamente, tempos que o vento levou, a neve acariciou, a chuva dispersou, só pode ser de onde eu sou?! Com a ilustração me chamou; nos tempos agrestes me transportou e emocionou…
ResponderEliminarBravo é: quem tão bem escreve !!
É com ternura cada vez maior que leio as reflexões que vai fazendo o favor de escrever para nós. Bem-haja!
ResponderEliminarApenas escrevo aquilo que vivo,
ResponderEliminarque penso, e que sinto,
sem preocupação com estética, com rimas,
com floreios, nem mesmo com a gramática.
Escrevo, pois, o que me vem à alma e coração.
E se por vezes algo sai incorreto ou não agrada,
é porque minha alma não pode agradar a todos,
e meu coração não acerta sempre