sábado, 2 de abril de 2022

OS NOSSOS VELHOTES!...


Desde criança que os idosos me cativaram e sempre convivi com eles com muito carinho  e destaco os vizinhos dos meus pais com os quais privava mais de perto até aos meus desaseis anos. Apreciava muito as suas conversas e histórias de vida que me deixavam fascinado e muitas vezes pensativo, porque não entendia determinados factos que só mais tarde viria a deduzir a que se referiam.

Recordo que a maioria eram trabalhadores do campo (homens e mulheres) que trabalhavam até muito tarde. Não havia aposentações e só quando as forças começavam a faltar é que ficavam em casa.

Naqueles tempos as famílias eram habitualmente numerosas e alguns dos filhos estavam noutros países emigrados e  era estabelecida a periocidade em que ficariam na casa de cada filho, assim como a prestação de cuidados e alimentos.

Repartiam os seus teres e haveres e os filhos cuidavam deles com tudo o que podiam para o seu bem-estar. Muitos ficavam nas suas próprias casas, outros iam morar para casa de seus filhos. Outros  ainda  permaneciam uma semana, um mês, rotativamente em casa de cada filho.

Recordo-me que às senhoras mais idosas eram dados, para passar o tempo, pedaços de tecidos de roupas que já não eram usadas, que elas recortavam em tiras, que iam cosendo e com os quais dobavam novelos de trapo, como eram chamados. Esta atividade era normalmente efetuada sentadas à porta de casa aproveitando os raios do sol em sítios mais abrigados nos dias mais frios.

Esses novelos mais tarde eram trabalhados nos teares e davam origem a mantas e colchas que todas as famílias usavam. Lembro-me bem desse tempo! À porta dos meus pais, havia um desses teares.  

Era uma forma de reutilizar o que aparentemente já não tinha préstimo.

Veio-me isto à ideia, quando há dias vi junto dum contentor  do lixo um pedaço de tecido abandonado e lembrei-me do tanto desperdício que atualmente produzimos!

Compreendo que a vida hoje é diferente e há muita oferta e que muita gente não têm tempo para fazer os tais novelinhos com os quais poderiam tecer tapetes e muitas outras coisas de utilidade doméstica.

É mais prático ir aos armazéns dos chineses onde encontramos os novelos de trapilho que vieram substituir esta atividade.

Mas, neste tempo de confinamento que atravessamos, era talvez o ideal para remexer nos nossos armários e decerto nos surpreenderíamos com a quantidade de peças que poderíamos dispensar para os tais novelinhos e com eles criar artes para dar um toque diferente num qualquer recanto de nossas casas, além de outras utilidades diversas.

Ilídio Bartolomeu

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