Desde criança que os idosos me cativaram e sempre convivi com eles
com muito carinho e destaco os vizinhos
dos meus pais com os quais privava mais de perto até aos meus desaseis anos. Apreciava
muito as suas conversas e histórias de vida que me deixavam fascinado e muitas
vezes pensativo, porque não entendia determinados factos que só mais tarde
viria a deduzir a que se referiam.
Recordo que a maioria eram trabalhadores do campo (homens e
mulheres) que trabalhavam até muito tarde. Não havia aposentações e só quando
as forças começavam a faltar é que ficavam em casa.
Naqueles tempos as famílias eram habitualmente numerosas e alguns
dos filhos estavam noutros países emigrados e era estabelecida a periocidade em que ficariam
na casa de cada filho, assim como a prestação de cuidados e alimentos.
Repartiam os seus teres e haveres e os filhos cuidavam deles com
tudo o que podiam para o seu bem-estar. Muitos ficavam nas suas próprias casas,
outros iam morar para casa de seus filhos. Outros ainda permaneciam
uma semana, um mês, rotativamente em casa de cada filho.
Recordo-me que às senhoras mais idosas eram dados, para passar o
tempo, pedaços de tecidos de roupas que já não eram usadas, que elas recortavam
em tiras, que iam cosendo e com os quais dobavam novelos de trapo, como eram
chamados. Esta atividade era normalmente efetuada sentadas à porta de casa
aproveitando os raios do sol em sítios mais abrigados nos dias mais frios.
Esses novelos mais tarde eram trabalhados nos teares e davam origem
a mantas e colchas que todas as famílias usavam. Lembro-me bem desse tempo! À
porta dos meus pais, havia um desses teares.
Era uma forma de reutilizar o que aparentemente já não tinha
préstimo.
Veio-me isto à ideia, quando há dias vi junto dum contentor do lixo um pedaço de tecido abandonado e
lembrei-me do tanto desperdício que atualmente produzimos!
Compreendo que a vida hoje é diferente e há muita oferta e que muita
gente não têm tempo para fazer os tais novelinhos com os quais poderiam tecer
tapetes e muitas outras coisas de utilidade doméstica.
É mais prático ir aos armazéns dos chineses onde encontramos os
novelos de trapilho que vieram substituir esta atividade.
Mas, neste tempo de confinamento que atravessamos, era talvez o
ideal para remexer nos nossos armários e decerto nos surpreenderíamos com a
quantidade de peças que poderíamos dispensar para os tais novelinhos e com eles
criar artes para dar um toque diferente num qualquer recanto de
nossas casas, além de outras utilidades diversas.
Ilídio Bartolomeu
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