domingo, 9 de outubro de 2022

COMO AS NUVENS PASSAGEIRAS…

 

Em vários momentos olhamos para o céu e, ao observarmos as nuvens, logo começamos a dar-lhes formatos de animais, pessoas e objetos. “somos como nuvens passageiras/Que com o vento se vão/ nós somos como cristais bonitos/ Que se partem quando caem .” Pois é! Todos nós somos!

Às vezes penso como a vida corre e é breve e passageira. Mas logo percebo que ela já existia bem antes de eu chegar e estará muito além do meu mais absoluto desaparecimento. Não é a vida que me foge, sou eu quem dela há de se retirar. Todos viemos dos escuros líquidos dos ventres maternos e iremos desvanecer soterrados pelo negrume do manto sinistro que fatalmente nos encobrirá no chegar indesejado da hora incerta.

Todos queríamos a imortalidade, mas nem os deuses da Mesopotâmia foram assim tão eternos. A perpetuidade não nos cabe nos estreitos limites das nossas carnes. Não há matéria, substância ou corpo que não se desgaste, deteriore ou apodreça. Os fétidos odores que expelimos de dentro são como antecipações do cadáver que um dia nos tornaremos.

Não são raros os instantes em que invejo os crentes e os ingênuos, os beatos e as crianças. Aos piedosos, aos fervorosos e aos míticos são deles o Reino do Céu. Aos infantes e aos acriançados são deles a magia pueril e ingênua da perpetuidade. Os pequenos não sabem que a infância tem o seu prazo de validade.

Somos transitórios como as nuvens que parecem flutuar lentas atravessando o espaço azul que nos acoberta, mas que logo são engolidas pela boca faminta do horizonte. O meu futuro termina quando acaba o firmamento. Queria o céu cristão de minha mãe, porém ela morreu aos 76 anos. Se eu estiver enganado, como acho que não estou, talvez a reencontre nos jardins dos seus santos em meio à multidão de anjos.

Mas por que nos é tão contraditório lidar com a finitude, visto ser ela, é a única certeza que temos? Aliás, tenho duas certezas. Primeiro que irei morrer. E como não morri ainda, então estou certo de que estou vivo. De nada sei o que havia antes de mim, assim como nada sei o que virá depois de mim. O que apenas sei, e já não me é pouco, é que existo, continuo existindo, até que me transforme em nada que ao humano é algo suprimido de se pensar. Não há espaço para o nada na nossa mente. Mesmo os vazios que sinto trazer eles são preenchidos de saudades ou de desejos.

Decerto desviver se opõe à alma, que em grego chama-se psykhé. Na Antiguidade dos gregos antigos, a alma (psique) era representada por uma donzela com asas de borboleta. Reza o mito que Psique era uma mortal filha de um rei que se apaixonou reciprocamente pelo deus Eros, e com ajuda de Zeus tomou ambrosia e se tornou imortal. E é isso o que somos, almas humanas em busca de ambrosias. Somos animicamente voláteis, embora, de facto, existimos como criaturas provisórias e breves.

Nada é para sempre, “não adianta escrever o meu nome numa pedra, pois esta pedra em pó vai transformar-se”. Pertencemos à grande roda cíclica da vida e ela “corre contra o tempo” e tudo que aqui está , que um dia foi criado, não passa de “um castelo de areia, na beira do mar” que embora, grande e belo vai deixar de existir, pelo menos naquela forma. Portanto, diante dessa imutável condição “quero agora é escrever” e viver de forma intensa cada instante, para que quando tomar outra forma de ser, possa sentir que deixei a vida em dia com a minha energia.

“Às vezes vejo as nuvens passar; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido”.

“Eu sou nuvem passageira”…

Ilídio Bartolomeu


2 comentários:

  1. Sensível como sempre😘😘😘

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  2. Por definição, as Pessoas Altamente Sensíveis são aquelas que têm a capacidade de captar pequenos detalhes e matizes de tudo aquilo que as rodeia. São pessoas delicadas e hipersensíveis, que demonstram ter um grau de compromisso extremamente alto com todas as coisas que realizam.
    É justamente por isso que, algumas vezes, precisam desligar-se e se isolar. Elas sentem-se confortáveis com os momentos pontuais de solidão, pois é a forma mais direta de acabar com os estímulos que afetam a sua rotina de forma tão profunda.
    Será este o meu caso?

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