Aldeia, como os habitantes a aludem, também se reclama como uma Vila. Um
dos aspetos que por vezes me surpreende é o facto de sentir que muitos dos
atuais habitantes desta nossa Vila, parecem pensar que certas preocupações que
vão tendo, são atenções de uma modernidade que em nada tem a ver com o passado.
Penso que as coisas não são bem assim. Se não vejamos.
A Vila mudou, agigantou-se, efervesceu. Há vinte anos, a Vila era aldeia,
tudo corria desaceleradamente. Não é saudosismo, muita coisa melhorou. Mudou
como tudo muda. A contradição da Vila é que, quanto mais ela cresce, mais
isolados ficamos. Para nada precisamos sair da Vila, aqui circulamos e aqui nos
encontramos, entre cada vez mais estranhos, nas poucas ruas que definem a
grande Vila. Rostos familiares, casas conhecidas, conversas repetidas, vamos
seguindo com o jeito cada vez mais provinciano de se viver.
Há quase de tudo na grande Vila: lojas de serviços essenciais, banco,
farmácia, posto de saúde, igrejas, oficinas, postos de gasolina, restaurantes,
padarias, funerária e uma Junta de Freguesia, que por sua vez não resolve quase
nada, mas está ali para os nossos desabafos.
Mas o que é que não tem a Vila, que outras têm? Por aqui falta um lugar de
lazer, um parque com um lindo lago, por exemplo. Mas isso tão pouco existe nas
outras nove freguesias do Concelho.
E o que tem a Vila? Tem casas antigas, tem gente antiga, tem gente que
morre de repente e gente que não morre nunca. Tem viúvas e viúvos, tem o poupatempo
e os bancos da praça para quem tem tempo de sobra. Tem a calçada irregular,
buracos nas ruas, tem cães com ou sem coleira ignorando limites sujando as
ruas. Tem casas abandonadas, porcaria acumulada nas sarjetas e limpeza pública
a menos e lembrando o quanto ainda temos de nos civilizar.
A Vila cresce em tamanho, mas não em movimento de pessoas. Mas ela
modifica-se no visual. Casas caídas e terrenos abandonados, vão dando origem a
algumas construções mais modernas, mas nem tanto. O perfil da Vila, vai-se alterando
mas, só para quem vive cá é que dá por isso, porque para os de fora, está tudo
na mesma, bons-dias e boas-tardes determinam quem aqui vive.
Quem é da Vila anda a pé, uns aos domingos vão à igreja à missa, e
vão direitinhos para o lugar de sempre que devem ocupar, outros ficam na praça
sentados nos bancos a conversar, ao mesmo tempo que veem a vida passar ao ritmo
dos carros que atravessam a rua principal e outros estão no Centro Social, onde
as ausências e esse passar de tempo, talvez lhes pareçam menores.
Há problemas específicos na Vila, despovoada, envelhecida e em
desertificação que exigem respostas avançadas de rotura em alguns dos
instrumentos da política. Isto para dizer que, ao nível da política regional, a
Vila não pode abdicar de conceber e executar uma estratégia forte de mudança. Tem
de ponderar os resultados alcançados nas últimas décadas, numa perspetiva e com
um desígnio muito claro relativamente ao futuro. Esta é a minha constatação.
Bem, o que daqui se pode extrair, é que afinal a vida do homem, de qualquer
homem, tem sempre algo de particular e por vezes muito estranho que seja
outrora ou agora, que fazer? Pode perguntar-se. Aceitá-la tal como ela se nos
propõe? A resposta decididamente: é óbvio que não; As consequências do
contrário têm sido devastadoras para a Vila ao longo destes anos…tanto para os
que nela habitam, como para aqueles que a escolhem para passar férias com a
família.
Seja com pandemia, seja com distanciamento, seja como for, a vida
sempre vale a pena ser vivida, assim como ela é, pois é a única que temos, e
devemos saber vive-la com todos os cuidados possíveis...
E para que assim seja, nada melhor do que fazer de cada dia, sempre um
bonito dia, que é o que desejo a todos, bem vivendo a vida como ela é...
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