quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

A VIDA TAL COMO ELA É NA VILA


 Caros amigos de leitura destes textos que vou escrevendo, com alguma regularidade e que gosto de fazer o exercício de olhar um pouco para aquilo que outros antes de nós fizeram. Não porque goste de me prender e ficar amarrado ao passado, mas para ir vendo se o caminhar dos habitantes da Vila que vão transcorrendo se já passou por situações das quais se possam tirar ensinamentos ou até precedentes,  que nos permitam ir achando graça, ao andar por cá.

Aldeia, como os habitantes a aludem, também se reclama como uma Vila. Um dos aspetos que por vezes me surpreende é o facto de sentir que muitos dos atuais habitantes desta nossa Vila, parecem pensar que certas preocupações que vão tendo, são atenções de uma modernidade que em nada tem a ver com o passado. Penso que as coisas não são bem assim. Se não vejamos.

A Vila mudou, agigantou-se, efervesceu. Há vinte anos, a Vila era aldeia, tudo corria desaceleradamente. Não é saudosismo, muita coisa melhorou. Mudou como tudo muda. A contradição da Vila é que, quanto mais ela cresce, mais isolados ficamos. Para nada precisamos sair da Vila, aqui circulamos e aqui nos encontramos, entre cada vez mais estranhos, nas poucas ruas que definem a grande Vila. Rostos familiares, casas conhecidas, conversas repetidas, vamos seguindo com o jeito cada vez mais provinciano de se viver.

Há quase de tudo na grande Vila: lojas de serviços essenciais, banco, farmácia, posto de saúde, igrejas, oficinas, postos de gasolina, restaurantes, padarias, funerária e uma Junta de Freguesia, que por sua vez não resolve quase nada, mas está ali para os nossos desabafos.

Mas o que é que não tem a Vila, que outras têm? Por aqui falta um lugar de lazer, um parque com um lindo lago, por exemplo. Mas isso tão pouco existe nas outras nove freguesias do Concelho.

E o que tem a Vila? Tem casas antigas, tem gente antiga, tem gente que morre de repente e gente que não morre nunca. Tem viúvas e viúvos, tem o poupatempo e os bancos da praça para quem tem tempo de sobra. Tem a calçada irregular, buracos nas ruas, tem cães com ou sem coleira ignorando limites sujando as ruas. Tem casas abandonadas, porcaria acumulada nas sarjetas e limpeza pública a menos e lembrando o quanto ainda temos de nos civilizar.

A Vila cresce em tamanho, mas não em movimento de pessoas. Mas ela modifica-se no visual. Casas caídas e terrenos abandonados, vão dando origem a algumas construções mais modernas, mas nem tanto. O perfil da Vila, vai-se alterando mas, só para quem vive cá é que dá por isso, porque para os de fora, está tudo na mesma, bons-dias e boas-tardes determinam quem aqui vive.

 Quem é da Vila anda a pé, uns aos domingos vão à igreja à missa, e vão direitinhos para o lugar de sempre que devem ocupar, outros ficam na praça sentados nos bancos a conversar, ao mesmo tempo que veem a vida passar ao ritmo dos carros que atravessam a rua principal e outros estão no Centro Social, onde as ausências e esse passar de tempo, talvez lhes pareçam menores.

Há problemas específicos na Vila, despovoada, envelhecida e em desertificação que exigem respostas avançadas de rotura em alguns dos instrumentos da política. Isto para dizer que, ao nível da política regional, a Vila não pode abdicar de conceber e executar uma estratégia forte de mudança. Tem de ponderar os resultados alcançados nas últimas décadas, numa perspetiva e com um desígnio muito claro relativamente ao futuro. Esta é a minha constatação.

Bem, o que daqui se pode extrair, é que afinal a vida do homem, de qualquer homem, tem sempre algo de particular e por vezes muito estranho que seja outrora ou agora, que fazer? Pode perguntar-se. Aceitá-la tal como ela se nos propõe? A resposta decididamente: é óbvio que não; As consequências do contrário têm sido devastadoras para a Vila ao longo destes anos…tanto para os que nela habitam, como para aqueles que a escolhem para passar férias com a família.

Seja com pandemia, seja com distanciamento, seja como for, a vida sempre vale a pena ser vivida, assim como ela é, pois é a única que temos, e devemos saber vive-la com todos os cuidados possíveis...

E para que assim seja, nada melhor do que fazer de cada dia, sempre um bonito dia, que é o que desejo a todos, bem vivendo a vida como ela é...

 Ilídio Bartolomeu

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