sábado, 28 de janeiro de 2023

O QUE ME LIGA A ARGOSELO?


 

Nasci em 1947, em Argoselo, num tempo em que não havia idade definida para a entrada na pré-primária e, como tal, as atividades eram muito variadas, das quais dou conta dum pequeno número: acarretar água para beber e fazer a comida em casa e fazer recados. Com a entrada na escola primária continuei a fazer aquelas e outras atividades antes e depois das aulas: regar a horta, apanhar batatas. Então, o que é que me liga  a Argoselo? É, em primeiro lugar, essa ligação à terra, às brincadeiras e num trabalho árduo em que cedo aprendíamos tudo quanto era necessário para o sustento da vida. A minha geração foi a última que viveu apinhadas de gente. Depois, veio a guerra colonial e o êxodo migratório, tendo eu escapado a ambos, vim com 15 anos para o Estoril. Ao longo de todos estes anos, nunca deixei de ir no Natal, na Páscoa e no Verão a Argoselo, foi e continuará a ser sempre, para mim, o centro do mundo, mesmo não estando lá fisicamente. Hoje é fácil comparando com o que era uma deslocação Lisboa Argoselo antes da construção do IP5.

Argoselo, para mim, esteve presente como uma espécie de laboratório natural inspirado no verso de Fernando Pessoa: Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo.

Habituado desde pequeno a olhar o serro, a ponte do Rio Maças, a ouvir os mais velhos falar das Invasões Francesas, a ouvir romances antigos só podia despertar-me para o desvendar do mistério que tudo isso encerra; testemunha da fuga dos homens e mulheres para França, das casas que uma a uma se fechavam, das searas que ficavam por ceifar, das terras que ficavam ao abandono, pressenti que algo de grave se estava a passar e que podia ser a morte inexorável da aldeia. Foi assim que, em 2000, criei o “Blog Freixagosa” escrevi Memórias de Argoselo, minha terra minha gente, para que fosse a preservação de um passado que não merece ficar esquecido. Porém, se recordo o passado, nunca me resignei a que não pudesse haver futuro.

Foi assim que, com o advento das novas tecnologias de informação e comunicação, criei, "o Blog Freixagosa", com o objetivo de manter os laços entre todos os Argoselenses espalhados pelo mundo, de os incentivar a virem cá ou para cá, de apresentar projetos (utópicos?). São 20 anos de persistência o que é uma longevidade considerável, num reino onde tudo é tão fugaz, sobrevivendo às redes sociais bem mais atrativas. São muitas horas dedicadas a Argoselo, num trabalho pro bono, que faço com imenso prazer.

Uma boa parte da minha geração entrou, recentemente, ou está a entrar na reforma, uma boa parte deles emigrantes. A primeira geração de emigrantes vem regressando aos poucos. Esta segunda geração construiu lá a sua vida e a maior parte tem lá os filhos, os netos e encontram-se divididos entre lá e cá. Quase todos acabam por vir cá no verão por causa das festas, da romaria de São Bartolomeu. Por vezes, vêm os filhos e os netos e alguns dos mais novos esperam o momento. Fala-se muito de turismo e devia estar-se muito atento a esta franja populacional que, sazonalmente, enche as nossas aldeias. É preciso saber cativá-los, sobretudo, aos mais jovens.

O contacto com a natureza é o ponto mais forte e devia ser explorado em termos de oferta turística – os rios, os campos, a observação de aves e o firmamento. Penso que todas as aldeias do concelho têm, Wi-Fi. No caso de Argoselo, o sinal  não é de péssima qualidade é o suficiente. E como é que vêjo o futuro de Argoselo daqui a uma ou duas  décadas?

Tudo, quase tudo, depende dos projetos que as próximas gestões  autárquicas venham a propor e que terá de ser projetos muito exigentes, inovadores, mobilizador que vá para além da lógica partidária, capaz de gerar confiança e mobilizar todos os interessados em dar vida à Vila.

A continuar como está, cada vez será mais insignificante. Não há milagres. É preciso saber o que se quer, qual a direção. Depois é preciso caminhar, passo a passo com o tempo que for preciso. Não é preciso esperar por toda a gente, mas é preciso que quem vá inspire confiança.

Ilídio Bartolomeu

1 comentário:

  1. O desejo por uma vida melhor, com mais realização e plenitude, parece ser relativamente comum. A maior parte das pessoas está interessada em poder ter melhores sensações e emoções, em lidar melhor com as dificuldades próprias da existência humana e desenhar trajetos de vida que possam realmente fazer a diferença. Daí as entidades competentes inspiradoras procurem uma sincera e crescente de estratégias que promovam o bem-estar e a saúde mental.
    O amigo Ilidio fala bem é um gosto ler os seus textos Argozelo é o que é um abraço

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