Nasci em 1947,
em Argoselo, num tempo em que não havia idade definida para a entrada na
pré-primária e, como tal, as atividades eram muito variadas, das quais dou
conta dum pequeno número: acarretar água para beber e fazer a comida em casa e fazer
recados. Com a entrada na escola primária continuei a fazer aquelas e outras
atividades antes e depois das aulas: regar a horta, apanhar batatas. Então, o
que é que me liga a Argoselo? É, em
primeiro lugar, essa ligação à terra, às brincadeiras e num trabalho árduo em
que cedo aprendíamos tudo quanto era necessário para o sustento da vida. A
minha geração foi a última que viveu apinhadas de gente. Depois, veio a guerra
colonial e o êxodo migratório, tendo eu escapado a ambos, vim com 15 anos para
o Estoril. Ao longo de todos estes anos, nunca deixei de ir no Natal, na Páscoa
e no Verão a Argoselo, foi e continuará a ser sempre, para mim, o centro do
mundo, mesmo não estando lá fisicamente. Hoje é fácil comparando com o que era
uma deslocação Lisboa Argoselo antes da construção do IP5.
Argoselo, para
mim, esteve presente como uma espécie de laboratório natural inspirado no verso
de Fernando Pessoa: Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no
Universo.
Habituado desde
pequeno a olhar o serro, a ponte do Rio Maças, a ouvir os mais velhos falar das
Invasões Francesas, a ouvir romances antigos só podia despertar-me para o
desvendar do mistério que tudo isso encerra; testemunha da fuga dos homens e
mulheres para França, das casas que uma a uma se fechavam, das searas que
ficavam por ceifar, das terras que ficavam ao abandono, pressenti que algo de
grave se estava a passar e que podia ser a morte inexorável da aldeia. Foi
assim que, em 2000, criei o “Blog Freixagosa” escrevi Memórias de Argoselo,
minha terra minha gente, para que fosse a preservação de um passado que
não merece ficar esquecido. Porém, se recordo o passado, nunca me resignei a
que não pudesse haver futuro.
Foi assim que,
com o advento das novas tecnologias de informação e comunicação, criei, "o Blog
Freixagosa", com o objetivo de manter os laços entre todos os Argoselenses espalhados
pelo mundo, de os incentivar a virem cá ou para cá, de apresentar projetos
(utópicos?). São 20 anos de persistência o que é uma longevidade considerável,
num reino onde tudo é tão fugaz, sobrevivendo às redes sociais bem mais
atrativas. São muitas horas dedicadas a Argoselo, num trabalho pro bono, que
faço com imenso prazer.
Uma boa parte
da minha geração entrou, recentemente, ou está a entrar na reforma, uma boa
parte deles emigrantes. A primeira geração de emigrantes vem regressando aos
poucos. Esta segunda geração construiu lá a sua vida e a maior parte tem lá os
filhos, os netos e encontram-se divididos entre lá e cá. Quase todos acabam por
vir cá no verão por causa das festas, da romaria de São Bartolomeu. Por vezes,
vêm os filhos e os netos e alguns dos mais novos esperam o momento. Fala-se
muito de turismo e devia estar-se muito atento a esta franja populacional que,
sazonalmente, enche as nossas aldeias. É preciso saber cativá-los, sobretudo,
aos mais jovens.
O contacto com
a natureza é o ponto mais forte e devia ser explorado em termos de oferta
turística – os rios, os campos, a observação de aves e o firmamento. Penso que
todas as aldeias do concelho têm, Wi-Fi. No caso de Argoselo, o sinal não é de péssima qualidade é o suficiente. E como
é que vêjo o futuro de Argoselo daqui a uma ou duas décadas?
Tudo, quase
tudo, depende dos projetos que as próximas gestões autárquicas venham a propor e que terá de ser
projetos muito exigentes, inovadores, mobilizador que vá para além da lógica
partidária, capaz de gerar confiança e mobilizar todos os interessados em dar
vida à Vila.
A continuar
como está, cada vez será mais insignificante. Não há milagres. É preciso saber
o que se quer, qual a direção. Depois é preciso caminhar, passo a passo com o
tempo que for preciso. Não é preciso esperar por toda a gente, mas é preciso
que quem vá inspire confiança.
Ilídio
Bartolomeu
O desejo por uma vida melhor, com mais realização e plenitude, parece ser relativamente comum. A maior parte das pessoas está interessada em poder ter melhores sensações e emoções, em lidar melhor com as dificuldades próprias da existência humana e desenhar trajetos de vida que possam realmente fazer a diferença. Daí as entidades competentes inspiradoras procurem uma sincera e crescente de estratégias que promovam o bem-estar e a saúde mental.
ResponderEliminarO amigo Ilidio fala bem é um gosto ler os seus textos Argozelo é o que é um abraço