Adoro pão. Faz
sempre parte do meu pequeno almoço. O cheirinho do pão acabado de cozer é
único!
Falar da Nossa Gente é trazer à
memória algumas figuras relevantes da nossa Terra!
Com pouco menos
de 1500 habitantes, a Aldeia de Argoselo, em tempos de outrora, era bem
conhecida pela sua agricultura de
centeio, que depois as padeiras da altura, davam origem, às fogaças.
A aldeia
conserva a sua traça original, os habitantes eram mais genuinamente inconformados,
bairristas, generosos e, sobretudo, unidos.
Não costumava
haver horas de ponta na aldeia, e essa era uma das vantagens de viver no mundo
rural. Mas, em Argoselo, todas as manhãs “lá pelas 5h30” começavam a ouvir-se as carrinhas do peixe, da fruta, dos
porcos e outras ao longo da rua direita. Pessoas das redondezas ocupavam a Praça com os seus burros carregados de lenha,
brasas, carvão e outros produtos, para venderem, “até de inverno”. Para depois com o dinheiro
comprar no comercio local os produtos do sustento da casa.
Era por essa
hora ou um pouco mais cedo, que as padeiras: naturais de Argoselo, Maria Gala, que
morava no Centro da Praça, Isabel Meca, na Rua da Cabreira, Adelina Atanha, no
Largo da Gabilana e Folcissima, no Largo da Espadana, que se levantavam todos
os dias, exceto aos domingos para começar a arte de bem fazer o pão. Aprenderam
a técnica – e as quantidades – com as mães. As mães aprenderam com as avós. E
assim sucessivamente.
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Fogaça de Centeio |
Com as mãos, a
padeira abre um buraco na farinha. Num movimento brusco, atira o sal. Coloca o
fermento e verte água morna com uma malga. Os braços enterram-se quase até aos
cotovelos numa mistura branca, mole e pesada, amassa muito bem e deixa-se
levedar. Por fim, tender é a arte de dar forma ao pão; e no caso do pão de Argoselo,
é preciso dar algumas voltas à massa até que adquira a forma que o caracteriza.
O descanso é
necessário para que a massa recupere o volume antes de ir para o forno. Depois
acende o forno a lenha, bem quente. Por fim a massa vai ao forno. Com o
indicador direito, desenha uma cruz na massa. E reza: “Nosso Senhor me
acrescente este pão para chegar para toda a gente”. Pouco depois, as
tradicionais fogaças de centeio ou trigo de 3K, aos tão apetecíveis moletes, estavam
prontas a devorar. Fazemos pão. E fazemo-lo como mais ninguém, pois temos nas
mãos e na alma as tradições e saberes de várias gerações.
O melhor pão faz-se compreendendo as matérias-primas e respeitando os tempos de levedura e de cozedura que a natureza exige, para conseguir o melhor e mais puro sabor. Orgulhamo-nos da nossa herança cultural e colocamos em cada fornada o nosso amor à arte de fazer pão. Tudo é feito com rigor e de forma tradicional.
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Moletes de Trigo |
Mas, como tudo
muda, também o futuro do pão é incerto. Cada vez são menos as padeiras em
atividade e as novas gerações fogem deste tipo de profissões que não permitem
férias, nem folgas, e que obrigam a uma atividade noturna que tem forçosamente
que ser conciliada com outros afazeres em horário diurno
Argoselo preserva
e promove ainda o sabor e os saberes daquela que é uma das identidades
gastronómicas mais fortes desta Vila. O verdadeiro pão Argoselense,
confecionado com massa mãe, com a particularidade do saber fazer pão, que lhe
confere um bom sabor. O miolo é muito saboroso, contrastado pela côdea
estaladiça que confere um carácter tostado ao pão.
Ilídio
Bartolomeu
OS TEUS COMENTÁRIOS SÃO BEM-VINDOS...
Tantas vezes de criança minha mãe me mandava ao pão a casa da tia Meca e da tia Folicissima pelo caminho comia os cornelhos da fogaça que sabia bem porque o pão estava bem quentinho logo de manhã cedo belas recordações tudo se vai acabando nos nossos dias Lídio Bartolomeu
ResponderEliminarMerecida homenagem às padeiras de Argoselo e ... de todas as localidades do Concelho. Parabéns.
ResponderEliminarParabéns, Ilídio, pela qualidade do seu texto que nos recorda como, ainda não há tanto tempo assim, se fazia o pão em Argozelo e tenho quase a certeza que, praticamente, em todas as aldeias da Terra de Miranda, isto é, dos concelhos de Miranda do Douro, de Vimioso e de Mogadouro. Em Angueira, o pão mais consumido era o de trigo. Havia termos próprios em mirandês como, por exemplo, "fenhir" e "furmiento", entre outros, relativos ao processo de fazer o pão. Também eu adoro e me delicio quando como pão se for idêntico ao que a minha mãe, de dez em dez dias, costumava fazer e cozer no nosso forno. Que saudade! Um abraço.
ResponderEliminarOlá!
ResponderEliminarÉ bom saber que ainda há pessoas a recordar com saudade as suas origens, ao contrário do que muita gente pensa. Ter saudades da nossa terra, é para mim, indicio de humildade e dignidade!... Continue a pensar assim!... Obrigado
Uma linda homenagem às grandes Mulheres da nossa terra. Momentos como este emocionam-me muito, porque me lembram tantos que a minha aldeia já partiram.
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