terça-feira, 11 de abril de 2023

NO MEU TEMPO A PÁSCOA! MAS QUE TEMPO!!!


 

A Fonte da Espadana
Sendo natural de Argoselo, onde vivi cerca de 16 anos, a Páscoa sempre teve uma magia muito especial e uma enorme importância! O que me deixa sempre saudades a Páscoa em Argoselo. Decidi recordar algumas das tradições populares, tradições estas que tendem a desaparecer ou a entrar na fase do esquecimento. Assim, no período da Páscoa, era costume os jovens (e não só) brincarem umas com as outras aos jogos do anel, do cântaro, da barra, do fito, bailes  entre outros.

“E isto, quando era eu novo, isto era uma maneira,  agora é diferente. A juventude era muita… os rapazes estavam a ver onde é que as (raparigas) andavam para ir ter com elas e esperá-las aos caminhos. Elas  estavam a lavar roupa no tanque e nós iam-mos lá ter, elas iam á fonte e nós iam-mos para lá botar pedritas nos cântaros para demorarem mais tempo: nós botávamos uma pedra e as raparigas tiravam-nas fora e tornavam a pô-lo na bica e nós tornávamos a botar para as raparigas estar assim mais tempo ao pé de nós ”.

O que está a acontecer nesta aldeia é um fenómeno que se repete em várias aldeias portuguesas. Os descendentes mais jovens procuram ir viver para locais mais urbanizados, e as pessoas com maior idade que ficam na aldeia, deixam de poder trabalhar devido a doenças e à falta de familiares que os ajudem. As aldeias perdem vigor e vão ficando esquecidas, até que perdem os seus últimos habitantes e eventualmente ficam abandonadas.

A aldeia que outrora era próspera na agricultura e criação de gado, começou a perder habitantes: uns emigraram outros faleceram na aldeia que os viu nascer. Os últimos habitantes viram-se para a religiosidade e para relembrar os tempos da sua infância e juventude, mas reconhecem, no seu ponto de vista, que a aldeia nunca mais tornará a ser o que era. Trata-se de um lugar que parou no tempo. O número de pessoas nascidas recentemente na aldeia é muito baixo e o número de pessoas que faleceram recentemente ou que abandonaram a aldeia é muito superior.

Os que escolhem sair da aldeia fazem-no quase sempre à procura de um futuro melhor. No entanto, há aqueles que continuam a visitar regularmente a aldeia sem nunca se desfazerem dos bens materiais como casas, campos e palheiros que ainda possuem na localidade. Outros ainda cortam totalmente o seu contacto com a aldeia
É de notar que os habitantes permanentes da aldeia quer tenham nascido cá ou tenham vindo de fora, sempre cresceram no meio rural e viveram neste ambiente durante praticamente toda a sua vida.

Em gerações passadas, sobretudo nos anos de 1950 a 1990, aldeia contou com os maiores números de habitantes de que há memória, chegando a integrar todos os anos nas inspeções militares mais de 50 jovens. As memórias destes tempos são as mais estimadas pelos habitantes que as viveram, pois relembram os anos de ouro da aldeia. Hoje em dia a aldeia ― hoje (Vila) conta com uma população total de 300 ou 400 habitantes.

Esta é uma das minhas teorias, mas o futuro da Vila e dos seus habitantes é incerto, e muitos dos seus habitantes dizem que “o Futuro a Deus Pertence”.

A realidade da Vila estende-se a muitas outras no interior do país, Vilas estas, nas quais, enquanto há habitantes e pessoas interessadas em tudo o que as Vilas têm para oferecer, a desertificação mais dificilmente se tornará uma realidade.

Ilídio Bartolomeu

2 comentários:

  1. Belos tempos Ilidio tempos que não voltam para trás...

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  2. Esta é a história... A história da minha terra, da nossa cultura, dos nossos costumes e da nossa gente. Uma história dos nossos antepassados que carrego e conto para nunca ser esquecida. É o retrato dos muitos hectares de terra que através dela se vivia de uma agricultura de subsistência. Para muitos uma oportunidade de sonho, mas para outros, apenas um recomeçar.
    Esta terra, é minha e de todos nós... É de todos aqueles que começaram, que construíram, que abandonaram e de todos aqueles que ainda hoje por aqui permanecem
    Obrigado

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