quinta-feira, 25 de maio de 2023

A ESCOLA VELHA...


 

Ora, aqui temos a "escola velha" caiada de branco e, embora seja com o dobro do tamanho (pois sofreu um aumento há alguns anos atrás para  G.N.R. e um Salão de Festas. Lembro-me que a escola tinha carteiras para dois alunos e tinham ao centro um tinteiro e escrevíamos com aparos. . A escola tinha três salas, começava às 09h00 e terminava às 05h00, pois não havia eletricidade. A aldeia teve luz muito tarde, no princípio anos sessenta perto da festa de São Bartolomeu,  é que foi inaugurada a luz elétrica. Foi uma festa. Mas uma grande festa...

Em Junho de 1968 tinha sido inaugurada, maior, novinha, bem apetrechada e cheia de crianças, a escola nova, mas já tudo mudou, tanto que a escola nova também já passou à história, as crianças acabaram e fechou portas em 2012. Resta o edifício em degradação.

 O recreio que circundava todo o edifício da “escola Velha” era grande e tinha um tanque. Os meninos brincavam separados das meninas, o recreio era a parte favorita da maioria dos alunos. Era onde podíamos brincar um bocadinho, jogávamos à bola, às corridinhas, às escondidas, à meca, ao arco, à apanhada, cabra cega,  ao jogo da roda e à corda. Estas eram algumas das nossas brincadeiras no período de recreio. Na verdade, ninguém queria saber de mais nada que não fossem as brincadeiras dos intervalos.

As salas de aula eram muito frias. O nível de ensino era baseado em decorar a matéria. Sabíamos os rios e os seus afluentes de cor, os transportes ferroviários, as serras de Portugal, e a tabuada. A aprendizagem, apesar de reduzida e decorada, era tratada com mais profundidade.

Com o aumento do número de alunos houve uma necessidade de aumentar as turmas, passando portanto a existir seis turmas com as mesmas professoras, em horário de regime duplo. As aulas do primeiro começavam às 8h30 e terminavam à 13h00, depois das 13h30 às 17h00, sendo que três turmas tinham aulas da parte da manhã e as outras três da parte de tarde. Frequentada por rapazes e raparigas separados, quase todos nos deslocávamos para ali permanecer de pé descalço.

As professora eram más, quando não sabíamos a matéria. Por tudo e por nada, à mais pequena falha, asneira ao ler ou a fazer uma conta era no mínimo duas reguadas, sempre dadas com força, parecia ter-nos ódio. Até a régua, pesada e grossa, com buracos, tinha cor amarela encardida do suor das nossas mãos. Com a dor chorávamos, soluçávamos com descrição senão levávamos mais. Púnhamos as mãos doridas entre as pernas, com o calor aliviava. Mas a dose de reguadas podia-se repetir durante o dia.

Por vezes os nossos pais diziam ao professor sobre o filho, quando o encontravam na rua casque-lhe que ele é mandrião só quer é jogar à bola na eira, é um bardino, dê-lhe, só se perdem as que caiem no chão.

Éramos felizes!...

Ilídio Bartolomeu


4 comentários:

  1. Sim, pelo menos da vida escolar de há 50 e tal anos onde se educava com violência. Talvez houvesse exceções, mas poucas!
    Em Argozelo é sabido que os professores afirmava-se sobre os seus alunos através da violência, pensando eles que era uma forma de educação, então havia na escola um artefacto chamado palmatória para castigar os alunos; eu apenas conheci uma vulgar régua, mas de tanto ouvir falar da palmatória, ela fazia parte do meu imaginário.
    Não é fácil educar os miúdos de hoje, mas não há necessidade de educar com violência.

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  2. Bom dia
    O ensino, a educação são fundamentais sempre! Gostei do seu artigo, bastante importante saber de coisas passadas e como foram sendo modificadas...
    É saudável ver mudanças de maneira crescente e aperfeiçoadoras, não é mesmo?!

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  3. É de facto preocupante o fecho de tantas escolas, mas ainda é mais preocupante a redução do número de crianças, que foi o que originou a partir de 2006 o encerramento de muitas escolas (novas e velhas ) no início desse ano letivo.
    As escolas, ano após ano, foram fechando as suas portas, por falta de crianças e os espaços de recreio silenciaram. Paralelamente foram nascendo por quase todas as aldeias dos concelhos do interior "Centros de Dia",
    Mas como estarão as nossas aldeias daqui por 10/12 anos? Haverá idosos? Ou será que os Centros de Dia começarão a fechar, tal como as escolas?

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  4. Olá!
    É bom saber que ainda há jovens a recordar com saudade as suas origens, ao contrário do que muita gente diz. Ter saudades da nossa terra, é para mim, indicio de humildade e dignidade!... Continue a pensar assim!... Obrigado a todos pela visita que têm feito!

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