Sei que as palavras não desapareceram, mas foram-se acumulando de tal forma
em mim que não consigo liberta-las. Durante este tempo que não escrevi
armazenei ideias, conversas, desejos e divagações que o tempo me impediu de
desenhar. Mas não pensem que deixei morrer a tela que traduz este lugar,
simplesmente tenho andado ocupado a recompor a minha coluna cervical.
E aqui estou eu novamente a pedir perdão aos que alimentam as minhas
palavras e mergulham comigo nas intensas linhas da minha escrita. Não só é um
órgão fundamental à minha existência, como a sua atividade regular me faz
sentir cada vez mais capaz.
Reclamamos
das rasteiras que a vida nos dá, ficamos cheios de tristezas que insistem em bater na
nossa porta, mas a verdade é que nos faça perceber que levantar é possível....
O tempo suaviza
qualquer dor. Não digo que seja capaz de extinguir, pois algumas dores que
carregamos pelo resto das nossas vidas, com certeza reduz as pontadas agudas. Mas
qual seria a graça de uma vida sem nenhum obstáculo, sem qualquer sofrimento?
É claro que,
quando algo de ruim nos acontece, ficamos arrasados e sem esperança de início.
Não existe positivismo algum que seja capaz de fazer com que não nos abalemos
com os tombos que a vida dá. Mesmo assim, o que determina o nosso reerguimento
não é o que nos fere, mas a forma como cicatrizamos as nossas feridas.
Saúde e doença
não são estados ou condições estáveis, mas sim conceitos vitais, sujeitos a
constante avaliação e mudança. Em junho de 1988, fiz a primeira cirurgia à coluna. Em 23
de dezembro de 2020, fiz a segunda cirurgia à coluna dorsal, esta muito
complicada, fiquei numa cadeira de rodas. Recentemente, 24 de junho 2023, fiz a
terceira operação à coluna cervical. Continuo numa cadeira de rodas.
Algumas pessoas
encararam a doença como estado de desconforto físico. Porque a capacidade para
trabalhar, ser produtivo e divertir-se está relacionado com a saúde física e
mental da pessoa. É social, os meus problemas de doença têm afetado outras
pessoas significativas, a família, amigos e colegas. O meu obrigado pelo apoio
que me têm dado…
Tive momentos
de raiva e revolta onde a mágoa e o rancor se faziam sentir com intensidade,
mas não ganhei nada com isso. A fé faz-nos acreditar, mesmo que no momento não
estejamos a ver o caminho ou soluções. Mas é a fé que nos dá alento nos
momentos e fases de maior dificuldade!
É tempo de
parar, relaxar e desligar um pouco. É tempo para recuperar dos anos desafiantes
que tenho tido. Tempo de trabalho interior árduo, feito por impulso da dor e da
vontade constante de ser mais, e de ser feliz todos os dias. Sim, feliz todos
os dias, por estar vivo e poder transformar-me sempre na melhor versão de mim
mesmo; feliz por cair e levantar-me, por viver a tentar, a errar e tentar de
novo sem nunca desistir do meu caminho. Feliz no meu defeito e na imperfeição
dos que me rodeiam. Porque isto de querer ver perfeição em tudo só nos leva à
frustração e ao sofrimento.
A vida
"obrigou-me" a aprender a gostar de estar comigo acima de tudo. “Tirou-me
quase tudo”. Foi difícil, mesmo com ajuda fundamental de quem me quer bem, mas
o resultado tem sido simplesmente extraordinário, apesar de nem tudo ser como
eu gostaria que fosse.
Foi isto que a
vida me mostrou, com tanta sabedoria e paciência, sem nunca desistir de me ver
vencer e de me ver mais feliz! Sorrir para às pessoas que não gostam de mim,
para mostrá-las que sou diferente do que elas pensam, calar-me para ouvir e
aprender com os meus erros. Fazer de conta que tudo está bem quando isso não é
verdade, para que eu possa acreditar que tudo vai mudar. E não temer o futuro,
a lutar contra as injustiças. Sorrir quando o que mais desejo é gritar todas as
minhas dores para o mundo.
É triste e
preocupante constatar como tantos homens têm perdido o gosto pela existência, o
sentido e o prazer de viver. Muitos deles, em momentos de desespero, acabam
tirando a própria vida por simplesmente não suportarem o peso dos sofrimentos
intensos que estão passando. Infelizmente, não conseguiram caminhar mais um
pouquinho para conseguir vislumbrar aquela Luz que sempre brilha no fim do
caminho, mesmo que estejamos no mais escuro e tenebroso túnel.
Enquanto para
alguns homens o ato de viver é uma grande festa que deve ser celebrada com
entusiasmo e gratidão, para outros, entretanto, o ato de viver tem sido um
fardo pesadíssimo devido aos problemas, às tribulações e deceções geradas por
pessoas ou acontecimentos inerentes à dinâmica da vida, ao ato de viver.
Aprendi através
da experiência controlar a minha ira e torná-la como o calor que é convertido
em energia. A nossa ira controlada pode ser convertida numa força capaz de
mover o mundo.
Blog freixagosa
Sem comentários:
Enviar um comentário