sábado, 28 de setembro de 2024

ENGRAÇADO! NINGUEM RECLAMAVA...

Engraçado.. leio e sinto a mesma coisa! Conto os dias para ir à aldeia, ver todos os tios e tias que não são mais que vizinhos numa aldeia tão grande. É pena só haver autocarro que demora 6 horas a chegar.. mas é assim.. a saudade faz-nos sorrir e aproveitar ainda mais os dias que estamos lá,

As aldeias são por norma locais pacatos, onde a vida corre devagar sem pressas, onde as relações entre as pessoas são fortalecidas pelos laços que as unem desde a nascença. Ali toda a gente se conhece, estreitando laços de amizade e de convivência salutar, ainda que como em todo o lado possam ocorrer diferendos, os quais são próprios da natureza humana.


Vila de Argoselo

Antigamente esses laços eram mais fortes e muito enraizados mercê da dureza da vida. Esses laços eram fortalecidos pela cooperação e ajuda mútua nas tarefas agrícolas, a que se apelidava de “Torna jeira”. Havia sempre esse espírito de entreajuda, que os trabalhos do campo e das vidas quotidianas impulsionavam, visto que poucos eram os que tinham acesso aos tratores ou a outro tipo de maquinaria na década de 70 e 80. Além dos terrenos irregulares e íngremes nalguns casos, que dificultavam a utilização dessas máquinas, o poder económico e as ajudas para as adquirir era residual. Ajudas essas que surgiram a partir de 1986, tendo o seu apogeu com as ajudas da CEE, que na minha opinião não desenvolveu a agricultura suficientemente nem a amadureceu, mas enriqueceu uns quantos “Chico-espertos” sem nada darem ao país (mas isso são outros assuntos).


Meninos de Escola

Nessas décadas os bois, vacas, burros e machos eram os Reis e dominavam a lavoura, sulcando os terrenos, puxando as charruas conduzidas habilmente pelo camponês. O trabalho era manual (recorrendo-se para algumas tarefas de carga principalmente aos animais), logo necessária a colaboração de muitas pessoas em lides campestres como era o caso da cegada, da apanha da azeitona, das vindimas, entre outras que possibilitavam o contacto próximo e o convívio salutar entre os trabalhadores. Apesar de árduas as tarefas, as pessoas não se queixavam (pois pouco adiantava e nada resolvia a sua situação – restava-lhes lutar pela vida e da família), visto estarem resignadas às mesmas e as que não estavam procuravam outras paragens, como era o caso das grandes cidades ou do estrangeiro.

Os Bailes nas Ruas

Mas que ninguém se iluda as cidades não vivem sem os produtos agrícolas, pois é preciso alimentar milhões de pessoas. Quem sabe o futuro … talvez o regresso de muitos à terra, não nos moldes aqui referidos mas noutros com ajuda da mecanização (como já muitos o fazem), ou através de culturas biológicas agora muito em voga. Essas tarefas árduas tinham o dom de tornar as pessoas iguais nos seus destinos, logo humildes, carinhosas, amigas … pessoas de bem, onde não havia aqueles que se achavam mais que os outros. Isso a aldeia possibilitava-o, mas agora com os novos tempos e apesar das atuais dificuldades, muitos vivem num mundo à parte onde os valores ancestrais se perderam. As amizades são agora mais ténues e pouco verdadeiras. Egocentrismo, hipocrisia, egoísmo, arrogância, são agora sentimentos que proliferam e ganham terreno nas novas gerações.

Os Putos de Férias

 Quem não se recorda (aqueles que viveram nas aldeias) das brincadeiras inocentes das crianças que se contentavam com o pouco (que era muito) que tinham, mas sorriam e brindavam a vida com os seus sorrisos estampados nos seus rostos angelicais, visto não terem conhecido o muito, que lhes corrompesse a alma com futilidades? Havia sempre nas aldeias, locais de encontro preferidos da “canalha” que brincavam à apanhada; que faziam rodar com a “gancheta” os aros que retiravam de bicicletas velhas; que jogavam ao pião; que jogavam ao “bilro”, conquistando o seu mundo imaginário.

Quem não gostava dos sentimentos cultivados nesses tempos em que os brinquedos eram feitos pela própria mão das crianças. Os berlindes eram fornecidos pela própria natureza, as andas eram feitas com a madeira retirada das florestas, os pequenos barcos flutuantes com cortiça do sobreiro. A imaginação era o limite do mundo, levando as crianças a uma felicidade genuína, livre de consumismos ou de interesses que lhes minasse a alma ou a pureza dos seus corações. 

A Espadana

Na minha aldeia um dos locais prediletos eram as bicas da Espadana, local onde a água corria livremente no tanque que era usado para o consumo humano, para (gado cavalar e gado bovino) beberem água fresca após as labutas no campo com os seus donos. Era ali que os casais namoravam às escondidas, ou nos tempos mais recentes nem tanto assim, acompanhando a evolução das mentalidades e da própria sociedade. As bicas de Espadana esconde histórias de vida, de ilusões, desilusões, amores, promessas encerradas, vidas arrastadas, felicidades vividas … Escreveram-se ali vidas e mortes de muitos residentes, trocaram-se palavras de amor, choraram-se lágrimas de sangue, beijaram-se lábios, nutriram-se sentimentos, tudo ao som da água que escorria límpida e livre, na bicas banhando e acarinhando as bocas sedentas que a recebiam como um elixir, expelido pelo céu. Perto, bem perto moravam gentes que sentiam as bicas e a aldeia como sua. Um paraíso que absorvia o silêncio das suas mentes, nas noites que passavam olhando o manto das estrelas brilhantes, imaginando o futuro. O seu e o de tantos outros que consigo cresceram …


Gradar a Terra

 Quem sabe o futuro … talvez o regresso de muitos à terra, não nos moldes aqui referidos mas noutros com ajuda da mecanização (como já muitos o fazem), ou através de culturas biológicas agora muito em voga. Essas tarefas árduas tinham o dom de tornar as pessoas iguais nos seus destinos, logo humildes, carinhosas, amigas … pessoas de bem, onde não havia aqueles que se achavam mais que os outros. Isso a aldeia possibilitava-o, mas agora com os novos tempos e apesar das atuais dificuldades, muitos vivem num mundo à parte onde os valores ancestrais se perderam. 

As Vacas para os Lameiros

As amizades são agora mais ténues e pouco verdadeiras. Egocentrismo, hipocrisia, egoísmo, arrogância, são agora sentimentos que proliferam e ganham terreno nas novas gerações. Quem não se recorda (aqueles que viveram nas aldeias) das brincadeiras inocentes das crianças que se contentavam com o pouco (que era muito) que tinham, mas sorriam e brindavam a vida com os seus sorrisos estampados nos seus rostos angelicais, visto não terem conhecido o muito, que lhes corrompesse a alma com futilidades? 

o Jogo dos Arcos

Havia sempre nas aldeias, locais de encontro preferidos da “canalha” que brincavam à apanhada; que faziam rodar com a “gancheta” os aros que retiravam de bicicletas velhas ou com arames; que jogavam ao pião; que jogavam à corda, conquistando o seu mundo imaginário. Quem não gostava dos sentimentos cultivados nesses tempos em que os brinquedos eram feitos pela própria mão das crianças. Os berlindes eram fornecidos pela própria natureza, as andas eram feitas com a madeira retirada das florestas, os pequenos barcos flutuantes com cortiça do sobreiro.

A imaginação era o limite do mundo, levando as crianças a uma felicidade genuína, livre de consumismos ou de interesses que lhes minasse a alma ou a pureza dos seus corações.


O Lavrador

A memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está em permanente evolução aberta a dialética da lembrança. A História é a reconstrução sempre problemática e incompleta do que não existe mais. A memória é um fenómeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente; a História, uma representação do passado.

Era apenas um adolescente que vivia na aldeia, não havia praia, apenas a ribeira dos inverniços e a ribeira das maças, mas ninguém me tirava o amor e a paz que esta terra trazia.


Blog Freixagosa


Blog Freixagosa


 





quinta-feira, 12 de setembro de 2024

CULTIVAR BOAS E MÁS LEMBRANÇAS DA MINHA TERRA!

Quando comecei a escrever sob o título de “lembranças” da minha terra, o que não deixava de refletir a motivação maior que me levou a enfrentar o desafio que era inteiramente novo para mim. Escrever artigos logo deixou de ser um simples exercício de memória, para significar algo mais profundo.

Casa dos Quinas Rua Principal

Ao remexer nas lembranças da infância e da juventude, eu não restaurava o passado, nem buscava lá refugiar-me. Como disse em certa ocasião, ao rememorar as coisas que já se foram, ao lembrar o passado, eu o estou revivendo, pois esse passado mora em mim. É admitir que guardo na lembrança os momentos que vivi ou que presenciei, as pessoas com quem convivi e que foram importantes ao longo da minha vida.

Casa e Capela da Menina Judite


 Mesmo os jovens, gostam de relembrar factos passados. Por que negar que tenho saudade das vagabundagens que, menino, fazia pelas ruas da aldeia? Assim, eu faço com que ele se faça presente, sem alhear-me dos factos de agora. Nenhum saudosismo, somente saudade. Não quero substituir o presente pelo passado. Quero apenas fazer com que este continue vivo enquanto eu também estiver.

Casa da Dona Arminda  na Praça

 Por que negar que tenho saudade das vagabundagens de menino? Situações especiais passadas podem aumentar a nossa resiliência, ou seja a capacidade de enfrentar situações difíceis do nosso quotidiano. Por outro lado, as lembranças negativas podem ter o efeito contrário. Raiva, mágoa e tristeza, podem-nos deixar mais vulneráveis.

Casa do Sr. Abiel na Praça

A minha intenção, como disse, é apenas de revisitar o passado, fazendo com que ele, que continua vivendo em mim, reapareça em toda sua magia, sem que, com isso, eu perca contacto com as realidades do dia a dia. E para isso, nem é necessário que aquele lugar específico, aquele facto ou aquelas pessoas, tenham tido um papel determinante no passado.

Casa no Bairro de Baixo

A solidariedade e a união entre as pessoas eram notórias e foi isso que me deu vontade para escrever sobre o passado. “Havia uma proximidade muito grande, as pessoas como eram muito pobres estavam sempre disponíveis a ajudar: era uma pitadinha de sal, um bocadinho de azeite que se ia buscar ao vizinho para fazer o caldo… e se a vizinha estava doente ia-se logo levar uma sopinha e um pão”.

Casa do Tio Muxa Bairro de Baixo

 No meio de tanta dificuldade” os meus textos que retratam, sobretudo, a realidade. As dificuldades que se viviam eram imensas: a fome, a miséria, as doenças. A tuberculose, que vitimou muita gente no séc. XX, é assunto nos textos, bem como os maus-tratos e a violência doméstica, numa altura em que “era comum o homem bater na mulher”.

Casa do Tio Namora Bairro de Baixo

No entanto, as dificuldades eram esquecidas quando nos juntávamos para brincar. “No meio de toda a dificuldade havia de facto uma grande solidariedade entre as pessoas. Quando vínhamos para a rua, fazíamos uma bola de trapos e tudo isso era esquecido momentaneamente”, “As crianças eram pobres, mas ao mesmo tempo felizes e sonhávamos. Esses sonhos, essa liberdade de sonhar e de pensar ninguém nos arrancava”.

Casa do Tio Toucinho Bairro de Baixo

Enquanto estive na Minha Aldeia, foi uma lição de vida muito grande, e por isso decidi que as memórias escritas nos meus textos fiquem registados também como um “documento social importante para as novas gerações”.

Blog Freixagosa

sábado, 7 de setembro de 2024

O HOMEM DO TEATRO

 



Bem se pode dizer que Domingos Ferreira, é uma figura atípica do teatro Argoselense. Pela dramaturgia em si mesma, pela ação e iniciativa no meio teatral, mas também, ainda, pela forma como concilia essa atenção e vocação pelas atividades do teatro, com uma vida empresarial em áreas bem distintas e bem definidas da indústria e do comércio. E sempre numa base de cultura e de qualidade.

Domingos Ferreira, é um dos elementos que faz parte de uma equipa de quatro ou cinco elementos. Esses cargos são uma formalidade, pois acima de tudo, são uma família, com tudo o que ela tem de bom e de menos bom, com discussões, ideias diferentes, mas também com muita alegria e muito espírito de entreajuda, com o mesmo objetivo, que é engrandecer a festa da Amizade.

Obrigado e um abraço