quinta-feira, 12 de setembro de 2024

CULTIVAR BOAS E MÁS LEMBRANÇAS DA MINHA TERRA!

Quando comecei a escrever sob o título de “lembranças” da minha terra, o que não deixava de refletir a motivação maior que me levou a enfrentar o desafio que era inteiramente novo para mim. Escrever artigos logo deixou de ser um simples exercício de memória, para significar algo mais profundo.

Casa dos Quinas Rua Principal

Ao remexer nas lembranças da infância e da juventude, eu não restaurava o passado, nem buscava lá refugiar-me. Como disse em certa ocasião, ao rememorar as coisas que já se foram, ao lembrar o passado, eu o estou revivendo, pois esse passado mora em mim. É admitir que guardo na lembrança os momentos que vivi ou que presenciei, as pessoas com quem convivi e que foram importantes ao longo da minha vida.

Casa e Capela da Menina Judite


 Mesmo os jovens, gostam de relembrar factos passados. Por que negar que tenho saudade das vagabundagens que, menino, fazia pelas ruas da aldeia? Assim, eu faço com que ele se faça presente, sem alhear-me dos factos de agora. Nenhum saudosismo, somente saudade. Não quero substituir o presente pelo passado. Quero apenas fazer com que este continue vivo enquanto eu também estiver.

Casa da Dona Arminda  na Praça

 Por que negar que tenho saudade das vagabundagens de menino? Situações especiais passadas podem aumentar a nossa resiliência, ou seja a capacidade de enfrentar situações difíceis do nosso quotidiano. Por outro lado, as lembranças negativas podem ter o efeito contrário. Raiva, mágoa e tristeza, podem-nos deixar mais vulneráveis.

Casa do Sr. Abiel na Praça

A minha intenção, como disse, é apenas de revisitar o passado, fazendo com que ele, que continua vivendo em mim, reapareça em toda sua magia, sem que, com isso, eu perca contacto com as realidades do dia a dia. E para isso, nem é necessário que aquele lugar específico, aquele facto ou aquelas pessoas, tenham tido um papel determinante no passado.

Casa no Bairro de Baixo

A solidariedade e a união entre as pessoas eram notórias e foi isso que me deu vontade para escrever sobre o passado. “Havia uma proximidade muito grande, as pessoas como eram muito pobres estavam sempre disponíveis a ajudar: era uma pitadinha de sal, um bocadinho de azeite que se ia buscar ao vizinho para fazer o caldo… e se a vizinha estava doente ia-se logo levar uma sopinha e um pão”.

Casa do Tio Muxa Bairro de Baixo

 No meio de tanta dificuldade” os meus textos que retratam, sobretudo, a realidade. As dificuldades que se viviam eram imensas: a fome, a miséria, as doenças. A tuberculose, que vitimou muita gente no séc. XX, é assunto nos textos, bem como os maus-tratos e a violência doméstica, numa altura em que “era comum o homem bater na mulher”.

Casa do Tio Namora Bairro de Baixo

No entanto, as dificuldades eram esquecidas quando nos juntávamos para brincar. “No meio de toda a dificuldade havia de facto uma grande solidariedade entre as pessoas. Quando vínhamos para a rua, fazíamos uma bola de trapos e tudo isso era esquecido momentaneamente”, “As crianças eram pobres, mas ao mesmo tempo felizes e sonhávamos. Esses sonhos, essa liberdade de sonhar e de pensar ninguém nos arrancava”.

Casa do Tio Toucinho Bairro de Baixo

Enquanto estive na Minha Aldeia, foi uma lição de vida muito grande, e por isso decidi que as memórias escritas nos meus textos fiquem registados também como um “documento social importante para as novas gerações”.

Blog Freixagosa

8 comentários:

  1. A diversão dessas brincadeiras segue viva na memória dos adultos e nos recintos das escolas, mas bem que poderia estar mais presente na rotina da meninada, concordam? Por isso, este texto é um convite para iniciar esse resgate tão importante para o desenvolvimento infantil quanto para a própria comunidade. Vamos nessa? abraço

    ResponderEliminar
  2. Olá Amigo
    Que atire a primeira pedra quem nunca fez um comentário saudoso, relembrando o tempo em que era criança, dizendo que as brincadeiras antigas eram muito mais divertidas!
    abraço

    ResponderEliminar
  3. Um passado onde as pessoas eram ou foram felizes com muito pouco . Mas um presente cheio de hipocrisia e invejas . Infelizmente .

    ResponderEliminar
  4. Olá amigo
    Hoje falam de barriga cheia; mas nós sabemos o que passamos. Não passes cartão amigo a estes que nada sabem o que era a vida naquele tempo. Continua a escrever: o que fomos e oque hoje somos

    Um grande abraço

    ResponderEliminar
  5. Aos amigos anónimos o blog freixagosa, não dá respostas sem saber para quem...

    ResponderEliminar
  6. Bom dia
    Não sei se me daria bem a viver definitivamente numa aldeia assim tão calma, mas é bem verdade que hoje dou muito mais valor a estes ambientes do que dava há uns anos atrás. Mas hoje em dia sabe-me pela vida ir lá passar uns dias. Aquela calma, aquele ar, aquela paisagem... Enfim. É pena que atualmente seja preciso pagar um dinheirão em portagens para lá chegar - ou o equivalente em gasóleo - e não dê para ir lá com a regularidade que gostaria.

    ResponderEliminar
  7. Sou uma sortuda por viver num lugar assim... Trabalho na cidade mas o meu refúgio é no sossego da aldeia... A viagem diária é uma chatice mas assim que chego ao nosso cantinho compensa tudo!

    ResponderEliminar
  8. Eu sou precisamente o contrário... desde pequena que me diziam "quando fores mais velha vais ver se não queres é o campo/aldeia"... hoje tenho 24 e não sinto esse apelo de forma alguma, nem para viver nem para férias. De todo. Preciso de ter pessoas, barulho, movimento de noite e dia à minha volta e gosto mais de cidades efervescentes 365 dias por ano em vez da pasmaceira e das sestas à tarde :) (não sou do contra, é só uma opinião

    ResponderEliminar