quarta-feira, 23 de agosto de 2017

CASA BROZINADA DOS QUINAS EM ARGOSELO


O património arquitetónico de Argozelo é muito diversificado e riquíssimo, na medida em que encontramos inúmeros testemunhos de diversas épocas e estilos. Desde a casa típica transmontana com a lousa de xisto a servir de pilar de alpendre na escadaria exterior à pequena janela ao nível da rua que permitia transações rápidas na época em que comerciantes conviviam com lavradores e os contrabandistas, em períodos conturbados nos reinos da península, se escondiam dos agentes de autoridade.

Não pretendo desvalorizar as construções atípicas de Chalés suíços, com telhados a espantar neve que nunca por aqui se viu, mas que emigrantes fizeram questão de importar, talvez por afirmação mas, principalmente, para deixar a marca no tempo da sua história de vida.

Do universo que descrevo sobressai a Casa Brasonada dos Quinas iniciada a sua construção no ano 1622 e terminada por volta de 1720, altura em que se edificou a capela.
São sensivelmente 100 anos que atravessam gerações de argozelenses que certamente não ficaram indiferentes a este edifício. Convém recordar que a paisagem urbanística no local era desprovida de construções e a proximidade com a Igreja Matriz fazia perceber a necessidade de ampliar o perímetro urbano, demasiado encaixado nos vales que desembocavam nos Inverniços, facto que não era alheio o acesso à água nos cursos naturais.

Não é minha intenção refletir sobre o contexto político da época que isso levar-me-ia a justificar porque há tantos Filipes! Não apenas em Argozelo, entre os séculos XVII e XVIII, edificaram-se inúmeras casas, solares, palácios e quintas de recreio. Este facto está diretamente relacionado com o domínio filipino que contribuiu para a melhoria de condicionantes económicas, sociais, políticas e culturais dos seus encomendantes.

Neste caso em concreto a extinção da comunidade religiosa do Castro de Avelãs e a passagem dos seus bens para a futura diocese de Bragança/Miranda (1545) permitiu que o tributo religioso deixasse de fugir vertiginosamente para o clero regular para se centrar no clero secular.

Os tributos para a igreja terão subido exponencialmente considerando que os Judeus quiseram integrar-se na sociedade sob a forma de Cristãos Novos e isso fez-se à custa de grandes donativos para a igreja criando algumas tensões sociais como aquelas que se reportavam ao transporte do Palio em dias de Procissão.

É neste contexto que a família Quina consegue amealhar o suficiente para, em gerações posteriores, mandar edificar tamanho colosso. Esta demonstração de poder termina com a obtenção de Brasão de Fidalguia.

Dito isto, a Casa Brasonada dos Quinas é um património Ecuménico na medida em que se fez a custa de, pelo menos, duas religiões.

Esta e outras histórias mereciam ser contadas, desde o seu interior, de portas abertas à comunidade.

É um crime permitir que esta história seja contada até que se esqueça - até não ficar pedra sobre pedra

 

Escrito Por
Luiz Rodrigues


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