O património
arquitetónico de Argozelo é muito diversificado e riquíssimo, na medida em que
encontramos inúmeros testemunhos de diversas épocas e estilos. Desde a
casa típica transmontana com a lousa de xisto a servir de pilar de alpendre na
escadaria exterior à pequena janela ao nível da rua que permitia transações
rápidas na época em que comerciantes conviviam com lavradores e os contrabandistas,
em períodos conturbados nos reinos da península, se escondiam dos agentes de
autoridade.
Não pretendo
desvalorizar as construções atípicas de Chalés suíços, com telhados a espantar
neve que nunca por aqui se viu, mas que emigrantes fizeram questão de importar,
talvez por afirmação mas, principalmente, para deixar a marca no tempo da sua
história de vida.
Do universo que
descrevo sobressai a Casa Brasonada dos Quinas iniciada a sua construção no ano
1622 e terminada por volta de 1720, altura em que se edificou a capela.
São sensivelmente 100 anos que atravessam gerações de argozelenses que
certamente não ficaram indiferentes a este edifício. Convém recordar que a
paisagem urbanística no local era desprovida de construções e a proximidade com
a Igreja Matriz fazia perceber a necessidade de ampliar o perímetro urbano,
demasiado encaixado nos vales que desembocavam nos Inverniços, facto que não
era alheio o acesso à água nos cursos naturais.
Não é minha
intenção refletir sobre o contexto político da época que isso levar-me-ia a
justificar porque há tantos Filipes! Não apenas em Argozelo, entre os séculos
XVII e XVIII, edificaram-se inúmeras casas, solares, palácios e quintas de
recreio. Este facto está diretamente relacionado com o domínio filipino que
contribuiu para a melhoria de condicionantes económicas, sociais, políticas e
culturais dos seus encomendantes.
Neste caso em
concreto a extinção da comunidade religiosa do Castro de Avelãs e a passagem
dos seus bens para a futura diocese de Bragança/Miranda (1545) permitiu que o
tributo religioso deixasse de fugir vertiginosamente para o clero regular para
se centrar no clero secular.
Os tributos
para a igreja terão subido exponencialmente considerando que os Judeus quiseram
integrar-se na sociedade sob a forma de Cristãos Novos e isso fez-se à custa de
grandes donativos para a igreja criando algumas tensões sociais como aquelas
que se reportavam ao transporte do Palio em dias de Procissão.
É neste
contexto que a família Quina consegue amealhar o suficiente para, em gerações
posteriores, mandar edificar tamanho colosso. Esta demonstração de poder
termina com a obtenção de Brasão de Fidalguia.
Dito isto, a
Casa Brasonada dos Quinas é um património Ecuménico na medida em que se fez a
custa de, pelo menos, duas religiões.
Esta e outras
histórias mereciam ser contadas, desde o seu interior, de portas abertas à
comunidade.
É um crime
permitir que esta história seja contada até que se esqueça - até não ficar
pedra sobre pedra
Escrito Por
Luiz Rodrigues
Sem comentários:
Enviar um comentário