Humberto do Fundo |
É com imensa alegria que dedico em nome do meu Projeto, este meu artigo a dois amigos mais conhecidos em Argoselo. Ao saudoso Sr. Humberto do Fundo, com a carinhosa alcunha “Tio Limpa Chaminés,” possivelmente o último peleiro de Argoselo. Ao Sr. José Fernandes, com afetuosa alcunha “Tio Conde,” que se encontra ainda entre nós, provavelmente um dos melhores atores e organizadores de comedias em Argoselo. Quero expressar os meus sinceros agradecimentos e gratidão pelo trabalho solidário, interativo e por todo apoio que deram a este evento, o filme Tradições, Usos e Costumes de Argoselo. Tenho pela memória do Sr. Humberto do Fundo, um carinho muito especial, na verdade ele partilhou comigo aquilo que tinha de mais precioso, a memória do Seu Povo, as Tradições, e o gosto de ser negociante, além de peles, o ferro velho, nunca esquecendo também a sua terna mas firme religiosidade… um homem sempre pronto quando o chamavam para ajudar a colocar o Senhor do Bonfim no andor para os dias das Festas, nos dias hoje, já não acontece bem assim, se por vezes não houver alguma contra partida.
Vi, comovido, quase as lágrimas de saudade a
escorrerem pela sua face quando me falava do seu tempo de mocidade, e do tempo
dos velhos marranos, rosto curtido por muitos Invernos, mais parecia um velho
pergaminho…Que Deus esteja sempre consigo, Tio Humberto, no lugar onde
estiveres, e quando fizeste a tua última viagem finalmente para junto dos teus
antepassados, do Povo de Deus, do Teu Povo, sei que foste acompanhado por
tantas Luzes como aquelas que tu acendestes na Igreja muitos dias, e à noite as
velhas candeias de azeite puro a ELE, com as torcidas rezadas (como o Tio
Humberto o bem sabia rezar), como quem desfia um rosário. (Ano 2014 em que
prematuramente, faleceu).
O Sr. José Fernandes “Tio Conde”, é
um homem pragmático, é-lhe fácil analisar tempos passados, Tradições e Costumes
do Seu Povo, e do modo como narra, tem a ver com a sua personalidade. Certamente
é uma figura carismática de Argoselo, com um vasto conhecimento a explicar os
Usos e Costumes, é tarefa fácil sintetizar quem é o “Tio Conde “em meia dúzia
de palavras, um sonhador. Uma pessoa fora do tempo, imaginário do que pretende
esclarecer à sua maneira, mas que se entende perfeitamente. “O Tio Conde
“carpinteiro de profissão, também nunca esqueceu a sua afetuosa e frequentemente
a religiosidade…
Estas duas personalidades estiveram
desde que os conheço, sempre em contato com ritos, costumes e culturas, uma
experiência engrandecedora e, ao mesmo tempo, algo desafiador, na medida em que
nos colocam frente a frente com outras formas de ver e interpretar o mundo e as
próprias relações humanas. Nesse sentido, mergulhar no universo do outro,
compreendê-los nos seus contextos, sem julgamentos e expectativas, pode tornar-se
tarefa árdua, especialmente num tempo de urgência na busca por respostas e
definições. Assim, a linguagem audiovisual torna-se, também, ferramenta de
aproximação das diferenças e de estímulo para novas perceções.
É este o convite que regista os
rituais de uma aldeia, que estas duas pessoas nos deixam e que levanta questões
atuais deste povo, como a preocupação dos mais novos em manter as tradições, e
mudanças nos hábitos, revelaram-me um dia, estes dois amigos.
Património cultural: é o conjunto
de todos os bens, que, pelo seu valor próprio, devem ser considerados de
interesse marcante da nossa identidade, neste caso, de uma região. As tradições
falam mais alto na Vila de Argoselo, um local em que os hábitos têm passado ao
lado de todos os responsáveis, que tinham o dever de estimular a população,
para a relevância em preservar os hábitos deixados pelos antepassados.
Estas duas pessoas,
reconhecidos pelo povo como grandes atores, com os seus saberes, experiências,
tradições e cultura, davam vida e alma às comédias de rua, fazendo rir e
alegrando as pessoas. Também as festas religiosas e populares dão vida a essa
memória. A aldeia agora Vila, embelezava-se para festejar os seus Santos Padroeiros
especialmente no período de Verão. As feiras, outrora espaços privilegiados de
convívio e comércio, hoje, numa mostra de atividade reduzida.
José Fernandes |
As
manifestações culturais são tradições de cada região, que são recriadas
coletivamente pelos próprios habitantes, mas nos dias de hoje, torna-se difícil
para recriar uma comédia com tantos figurantes precisos, para que elas se
mantivessem de geração em geração, de modo a que não fosse esquecida a cultura deste
Povo Argoselo.
Outros
Amigos, que com o seu trabalho solidário prestado a este projeto, também me
merecem ser lembrados com carinho e ternura. O saudosismo sempre é válido
tratando-se de amigos que nos marcam para sempre. Também quero expressar os
meus sinceros agradecimentos e gratidão pelo apoio, demonstrado, logo que os
abordei, puseram-se imediatamente ao dispor, com o seu tempo de trabalho
solidário e à vontade para levar avante as filmagens da Segada, pelos
ensinamentos que colhi, na certeza da contribuição árdua destes amigos, quero manifestar
aos que já faleceram os meus pêsames, saudades e a minha homenagem. Aos que
ainda estão entre nós os meus agradecimentos e a merecida homenagem.
Passo a cita-los; como é óbvio alguns vou
trata-los pelas carinhosas alcunhas: Sra. Maria da Glória, Sra. Balbina, Sr.
Alfredo Oliveira, tio Salazar, Sr. António Vermelho, Sr. Fernando Checas, Sr. Júlio
Tomé, tio Peixe, Sr. Nataniel Bartolomeu, Sr. Carlos Oliveira, Sr. João Fernandes,
Maria do Carmo Oliveira, Justina Oliveira, Sofia Bartolomeu e Maria do Carmo
Santos. Todos eles e elas foram simplesmente amavelmente maravilhosos. Por isso,
estejam lá onde estiverem, um especial agradecimento a todos que patrocinaram
com a sua contribuição, um bem ajam por ser viabilizado este meu projeto, com
valor patrimonial que vai ser de todos os Argoselenses:
Ao Sr.
Humberto do Fundo, deixo a minha mais profunda homenagem. Amizade não é sobre quem
vem primeiro ou quem vem por último. É sobre quem vem e nunca vai embora.
Ao Sr. José
Fernandes, os meus sinceros agradecimentos. Um dia, perguntaram-me: quanto vale
um amigo? Respondi: não sei, os que eu tenho, ganhei… Não estão à venda e não
tem preço.
À querida
comunidade de Argoselo. Quero desejar a todos muita saúde e prosperidade. Que todos
possam realizar todos os vossos sonhos e que possam desfrutar de toda
felicidade que houver neste mundo.
Ilídio
Bartolomeu
Humberto Luis do Fundo, como gostava de ser conhecido.
ResponderEliminar