sábado, 17 de agosto de 2019

O QUE A LENDA NOS DIZ SOBRE SÃO BARTOLOMEU...


Temos obrigação de salvar tudo aquilo que ainda é suscetível de ser salvo, para que os nossos netos, embora vivendo num Argoselo diferente, se conservem Argoselenses como nós, e capazes de manter as suas raízes culturais mergulhadas na herança que o passado nos legou.

De acordo com a tradição local e com as histórias que o povo conta, São Bartolomeu foi morto e esfolado, uns dizem que foi deitado ao mar e outros que foi deitado num rio, aparecendo o seu corpo na água dia 24 de Agosto

Diz a lenda, que em tempos que já lá vão, dois pastores durante o inverno guardavam as suas ovelhas na Capela Primitiva de São Bartolomeu, os dias iam passando e as ovelhas começavam a ficar sem lã e depois apareciam mortas. Os pastores não compreendiam a razão das suas mortes, e começaram a culpar o Santo por esta desgraça. Para se vingarem, levaram o santo a rastos pela ladeira abaixo até ao rio Sabor. Quando chegaram ao rio um dos pastores disse para o Santo: Já estás cansado? Fuma primeiro este cigarro! e meteu-lhe um cigarro na boca. Depois diz o outro: Tu deste-lhe de fumar e eu vou dar-lhe de beber. Agarrou-o, amarrou e espetou-o com a cabeça no rio. Feito isto, abandonaram-no para que a corrente o levasse e vieram embora.

Um peliqueiro que se deslocava de Coelhoso para passar o rio no local onde era mais baixo, viu o Santo na margem e reconhecendo-o carregou-o na mula, levou-o para a capela e colocou-o novamente no seu altar. Quando chegou ao povo contou o que se tinha passado e as pessoas questionavam quem teria sido.

Entretanto, a mula do peliqueiro que tinha trazido o Santo para cima, durou anos e anos e nunca mais morria. O Peliqueiro teve durante anos aquela mula em casa e acabou por mandá-la matar, pois já estava tolhida e não andava.

Dos dois pastores só se ouviu falar mais tarde quando as suas famílias, depois de um ter morrido queimado (o que lhe pôs o cigarro na boca) e outro afogado (o que o pôs no rio), terem contado o que tinha acontecido.

Mais tarde foi construída no local, a uns trezentos metros um majestoso Templo com uma Torre, bem como depois uns anos mais tarde seis Capelinhas com os Apóstolos, transformando o sítio no atual Santuário de São Bartolomeu.

Esta é a lenda contada pela maioria dos argoselenses. Noutras terras, em que também é feito o culto a São Bartolomeu existem outras lendas com versões diferentes.

Apesar de ter um Templo, o Santo permanece todo o ano na Capela Primitiva. Isto porque, segundo a população, ele “prefere” estar na Capela dele. Então, em Procissão dois dias antes da festa, é que é mudado para o Templo, para depois no dia da festa, numa grande procissão, ser levado de novo para a capela de origem, onde fica até ao ano seguinte.

A festa de São Bartolomeu que decorre todos os anos no dia 24 de Agosto é, pela sua projeção para além-fronteiras, a mais conhecida da região. São verdadeiras enchentes de romeiros que se deslocam ao santuário situado nas imediações desta terra, vindos de todo o distrito e não só (há inclusive muitos emigrantes que vêm exclusivamente para as cerimónias religiosas) para prestar devoção ao Santo

Durante o resto do ano, também vale a pena visitar este santuário de beleza paisagística inigualável, onde se pode ter uma magnífica panorâmica sobre o vale do Sabor e apreciar um saboroso piquenique à sombra de ramosas árvores em qualquer época do ano.

As mordomias de São Bartolomeu, são nomeadas de quatro em quatro anos e todas elas, têm feito algumas obras conforme se verificam no Santuário, mas muita gente de Argoselo e os muitos visitantes devotos do Santo ficam perplexos como ainda não se fizeram esforços para o melhoramento do recinto.

Sabemos finalmente que a mordomia atual tem um projeto para requalificar o recinto com obras que rondam os 300 mil euros conforme projeto divulgado e exposto no recinto em 2014. Aguardamos ansiosamente pelas mesmas duma vez que são tão necessárias.

Em Argoselo vivem-se dias de festa com a duração de dois dias 23 e 24. O ponto alto no dia 24 de Agosto é consagrado ao Santo, sendo as celebrações antecipadas por uma Procissão de velas no Planalto. Não existem muitas mudanças a assinalar, pois desde os primórdios a romaria conserva as genuínas tradições, onde as festividades religiosas e pagãs se misturam.

Antigamente, inúmeros romeiros chegavam a pé ou em burros. Vinham de longe ou de perto trazendo valiosas oferendas, e prestar culto ao seu Milagroso São Bartolomeu, como sinal de pagamento de promessas realizadas.

As cerimónias religiosas começam com uma missa na Capela Primitiva (Capela Velha) da parte da manhã, a partir da tarde destaca-se a Eucaristia celebrada no Templo (Capela Nova). Finda a missa segue-se a procissão desde o Templo até à Capela Primitiva num percurso de trezentos metros acompanhada pela banda de música, no final o sacerdote profere uma curta homilia e o adeus até o ano seguinte. Para finalizar há uma grande salva de morteiros. Esta é conhecida por ser uma das mais grandiosas procissões Argoseleiras e da região.

Estes rituais tradicionais misturam-se com a religiosidade. Há crenças, devoções e superstições que o homem mistura com a fé acreditando podendo ser a chave de alguns problemas.

Ilídio Bartolomeu


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