Temos obrigação
de salvar tudo aquilo que ainda é suscetível de ser salvo, para que os nossos
netos, embora vivendo num Argoselo diferente, se conservem Argoselenses como
nós, e capazes de manter as suas raízes culturais mergulhadas na herança que o
passado nos legou.
De acordo com a
tradição local e com as histórias que o povo conta, São Bartolomeu foi morto e
esfolado, uns dizem que foi deitado ao mar e outros que foi deitado num rio,
aparecendo o seu corpo na água dia 24 de Agosto
Diz a lenda,
que em tempos que já lá vão, dois pastores durante o inverno guardavam as suas
ovelhas na Capela Primitiva de São Bartolomeu, os dias iam passando e as
ovelhas começavam a ficar sem lã e depois apareciam mortas. Os pastores não
compreendiam a razão das suas mortes, e começaram a culpar o Santo por esta
desgraça. Para se vingarem, levaram o santo a rastos pela ladeira abaixo até ao
rio Sabor. Quando chegaram ao rio um dos pastores disse para o Santo: Já estás
cansado? Fuma primeiro este cigarro! e meteu-lhe um cigarro na boca. Depois diz
o outro: Tu deste-lhe de fumar e eu vou dar-lhe de beber. Agarrou-o, amarrou e
espetou-o com a cabeça no rio. Feito isto, abandonaram-no para que a corrente o
levasse e vieram embora.
Um peliqueiro
que se deslocava de Coelhoso para passar o rio no local onde era mais baixo,
viu o Santo na margem e reconhecendo-o carregou-o na mula, levou-o para a
capela e colocou-o novamente no seu altar. Quando chegou ao povo contou o que
se tinha passado e as pessoas questionavam quem teria sido.
Entretanto, a
mula do peliqueiro que tinha trazido o Santo para cima, durou anos e anos e
nunca mais morria. O Peliqueiro teve durante anos aquela mula em casa e acabou
por mandá-la matar, pois já estava tolhida e não andava.
Dos dois
pastores só se ouviu falar mais tarde quando as suas famílias, depois de um ter
morrido queimado (o que lhe pôs o cigarro na boca) e outro afogado (o que o pôs
no rio), terem contado o que tinha acontecido.
Mais tarde foi
construída no local, a uns trezentos metros um majestoso Templo com uma Torre,
bem como depois uns anos mais tarde seis Capelinhas com os Apóstolos,
transformando o sítio no atual Santuário de São Bartolomeu.
Esta é a lenda
contada pela maioria dos argoselenses. Noutras terras, em que também é feito o
culto a São Bartolomeu existem outras lendas com versões diferentes.
Apesar de ter
um Templo, o Santo permanece todo o ano na Capela Primitiva. Isto porque,
segundo a população, ele “prefere” estar na Capela dele. Então, em Procissão
dois dias antes da festa, é que é mudado para o Templo, para depois no dia da
festa, numa grande procissão, ser levado de novo para a capela de origem, onde
fica até ao ano seguinte.
A festa de São
Bartolomeu que decorre todos os anos no dia 24 de Agosto é, pela sua projeção
para além-fronteiras, a mais conhecida da região. São verdadeiras enchentes de
romeiros que se deslocam ao santuário situado nas imediações desta terra,
vindos de todo o distrito e não só (há inclusive muitos emigrantes que vêm
exclusivamente para as cerimónias religiosas) para prestar devoção ao Santo
Durante o resto
do ano, também vale a pena visitar este santuário de beleza paisagística
inigualável, onde se pode ter uma magnífica panorâmica sobre o vale do Sabor e
apreciar um saboroso piquenique à sombra de ramosas árvores em qualquer época
do ano.
As mordomias de
São Bartolomeu, são nomeadas de quatro em quatro anos e todas elas, têm feito
algumas obras conforme se verificam no Santuário, mas muita gente de Argoselo e
os muitos visitantes devotos do Santo ficam perplexos como ainda não se fizeram
esforços para o melhoramento do recinto.
Sabemos
finalmente que a mordomia atual tem um projeto para requalificar o recinto com
obras que rondam os 300 mil euros conforme projeto divulgado e exposto no
recinto em 2014. Aguardamos ansiosamente pelas mesmas duma vez que são tão
necessárias.
Em Argoselo
vivem-se dias de festa com a duração de dois dias 23 e 24. O ponto alto no dia
24 de Agosto é consagrado ao Santo, sendo as celebrações antecipadas por uma
Procissão de velas no Planalto. Não existem muitas mudanças a assinalar, pois
desde os primórdios a romaria conserva as genuínas tradições, onde as
festividades religiosas e pagãs se misturam.
Antigamente,
inúmeros romeiros chegavam a pé ou em burros. Vinham de longe ou de perto
trazendo valiosas oferendas, e prestar culto ao seu Milagroso São Bartolomeu,
como sinal de pagamento de promessas realizadas.
As cerimónias
religiosas começam com uma missa na Capela Primitiva (Capela Velha) da parte da
manhã, a partir da tarde destaca-se a Eucaristia celebrada no Templo (Capela
Nova). Finda a missa segue-se a procissão desde o Templo até à Capela Primitiva
num percurso de trezentos metros acompanhada pela banda de música, no final o
sacerdote profere uma curta homilia e o adeus até o ano seguinte. Para
finalizar há uma grande salva de morteiros. Esta é conhecida por ser uma das
mais grandiosas procissões Argoseleiras e da região.
Estes rituais
tradicionais misturam-se com a religiosidade. Há crenças, devoções e
superstições que o homem mistura com a fé acreditando podendo ser a chave de
alguns problemas.
Ilídio
Bartolomeu
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