sábado, 26 de setembro de 2020

A GERAÇÃO MAIS BEM PREPARADA DE SEMPRE?


 Analisar o que se passa nos comportamentos dos mais jovens dá-nos a avaliação do fracasso do presente. É uma geração de direitos que esquece os deveres, adequa-se às tecnologias e incapaz para o resto, hipersensível, egoísta, que exige mas não dá. É a geração mais protegida de sempre e a mais amedrontada, que se desagrega à mínima contrariedade, sempre ligada a terminais de informação e diversão, mas apagada do que importa e incapaz de distinguir o essencial do irrelevante.

Ao conviver com os mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco tempo e com aqueles que estão provando que são gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada  e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dificuldade.

Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é obra  e para conquistar um espaço no mundo é preciso lutar muito. Com ética e honestidade  e não a cotoveladas ou aos gritos.

Este é um facto. Há uma geração de pais que está a criar monstrinhos alienados. É a geração que é incapaz de lidar com o sacrifício, com o sentido de dever, com a responsabilidade familiar, porque é fruto de uma época de paz e de prosperidade, porque é fruto da lógica de filho único e de infantocentrismo, porque foi moldada para o sucesso profissional e não para o compromisso familiar.

 Os novos pais não toleram crianças. Muito menos toleram crianças que se mexam. Ora, novidade das novidades, as crianças mexem-se. E falam. Muito. E gritam. E choram. E fazem birras. É assim desde que existe a humanidade. O problema é que antes destes novos tempos, sempre que uma criança ultrapassava os limites da boa educação, do respeito e do sossego de terceiros, levava uma palmada. Bastava um olhar. Hoje damos-lhes iPads e playstations.

Quando uma criança deve ouvir um não, hoje recebe um sim e qualquer coisa que a entretenha. Porque tudo é mais importante que educá-la para que possamos ter um ser humano decente em casa. Não há regras, porque as regras dão trabalho a implementar. Exigem paciência e eles não têm paciência. Podem ter paciência para tudo. Para jantar fora, para trabalhar até à meia-noite, para irem de férias com os amigos, para jantaradas e noites durante a semana, para desportos radicais, para irem a todos os sítios fashion,  para estar no Facebook, no Twitter, no Instagram, no Whatsapp. Mas não têm paciência para chegar a casa e perder uma hora do seu tempo a brincar com uma criança.

Não têm paciência para ouvir os miúdos porque os miúdos, claro está, só dizem asneiras, não são racionais e não medem as palavras. E esperam que eles cresçam sozinhos. Ou com uma caixa de jogos didáticos, para aprenderem enquanto brincam, ou com filmes que os fazem assimilar conceitos. Não os levam para a rua porque a rua é um perigo. Há um mar de perigos nos parques.

Nós, a geração "mais bem preparada de sempre", temos a maior taxa de alfabetização de sempre. Nunca o mundo teve tantos diplomados como agora. Somos esplêndidos. Ensinaram-nos desde pequeninos que somos esplêndidos. Disseram-nos que tínhamos direito a ter tudo e queremos ter tudo. E disseram-nos que os sacrifícios não eram necessários. Estava tudo ali. E quando faltasse alguma coisa, estavam os pais, para libertar algum dinheirito, para comprar um carro novo, para mobilar a casa, para uma beijoca, para mais um computador portátil.

 E agora têm filhos. Filhos, imagine-se! Uma geração de filhos que está a chegar, que ainda está nas barrigas ou que entrou agora para a escola. Uma geração de filhos que se enfrasca em anti-depressivos e em tecnologia para explicar à geração dos próprios pais esta coisa tão simples: a "geração mais bem preparada de sempre" é a geração mais incapaz de constituir família e de educar uma criança dos últimos séculos. E está a criar uma nova geração de pequenos e selvagens tiranos.

O que difere a nova geração das demais é, principalmente, o facto dos jovens dessa geração serem “nativos digitais”, tendo praticamente nascido junto com a internet e se ter desenvolvido junto com ela e as outras tecnologias.

Tenho-me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas  onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece porque obviamente não acontece sentem-se traídos, revoltam-se com a injustiça e boa parte se embrutece e desiste.

Nada é suficientemente bom. Então vamos fazer o que é certo, dedicar o melhor dos nossos esforços para atingir o inatingível, desenvolver ao máximo os dons que Deus nos concedeu, e nunca parar de aprender.

Tenham um bom dia.

Ilídio Bartolomeu

Sem comentários:

Enviar um comentário