Analisar o que se passa nos comportamentos dos mais jovens dá-nos a avaliação do fracasso do presente. É uma geração de direitos que esquece os deveres, adequa-se às tecnologias e incapaz para o resto, hipersensível, egoísta, que exige mas não dá. É a geração mais protegida de sempre e a mais amedrontada, que se desagrega à mínima contrariedade, sempre ligada a terminais de informação e diversão, mas apagada do que importa e incapaz de distinguir o essencial do irrelevante.
Ao conviver com
os mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco tempo e com
aqueles que estão provando que são gente grande, percebo que estamos diante da
geração mais preparada e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada
do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com
frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia,
despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo,
despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo
isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio
da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dificuldade.
Como esses
estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem
ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é obra e para conquistar um espaço no mundo é
preciso lutar muito. Com ética e honestidade
e não a cotoveladas ou aos gritos.
Este é um
facto. Há uma geração de pais que está a criar monstrinhos alienados. É a
geração que é incapaz de lidar com o sacrifício, com o sentido de dever, com a
responsabilidade familiar, porque é fruto de uma época de paz e de
prosperidade, porque é fruto da lógica de filho único e
de infantocentrismo, porque foi moldada para o sucesso profissional e não
para o compromisso familiar.
Os novos pais não toleram crianças. Muito
menos toleram crianças que se mexam. Ora, novidade das novidades, as crianças
mexem-se. E falam. Muito. E gritam. E choram. E fazem birras. É assim desde que
existe a humanidade. O problema é que antes destes novos tempos, sempre que uma
criança ultrapassava os limites da boa educação, do respeito e do sossego de
terceiros, levava uma palmada. Bastava um olhar. Hoje damos-lhes iPads e playstations.
Quando uma
criança deve ouvir um não, hoje recebe um sim e qualquer coisa que a
entretenha. Porque tudo é mais importante que educá-la para que possamos ter um
ser humano decente em casa. Não há regras, porque as regras dão trabalho a
implementar. Exigem paciência e eles não têm paciência. Podem ter paciência
para tudo. Para jantar fora, para trabalhar até à meia-noite, para irem de
férias com os amigos, para jantaradas e noites durante a semana, para desportos
radicais, para irem a todos os sítios fashion, para estar no Facebook, no Twitter, no
Instagram, no Whatsapp. Mas não têm paciência para chegar a casa e perder uma
hora do seu tempo a brincar com uma criança.
Não têm
paciência para ouvir os miúdos porque os miúdos, claro está, só dizem asneiras,
não são racionais e não medem as palavras. E esperam que eles cresçam sozinhos.
Ou com uma caixa de jogos didáticos, para aprenderem enquanto brincam, ou com
filmes que os fazem assimilar conceitos. Não os levam para a rua porque a rua é
um perigo. Há um mar de perigos nos parques.
Nós, a geração
"mais bem preparada de sempre", temos a maior taxa de alfabetização
de sempre. Nunca o mundo teve tantos diplomados como agora. Somos esplêndidos.
Ensinaram-nos desde pequeninos que somos esplêndidos. Disseram-nos que tínhamos
direito a ter tudo e queremos ter tudo. E disseram-nos que os sacrifícios não
eram necessários. Estava tudo ali. E quando faltasse alguma coisa, estavam os
pais, para libertar algum dinheirito, para comprar um carro novo, para mobilar
a casa, para uma beijoca, para mais um computador portátil.
E agora têm filhos. Filhos, imagine-se! Uma
geração de filhos que está a chegar, que ainda está nas barrigas ou que entrou
agora para a escola. Uma geração de filhos que se enfrasca em anti-depressivos
e em tecnologia para explicar à geração dos próprios pais esta coisa tão
simples: a "geração mais bem preparada de sempre" é a geração mais
incapaz de constituir família e de educar uma criança dos últimos séculos. E
está a criar uma nova geração de pequenos e selvagens tiranos.
O que difere a nova
geração das demais é, principalmente, o facto dos jovens dessa geração serem
“nativos digitais”, tendo praticamente nascido junto com a internet e se ter
desenvolvido junto com ela e as outras tecnologias.
Tenho-me deparado
com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas
casas onde o chefe seria um pai ou uma
mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja
lá o que for que queiram. E quando isso não acontece porque obviamente não
acontece sentem-se traídos, revoltam-se com a injustiça e boa parte se embrutece
e desiste.
Nada é suficientemente bom. Então
vamos fazer o que é certo, dedicar o melhor dos nossos esforços para atingir o
inatingível, desenvolver ao máximo os dons que Deus nos concedeu, e nunca parar
de aprender.
Tenham um bom dia.
Ilídio Bartolomeu
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