Tinha feito os
55 anos, fui fazer uma operação à coluna em 2002 à L4-L5, nada adiantei, depois
foi só remar contra a maré, tomando alguns calmantes e um ou dois comprimidos
próprios para as dores, fiquei incapacitado num sofá. Vivi essa situação por
18 anos. Foi um colapso psiconeurológico anunciado, pois apesar de ter uma vida
pessoal ótima, e sucesso como funcionário no Casino-Estoril, na área de
hotelaria, uma angústia muito grande me consumia por dentro, já havia dezoito
anos, muito tempo.
Nasci em
Argoselo, mas muito cedo mudei-me para o Estoril. Aos 17, iniciei a minha
carreira como empregado de mesa, caminho que me levou a trabalhar nesta
profissão três anos. Em 1971, depois me desiludir no restaurante, procurei
melhorar a minha situação, já estava casado, e já não me sentia bem com certos jogos de
lugares, hipocrisias (e às vezes pequenos) delitos pelas subidas, vistos como
coisa normal, todos queriam ganhar mais dinheiro. Fui convidado pelo Dr. Manuel
Teles para chefiar o Bar das Máquinas, que abriu em 1972. Era o início duma
chamada para uma carreira mais ambiciosa como Chefe de Barman.
Os anos foram
passando, até que aos 55 anos de idade as desilusões com o mundo para mim, se
transformaram em frustrações. Não conseguia desenvolver o meu trabalho que o os
deveres que se impunha perante os doze funcionários ao meu mando.
Não conseguia
engolir mais complicava, isso realmente ia dilapidando a minha força, até que cheguei
inclusive a perguntar-me se valia a pena continuar a trabalhar. Eu parecia não
encaixar no mundo dos que não queriam fazer nada. A minha rotina só aumentava a
minha sensação de estar sozinho e de desconexão em relação ao que me estava acontecer.
Essa mistura de
frustração e angústia deu em fúria no meu interior, e apesar da minha esposa
perceber que tinha algo de errado, nada podia fazer, a minha postura passou a
ser um pouco arrogante, eu era o dono da verdade. Mesmo chafurdado na
infelicidade (ou talvez exatamente por isso), eu tornei-me um pouco egoísta.
Tentava convencer-me que seria possível adaptar-me a outra realidade em que
queria viver.
Nada adiantava
nadar contra a correnteza, que tinha que deixar de trabalhar, cansei e passei a
tomar parte desta situação, não adiantava dar murros na mesa. Lá no fundo, isto
minava-me e eu continuava acreditando que era possível agarrar-me à ciência
médica, apesar de no meu dia-a-dia lembrar-me que uma cirurgia a duas vertebras
fraturadas e o canal da medula estreita da coluna, era um risco muito grande, mas claro tinha que habilitar-me, ou
ficava bem ou ia desta para melhor. Assim foi sobrevivi, e agora sem dores
espero a recuperação e por melhores dias, para colocar duas próteses nas ancas.
Mas agora só tenho que fazer muita fisioterapia
para recomeçar novamente a andar.
Já estou um
pouco melhor, apôs algumas sessões de fisioterapia, estou a criar alguma massa muscular nas pernas e já começo
a ter alguma força nelas. “Como diz o outro, tudo de ruim que nos acontece, é
para melhorar”.
É salutar
manter dentro somente o que nos torna maior; o que é menor por sua natureza
deve ser exteriorizado da melhor forma, gerando mais saúde e vida interior.
O renascer
promove uma nova visão da vida, fazendo-a ser mais fácil de ser entendida e
vivenciada, semeando a cada dia as sementes para as melhoras e felicidade, fazendo
voltar tudo á normalidade, além de colorir um novo viver.
Quando abro a cada manhã a janela do meu quarto, é como se
abrisse um novo livro . Numa página nova...
Ilídio
Bartolomeu
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