terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

ESTAVA NUMA IDADE BOA PARA GOZAR A REFORMA…

Tinha feito os 55 anos, fui fazer uma operação à coluna em 2002 à L4-L5, nada adiantei, depois foi só remar contra a maré, tomando alguns calmantes e um ou dois comprimidos próprios para as dores, fiquei  incapacitado num sofá. Vivi essa situação por 18 anos. Foi um colapso psiconeurológico anunciado, pois apesar de ter uma vida pessoal ótima, e sucesso como funcionário no Casino-Estoril, na área de hotelaria, uma angústia muito grande me consumia por dentro, já havia dezoito anos, muito tempo.

Nasci em Argoselo, mas muito cedo mudei-me para o Estoril. Aos 17, iniciei a minha carreira como empregado de mesa, caminho que me levou a trabalhar nesta profissão três anos. Em 1971, depois me desiludir no restaurante, procurei melhorar a minha situação, já estava casado, e  já não me sentia bem com certos jogos de lugares, hipocrisias (e às vezes pequenos) delitos pelas subidas, vistos como coisa normal, todos queriam ganhar mais dinheiro. Fui convidado pelo Dr. Manuel Teles para chefiar o Bar das Máquinas, que abriu em 1972. Era o início duma chamada para uma carreira mais ambiciosa  como Chefe de Barman.

 Os anos foram passando, até que aos 55 anos de idade as desilusões com o mundo para mim, se transformaram em frustrações. Não conseguia desenvolver o meu trabalho que o os deveres que se impunha perante os doze funcionários ao meu mando.

Não conseguia engolir mais complicava, isso realmente ia dilapidando a minha força, até que cheguei inclusive a perguntar-me se valia a pena continuar a trabalhar. Eu parecia não encaixar no mundo dos que não queriam fazer nada. A minha rotina só aumentava a minha sensação de estar sozinho e de desconexão em relação ao que me estava acontecer.

Essa mistura de frustração e angústia deu em fúria no meu interior, e apesar da minha esposa perceber que tinha algo de errado, nada podia fazer, a minha postura passou a ser um pouco arrogante, eu era o dono da verdade. Mesmo chafurdado na infelicidade (ou talvez exatamente por isso), eu tornei-me um pouco egoísta. Tentava convencer-me que seria possível adaptar-me a outra realidade em que queria viver.

Nada adiantava nadar contra a correnteza, que tinha que deixar de trabalhar, cansei e passei a tomar parte desta situação, não adiantava dar murros na mesa. Lá no fundo, isto minava-me e eu continuava acreditando que era possível agarrar-me à ciência médica, apesar de no meu dia-a-dia lembrar-me que uma cirurgia a duas vertebras fraturadas e o canal da medula estreita da coluna, era um risco muito  grande, mas claro tinha que habilitar-me, ou ficava bem ou ia desta para melhor. Assim foi sobrevivi, e agora sem dores espero a recuperação e por melhores dias, para colocar duas próteses nas ancas. Mas agora só tenho que fazer  muita fisioterapia para recomeçar novamente a andar.

Já estou um pouco melhor, apôs algumas sessões de fisioterapia, estou a criar  alguma massa muscular nas pernas e já começo a ter alguma força nelas. “Como diz o outro, tudo de ruim que nos acontece, é para melhorar”.

 É salutar manter dentro somente o que nos torna maior; o que é menor por sua natureza deve ser exteriorizado da melhor forma, gerando mais saúde e vida interior.

O renascer promove uma nova visão da vida, fazendo-a ser mais fácil de ser entendida e vivenciada, semeando a cada dia as sementes para as melhoras e felicidade, fazendo voltar tudo á normalidade, além de colorir um novo viver.

Quando abro  a cada manhã a janela do meu quarto, é como se abrisse um novo livro . Numa página nova...

Ilídio Bartolomeu



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