quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

PÃO X VINHA X OLIVEIRA- ARGOSELO

Já se referiu a influência do Castro de Avelãs na decisão das culturas agrícolas a trabalhar por estas paragens e como a mudança de paradigma, trazida pela chegada dos judeus, criou a tensão necessária à mudança.

Cereais, vinha e oliveira foram elementos dominantes na paisagem rural cultivada no país, desde as origens e aqui não foi exceção.

Falarei mais tarde na importância dos cereais como moeda de troca referindo, por agora, que o cultivo de trigo e centeio, por estas paragens, não se remeteu à alimentação pelo fabrico do pão, mas a formas de transação de bens e pagamento de impostos, tendo em conta que as moedas tinham um valor elevado para o quotidiano rural.

A importância dessas sementes era tal que, até ao séc. passado, a maior parte do terreno cultivado reservou-se a esta cultura. Na generalidade os campos eram abertos, isto é, sem qualquer tipo de muros e campos praticamente limpos de árvores, cultivados em regime de afolhamento bienal, com duas folhas, uma ocupada pelo cereal (maioritariamente o centeio, mas também algum trigo) e a outra deixada de pousio para pastos. Muito associado a práticas comunitárias e a direitos coletivos, este sistema era complementado por uma estrutura individualista de prédios fechados de regadio, implantados junto dos povoados, com hortas, árvores de fruto, vinha e lameiros.

Esta dependência económica, quase exclusiva dos cereais, trouxe miséria em anos escassos e sucumbiu à desvalorização em anos de fartura.

A introdução da vinha, exemplo bem conhecido do vale do Douro, fez-se em terrenos incultos, assim como a oliveira que em Argozelo surgiu nas encostas íngremes e não na denominada “faceira” para manter a área de sequeiro.

No séc. XVII as exportações de vinho fizeram crescer o seu valor económico e o azeite foi utilizado, em Trás-os-Montes, na produção de sabão.

Cabe aqui uma referência a outras culturas que constituíram parte, embora em menor expressão, da paisagem agrícola como a figueira, macieira, pereira e o cultivo de hortas. Estas, apesar de ocuparem uma área limitada da superfície agrária, desempenharam um papel extremamente importante na satisfação da subsistência alimentar quotidiana.

Na segunda metade do séc. XVIII deu-se a introdução da batata, pela alta de preços dos cereais e pelas crises de subsistência da época. No início do séc. XIX a sua utilização na alimentação foi generalizada.

Indica-se outro alimento que, apesar de introduzido no séc. XVI, foi neste período que encontrou rápida divulgação – o milho maís (não o painço). A sua elevada rentabilidade levou à “revolução do milho” com aplicação de técnicas de regadio que trouxeram à agricultura intensiva, de expressão ténue por estas bandas considerando as vicissitudes climáticas.

A paisagem agrícola, como se viu, não é estática ao longo do tempo – molda-se aos sabores da economia e do clima. Hoje encontra-se paulatinamente abandonada, até quando!?

Faltou referir o castanheiro e a amendoeira, um casamento que está a viver uma história um pouco atribulada. Veremos se não resulta em divórcio

 Luiz Rodrigues

 

Sem comentários:

Enviar um comentário