terça-feira, 4 de maio de 2021

DEPOIS DA TÃO DESEJADA REFORMA, QUE FAZER?


A data parecia distante, até que chegou. A vida no trabalho já estava marcada pela desmotivação. De repente, acorda-se e está-se reformado. O que fazer depois com tanto tempo?

Passamos quase dois terços da nossa vida a trabalhar. Durante todos estes anos, queixamo-nos sempre de alguma coisa, independentemente de gostarmos ou não daquilo que fazemos. É que a repetição da rotina aborrece e faz-nos pensar nos sonhos que não estamos a concretizar.

Mas o que é que faço ao meu dia? E amanhã? E depois? É que a força dos hábitos não desaparece na mesma velocidade repentina. Depois, há os amigos e colegas que se deixam nos locais de trabalho. Há a necessidade de se encher todo esse tempo.

Apesar de décadas ao serviço tornarem o descanso mais do que merecido, somos seres de hábitos. Durante toda a vida, habituamo-nos a trabalhar e a desempenhar funções para uma empresa, para uma instituição, para a sociedade. Quando, de repente, isto acaba, nasce uma espécie de sensação de vazio, de perda de utilidade. Um dos maiores problemas associados à reforma é a perda do sentimento utilidade. Por vezes até se diz: Eu sinto-me uma inútil.

Esta crença não deve ser alimentada, sob o risco de a saúde mental ficar afetada. Manter a crença de que se é um inútil, de que já não se é válido por ter uma idade avançada, caso não mantenham amizades ou um contexto social favorável e disponível, poderá dar lugar à tristeza, isolamento e depressão. É preciso é contrariá-la.

A ritmos distintos, essa sensação de inutilidade vai-se dissipando. Mas não é ao acaso,  tem de se fazer por isso. Os primeiros tempos, é que são duros, como acontece sempre que se atravessa a estranheza da adaptação. Embora haja a vantagem de se dormir e acordar quando se quer, há decisões a tomar sobre o tempo em que se está acordado. E é aí que reside a maior dificuldade.

Assim  os primeiros meses da reforma é preciso  cuidar da saúde física. Ir ao ginásio se possível, correr, andar, passear. Esta vontade de comunicar é outro ponto importante. Não raras vezes, a rotina do trabalho acabava por criar um afastamento do núcleo de amigos mais antigos. Ao mesmo tempo, aqueles que no emprego eram os nossos companheiros de todos os dias ainda estão entregues às obrigações de trabalho. Por isso, a reforma também pode representar algum isolamento, que tem de ser combatido. A proatividade é, na realidade, uma postura fundamental para que se ultrapassem as vicissitudes deste admirável e bizarro mundo novo.

Com os anos, deixamos de ter tanto contacto com as pessoas. Quando nos reformamos, temos de fazer um esforço para tentar procurá-las, para dar dois dedos  de conversa seja no banco do jardim ou no café, para nos  distrairmos. Se não formos procurar as pessoas, nem que seja no café, passamos um dia sem falar com ninguém. Faz-nos mentalmente bem conviver com outras pessoas, por isso temos de arranjar forma de o fazer.

Além de atividades individuais (hobbies em casa, estar na internet, ler um jornal, ver um filme), quanto ao exercício físico, é fundamental apostar numa vida social para manter a saúde psicológica. É importante relacionarmo-nos com outras pessoas. E, apesar de já não existir a imposição de horários de antes, alguma disciplina é indispensável ao bem estar.

É importante criar uma nova rotina, um horário pessoal flexível, mas existente, para se sentirem bem e úteis. Por exemplo: apesar de se saber que a partir desta altura se pode comer às horas que quiser, acordar quando bem lhe apetecer, convém continuar a cuidar de si e estruturar o dia, manter um horário para dormir e alimentar-se bem.

Quem ainda tiver saúde, deve manter-se ativo, fazer algo que o faça sentir-se útil, mesmo depois da reforma. O voluntariado é uma opção. É uma fase na vida que pressupõe ajustamentos e mudanças mais ou menos substanciais na vida da pessoa. Esta reorganização pode ser por vezes motivo de stresse.

Usar o lazer para fazer algo útil, promover a felicidade dos outros ou conhecer pessoas, ajudando-as serem úteis com outros propósitos.

Ilídio Bartolomeu

 

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