Passamos quase
dois terços da nossa vida a trabalhar. Durante todos estes anos, queixamo-nos
sempre de alguma coisa, independentemente de gostarmos ou não daquilo que
fazemos. É que a repetição da rotina aborrece e faz-nos pensar nos sonhos que
não estamos a concretizar.
Mas o que é que
faço ao meu dia? E amanhã? E depois? É que a força dos hábitos não
desaparece na mesma velocidade repentina. Depois, há os amigos e colegas
que se deixam nos locais de trabalho. Há a necessidade de se encher todo esse
tempo.
Apesar de
décadas ao serviço tornarem o descanso mais do que merecido, somos seres de
hábitos. Durante toda a vida, habituamo-nos a trabalhar e a desempenhar funções
para uma empresa, para uma instituição, para a sociedade. Quando, de
repente, isto acaba, nasce uma espécie de sensação de vazio, de perda de
utilidade. Um dos maiores problemas associados à reforma é a perda do
sentimento utilidade. Por vezes até se diz: Eu sinto-me uma inútil.
Esta crença
não deve ser alimentada, sob o risco de a saúde mental ficar
afetada. Manter a crença de que se é um inútil, de que já não se é
válido por ter uma idade avançada, caso não mantenham amizades ou
um contexto social favorável e disponível, poderá dar lugar à
tristeza, isolamento e depressão. É preciso é contrariá-la.
A ritmos
distintos, essa sensação de inutilidade vai-se dissipando. Mas não é ao acaso, tem de se fazer por isso. Os primeiros
tempos, é que são duros, como acontece sempre que se atravessa a
estranheza da adaptação. Embora haja a vantagem de se dormir e acordar quando
se quer, há decisões a tomar sobre o tempo em que se está acordado. E é aí que
reside a maior dificuldade.
Assim os primeiros meses da reforma é preciso cuidar da saúde física. Ir ao ginásio se
possível, correr, andar, passear. Esta vontade de comunicar é outro ponto
importante. Não raras vezes, a rotina do trabalho acabava por criar um
afastamento do núcleo de amigos mais antigos. Ao mesmo tempo, aqueles que no
emprego eram os nossos companheiros de todos os dias ainda estão entregues às
obrigações de trabalho. Por isso, a reforma também pode representar algum
isolamento, que tem de ser combatido. A proatividade é, na realidade, uma
postura fundamental para que se ultrapassem as vicissitudes deste
admirável e bizarro mundo novo.
Com os anos,
deixamos de ter tanto contacto com as pessoas. Quando nos reformamos, temos de
fazer um esforço para tentar procurá-las, para dar dois dedos de conversa seja no banco do jardim ou no
café, para nos distrairmos. Se não
formos procurar as pessoas, nem que seja no café, passamos um dia sem falar com
ninguém. Faz-nos mentalmente bem conviver com outras pessoas, por isso temos de
arranjar forma de o fazer.
Além de
atividades individuais (hobbies em casa, estar na internet, ler um jornal, ver
um filme), quanto ao exercício físico, é fundamental apostar numa vida social
para manter a saúde psicológica. É importante relacionarmo-nos com outras
pessoas. E, apesar de já não existir a imposição de horários de antes,
alguma disciplina é indispensável ao bem estar.
É importante
criar uma nova rotina, um horário pessoal flexível, mas existente, para se sentirem
bem e úteis. Por exemplo: apesar de se saber que a partir desta altura se pode
comer às horas que quiser, acordar quando bem lhe apetecer, convém
continuar a cuidar de si e estruturar o dia, manter um horário para dormir e
alimentar-se bem.
Quem ainda
tiver saúde, deve manter-se ativo, fazer algo que o faça sentir-se útil, mesmo
depois da reforma. O voluntariado é uma opção. É uma fase na vida que pressupõe
ajustamentos e mudanças mais ou menos substanciais na vida da pessoa. Esta
reorganização pode ser por vezes motivo de stresse.
Usar o lazer
para fazer algo útil, promover a felicidade dos outros ou conhecer pessoas,
ajudando-as serem úteis com outros propósitos.
Ilídio
Bartolomeu
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