domingo, 30 de maio de 2021

EM DEFESA DA CULTURA E DAS TRADIÇÕES DE UM POVO!

Costuma-se dizer que as expressões culturais são as raízes de um povo. Dizem ainda mais, que povo sem cultura é povo sem raízes. para os antropólogos, a cultura é o que constitui a maneira de viver do povo, a soma dos padrões de conduta aprendidos, atitudes e coisas materiais.

A identidade de um povo está na sua cultura. Podemos entender como tudo aquilo que é construído pelo ser humano: os mitos, símbolos, ritos, todas as crenças, todo o conjunto de conhecimentos e todo o comportamento etc. A definição popular de cultura inclui sempre as crenças, os padrões sociais, os princípios, os valores religiosos, os usos e costumes e os traços materiais. Portanto, conhecer e valorizar a  cultura Argoselense, são auto-afirmações do que somos.

Contudo, as gestões públicas locais, não se têm preocupado muito com os movimentos que mantém a chama acesa da identidade do povo… Talvez por acharem desnecessário manter viva esta identidade, cujo nascimento vem das classes mais desfavorecidas do nosso passado. É o que acham estes gestores; o que morreu esqueceu… mas o povo, diz: não!... “A alma de um povo é a sua cultura que todos devemos manter”… Ao contrário, poderemos ser conduzidos por qualquer outra tradição que chegue, desconsiderando os Valores Culturais de um Povo, já existentes e merecedores do nosso apoio.

Em relação à cultura, estes gestores não perguntam se o povo quer, eles ligam-lhe muito pouco e impõem a que eles querem. Por isso, não poderemos consentir que o Patrimônio Cultural de Argoselo seja esquecido ou trocado, mas sim manter sempre viva esta cultura popular, não desvalorizando os grupos teatrais e a arte das comédias. A cultura é uma preocupação constante e permanente em qualquer Povo. Todos querem entender como é o modo de vida de uma sociedade onde nós vivemos, isto é, como as pessoas se relacionam entre si, de forma mais ou menos organizada, cooperando umas com as outras, na qual se manifestam de forma especificas e às vezes até divergentes. 

Complemento, dizendo que cultura é a somatória dos costumes, tradições e qualquer manifestação de criatividade humana. Os contatos entre diferentes bairros marcaram a civilização dum povo ao longo da história, promovendo transformações culturais tanto pelos movimentos internos, inter-bairros, como pelos movimentos externos, entre as várias localidades vizinhas. É assim que eu entendo a cultura.

 Há muito que o ser humano tem rebuscado de várias maneiras identificar-se, tomar consciência de si mesmo, orgulhosamente nas experiências vivenciadas pelos seus antepassados. Torna-se prudente preservar os bens que compõem a história vivida, individual ou coletivamente, considerando as expressões dessa diversidade, um suporte para a sustentação desta identidade cultural.

Cultura é a maneira de falar, de vestir, de morar, de comer, de trabalhar, de orar, de se comunicar com todos. Desta forma essa cultura fica a garantia, a defesa e subsistência da vida de um povo.

No instante em que as pessoas não perceberem que o passado não são só restos, ou só histórias contadas através de monumentos materiais, que se relacionam com o tempo ou factos aqui ocorridos, nós não estamos a assumir um novo legado de descobertas e valores, associando o conceito de bens, tradições ou patrimônio, abrangendo as relações estabelecidas entres os nossos antepassados. Sendo assim, as manifestações culturais de um povo passam a ter elementos do passado que vinculados a técnicas do presente possibilitam a ligação entre a história e a vida atual. Mas para que tenhamos de acautelar o rico património deixado pelos nossos antepassados, no cuidar desse Patrimônio deve-se considerar o restaurar e não simplesmente o derrubar e deixar desaparecer de vista.

Os gestores na altura, tudo que era património deixado pelos nossos antepassados, foi destruído ou vendido a patacas, simplesmente para imporem a sua vontade. Hoje talvez não fosse bem assim, porque o estado dispõe de dispositivos legais para subsidiar a comunidade nas ações de integridade e preservação das propriedades culturais. Dirão algumas pessoas… estás bem enganado… estarei… compreendo-vos muito bem! Só quem está no convento, é que sabe o que lá vai dentro…

Quando a cultura de um povo é destruída pelo domínio de outra cultura, o povo fica desprotegido culturalmente. Todo o povo só existirá enquanto não perde os seus valores sociais, culturais e religiosos e, não se deixar dominar, destruir, invadir, influenciar por outras culturas. Na medida em que conseguir resistir a sua identidade cultural, ele se fortificará e ficará sendo a razão do existir de um povo que tem cultura própria, porque vive a sua própria identidade cultural. Por isso que se diz: “Cultura é a alma de um povo”. Povo sem cultura é um povo sem alma e sem identidade própria.

Nas relações estabelecidas entre toda a comunidade, deve-se evidenciar urgência em preservar a herança patrimonial, pois só é possível dela usufruir quando se reconhece no modo que existiu e querem que continue. Seria interessante que vocês próprios fizessem uma sondagem aos familiares oriundas destes antepassados, se tivessem alguns objetos inerentes desse tempo, se podiam abdicar deles. Depois disto sim; os gestores locais que começassem a encaminhar algumas verbas para  recuperar o que ainda fosse possível reaver os (Pelames), e sedimentar um projeto de valor incalculável deste património inexplicável no respeito à história, à cultura e à natureza. Se a cultura é a alma de um povo, o povo tem que ter um caminho para seguir a sua história cultural com a sua fé. Todo povo tem cultura. Não existe povo sem cultura. Portanto, cultura é tudo o que um povo faz para poder sobreviver e se relacionar com os outros.

Enfim, deve haver entre o patrimônio e a comunidade uma espécie de cordão umbilical onde o homem, ser social, estabeleça uma relação de vida preenchida de sentimentos, de valores e de cuidados que espontaneamente entrelaçam passado, presente e futuro.

O povo de Argoselo praticamente não fala em conceito de “história e tradições familiares”. Mas quando uma pessoa nasce, ela começa a escrever uma história com as ações que vai praticando. Se pararmos e pensarmos bem  a história de cada membro da família, encontrará semelhanças essenciais e objetivos comuns dos seus antepassados. Parece que cada um é um capitulo de uma historia maior, seguindo as tradições ao longo de diferentes gerações.

Para assegurar a permanência dos valores identificados. dos bens culturais advindos do modo de viver dos seres humanos, torna-se importante caracterizá-los considerando três grupos: natureza e meio ambiente, técnicas de saber fazer e conservar patrimônio material e imaterial, bem como respeito pelas tradições herdadas.

A que propósito  escrevo tudo isto? É simplesmente para manifestar o meu repúdio ao divorcio com que é tratado o especto cultural em Argoselo. Temos talentos, diversidades culturais, em função de uma população oriunda de culturas, cada bairro com as suas crenças, tradições e costumes, temos todo um potencial que é ignorado ou menosprezado. Esboços de projetos são lançados e logo esquecidos. Somos mais ou menos seiscentos habitantes, e o povo hoje tem espaços decentes onde se possa expressar as manifestações culturais.

Acho que está na hora de se pensar com seriedade no assunto. Penso que é chegado o momento da sociedade Argoselense manifestar-se a este respeito…

Viva a verdadeira identidade de um povo… A sua cultura popular!

 

Ilídio Bartolomeu

 

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