O canal da
medula apertado e duas vertebras fraturadas da coluna, tirou-me a capacidade de
andar. Jamais imaginei que um dia viveria numa cadeira de rodas. A primeira vez
que a usei foi para sair do hospital, na ocasião não liguei muito, pois estava
focado em voltar para casa, acreditava que esta situação seria passageira.
No começo, foi
muito difícil aceitar a nova realidade. Fiquei deprimido, com depressão, acreditava
fortemente que durante um ou dois anos voltaria andar.
Não saio de
casa há mais de dez anos. “Não tenho vontade de nada. Eu fico a pensar,
meu Deus, como vai ser a minha vida numa cadeira de rodas? Tive de aprender a
fazer todas as pequenas coisas na nova condição e de ganhar força e resistência
física para as executar. Todavia, quando me perguntam em que medida a cadeira
de rodas me transformou, respondo que "o que mudou menos foi a
questão do andar". "Sou uma pessoa um pouco revoltante e vejo a vida
de forma diferente”.
Obviamente que
não fico feliz com esta situação, mas é do género: 'OK, esta é a minha condição
agora. É uma porcaria? É, mas eu vou tentar viver com isto da melhor
forma". Quanto tempo demoramos a mudar de roupa? A sentar no carro? A
tomar banho? Eu também não sabia.
Só quero
aproveitar a vida", dedico o meu tempo á escrita e ao NOSSO BLOG.
Se há um
elemento comum em cada um dos textos, videos e publicações, no blog, esse terá
qualquer coisa que ver com a alegria. Podia ter sido tudo diferente?
"Depois do que me aconteceu, tenho conhecido muita gente em cadeiras de rodas
na clinica, ouço muitas histórias, de facto não consigo bem explicar porque é
que reagi tão mal. As coisas acabam por ser cada vez melhores quando a pessoa
aceita"
“Às vezes as
pessoas dizem-me assim, ‘ah, estás numa cadeira, a vida acabou”. Não, a vida
continua, eu nunca questionei a Deus. Eu agradeço a Deus todo dia, porque eu
sinto-me uma pessoa feliz.
Uma coisa é
imaginarmos estar numa cadeira de rodas, ou outra deficiência; outra
completamente diferente é perceber como é a vida de quem tem de lidar também
com a diálise. Isto sim complica muito comigo.
A minha fisioterapeuta,
mantem-me um plano de exercícios que ajuda a diminuir a controlar o peso, a
reduzir o stress e a ansiedade. Permitindo assim, ter uma perspetiva mais
positiva, enquanto me encontro a fazer diálise. É claro, que o precioso apoio e
aconselhamento da minha esposa, ajuda-me muito a adquirir uma nova e valiosa
perspetiva sobre o que estou a sentir.
A minha família
e amigos também acreditavam que esta situação era passageira. Tive alguns que
não aceitaram prontamente, assim como amigos que se afastaram até hoje,
infelizmente perdi contacto com alguns, a grande maioria felizmente permaneceu.
A cadeira de
rodas, será apenas um detalhe na minha vida. Confesso que até hoje faço
fisioterapia, vivo dentro de mim a vontade de voltar andar, porém não deixo de
viver momentos bons e outros menos bons, como qualquer outra pessoa sem
deficiência física.
Ajustar a vida
a uma condição de doença crónica é um processo desafiante. Lidar com estes
sentimentos não é fácil, mas partilhar e reconhecê-los é essencial para manter
a saúde física e mental ao longo do período em que me encontro a fazer diálise.
Graças ao
enorme avanço médico e das máquinas de diálise, o “rim artificial” estão
ajudando milhões de pessoas a continuar a prolongar as suas vidas por mais
tempo e com qualidade.
Mesmo com uma
doença crónica, a minha vida e a minha felicidade estão nas minhas mãos. "Todos
os nossos sonhos podem tornar-se realidade, se tivermos coragem para os
perseguir".
Não gostava, de
ficar em casa, mas quando saio eu esqueço que ando numa cadeira de rodas, acho-me
uma pessoa normal.
Encare as suas
deficiências e problemas como desafios, e não como desculpas…
Ilídio Bartolomeu
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