sábado, 17 de setembro de 2022

QUEM É LIVRE BATE AS ASAS E VOA

Precisamos das raízes: existe um lugar no mundo onde nascemos, aprendemos uma língua, descobrimos como os nossos antepassados superavam os seus problemas. Num dado momento, passamos a ser responsáveis por este lugar.

As raízes é a base de um ser humano, mediante qualquer dificuldade na vida, ele enfrenta, porque ele tem o equilíbrio, ele sabe até onde vai o seu voo: é por isso que atualmente está tudo desestruturado, porque faltam o necessário as raízes (base) as asas, é a fé, a coragem de como podemos enfrentar as adversidades do dia-a-dia.

Chegamos a certa altura das nossas vidas  parece que aquilo que estamos a viver já não faz mais sentido. É como se tivesse perdido o significado. Olhamos para trás e sorrimos nostálgicos e saudosos. “Como era bom aquele tempo, quando tudo tinha uma intenção”. Só que a vida é assim mesmo. Ela continua. Ela prossegue. E nós prosseguimos com ela. De maneira que nos transformamos, intimamente, profundamente, internamente. Chegamos a certa altura das nossas vidas, olhamo-nos no espelho e, comparando-nos com quem um dia fomos, chegamos à conclusão de que já não somos mais os mesmos. E se não somos mais os mesmos de antes, pode ser que também não caibamos mais nas ordenações de outrora. Quando os galhos já não nos pertencem. Só nos resta voar para novas árvores.

A questão é que não é tão fácil quanto possa parecer, principalmente quando nos sentimos tão fixados àquilo sobre o qual insistimos. É como se, ao assumirmos para nós mesmos que já não condiz com quem somos, estaremos definitivamente rasgando com o passado que construímos. E se rompermos com o passado, precisaremos começar uma nova história. E seres humanos, convenhamos, não são tão parciais às novidades da vida.

Quem é livre bate as asas e voa. Voa sorridente. Voa tranquilo. Voa disposto ao que quer que seja que tenha à sua frente, porque sabe que, embora despedindo-se de tudo até aquele momento que tinha importância, será recebido por tantas outras experiências que se tornarão tão significativas quanto as coisas do passado. Voa rumo a novas descobertas. Voa rumo a novos sentimentos. Voa rumo a um novo significado para a vida. Voa para o universo de hipóteses existente, para outras árvores por aí.

Agora, quem se prende, quem sente que o galho já não é mais confortável como um dia fora, porém, mesmo assim, insiste em fincar nele, pode acabar destruindo as boas lembranças. É o que acontece quando insistimos em algo que já acabou. Pode ter sido a coisa mais maravilhosa que vivemos. Podemos ter feito, em qualquer momento, com que nos sentíssemos como os mais felizes do mundo vivendo aquela experiência. Mas condenaremos à ruína os memoráveis instantes por insistirmos naquilo que não combina mais com a pessoa que nos tornamos. Consigo ser claro? Podemos apagar uma história tão linda por não sabermos como encerrá-la.

Precisamos das asas. Elas mostram-nos os horizontes sem fim da imaginação, levam-nos até aos nossos sonhos, nos conduzem a lugares distantes. São as asas que nos permitem conhecer as raízes de nossos semelhantes, e aprender com eles.

Voe quando chegar a hora. Bata as asas. Seja valente. Não se intimide. A vida é isso mesmo. Nada é definitivo. Algumas coisas poderão durar para sempre. Mas outras não. E as que precisarem chegar ao fim não precisam ter um fecho dramático, traumático. Saiba encerrar os ciclos com a mesma grandeza com a qual eles foram iniciados. Honre o que o fez feliz na vida.

Bendito quem tem asas e raízes; e pobre de quem tem apenas um dos dois.

E permita-se às novas etapas.

 

Ilídio Bartolomeu

 

4 comentários:

  1. No local de minhas raízes onde hoje sou responsável, planto arvores e cuido da natureza como forma de agradecimento por tudo que me proporcionou. No local das minhas asas planto afeto agradecendo o muito que aprendi e o muito ainda que desejo aprender para me tornar melhor.

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  2. Muito boa esta abordagem. As suas raízes não são o que o limita, como alguns o têm citado, mas a sua identidade com um lugar, cultura e povo. As asas é a capacidade de buscar descobrir novas culturas para um aperfeiçoamento e gosto pessoal no meu entendimento. É fantástico conhecer outras culturas e outros povos, mas quando penso nos meus antepassados e na minha terra tenho muito orgulho e a emoção bate mais forte. Acho que é isso que o Ilídio quer dizer. Abraço

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  3. Excelente reflexão, pedagógica e actual. Parabéns Ilídio..

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  4. Parabéns Ilidio. Gostei imenso do que escreveu .Deus lhe continue a dar forças e inspiração para continuar a sua obra.Grande abraço .Lena

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