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O ex-libris desta Vila é o Serro |
Eu, me declaro:
sou “Perro, nasci na Terra dos Peliqueiros” e aqui regresso sempre, porque aqui
me sinto em casa, é a minha sede, a capital do meu mundo. A Terra que os meus pais
me ensinaram a amar, respeitar e fazer bem sem olhar a quem. Num dia sem
nuvens, de garotos subíamos ao Alto do
São Roque onde uma vista magnífica se avistavam as aldeias vizinhas podendo observar
a imensidão do universo, uma singular beleza da natureza. E também não esqueço
as vezes aos domingos as idas por vale
magas ao Planalto de São Bartolomeu! além de apreciar as belas e as
sensacionais paisagens incríveis e únicas!
Aparte de todo o culto religioso, este Santuário está num local privilegiado,
com uma vista sobre o vale do Rio Sabor, de beleza inigualável. Este local
convida assim a uma visita obrigatória para desfrutar da paisagem em qualquer
altura do ano. O contacto com a natureza é tão intenso, que um simples passeio pode
proporcionar belas visões. Não deixa ninguém indiferente.
Sou um filho da
Terra, aqui fiz os meus primeiros amigos, aqui me fiz jovem, jogávamos à bola,
o fito, a relha, a corda, o bilro, ao cântaro e percorríamos inúmeras vezes as
ruas da aldeia à bucha nova. Esta capacitação estava mais orientada para os
jovens e adultos que não tinham ainda um percurso profissional definido. Mas
também na altura, se integravam pessoas de diferentes condições sociais,
etnias. Esta era uma forma de comunicar o potencial de identidade da aldeia,
através da união entre tradição e a mudança.
Esta reativação
dos jogos tradicionais, podiam muito bem resultar em momentos e eventos que se promove
e valoriza este importante património e cultura.
Não esqueço que
nesse tempo, nem todos tivemos as mesmas oportunidades. Não esqueço que muitos
tiveram de abandonar o seu percurso mais cedo do que deveriam. Não esqueço que
nesse tempo a estrada que nos liga à cidade, tinha mais buracos do que os
famosos queijos franceses. Não esqueço que a minha Terra sempre foi uma Terra
de gente, que tem de procurar fora o que a terra não tem para oferecer, somos
uma Terra de emigrantes. Não esqueço que vivi numa Terra desigual em que
progresso chegava sempre mais tarde.
E se eu não
esqueço a “minha Terra”, a casa onde nasci e cresci, que me faz recordar
um passado feliz e tudo o que ali vivi, obviamente que não posso esquecer as
festas do mês de Agosto, não me esquivando, sequer, à obrigação social que
tenho para esse Inesquecível Local.
E, aqui, não
posso esquecer, se os meus pais me incutiram, entre outros, os valores da
identidade e da disponibilidade para colaborar com a comunidade, não é menos
verdade que me sinto muito feliz por perceber que, pelos meus pais, tudo
isso tenho vivido com especial afetividade.
Venho
reforçando a ideia de que a idade é sinónimo de sabedoria. Tenho a esperança de
chegar a este clube dos maiores de 75 anos, composto por pessoas que muito
prezo, que já dobraram o Cabo da Boa Esperança e o Cabo das Tormentas”.
“Cada um de nós
é uma enciclopédia viva”, continuo defendendo que “mesmo os que não
tiveram a oportunidade de fazer grandes estudos, frequentaram a ‘universidade
da vida’, com aulas diárias, de sol a sol, sem direito a férias e com exames
todos os dias. E assim fomos adquirindo conhecimento e acumulando memórias de
factos muito diversos”.
Saliento que as
recordações, que muitos Argoselenses guardam, “fazem parte da nossa
história, da nossa vida e da nossa Terra, que muito amamos”, sendo esta
obra “uma herança para os nossos filhos, os nossos netos, para as gerações
vindouras”.
A lembrança é o
que fica daquilo que partiu, daquilo que já não é mais. Lembranças é ausência,
é o sentimento de vazio que fica daquilo que se foi. Mas às vezes, a lembrança
é um vazio tão grande que ocupa muito espaço dentro do coração, e aperta tanto
o peito que acaba transbordando e escorrendo pelos olhos.
Ilídio
Bartolomeu
“Reavivar continuamente a memória é fundamental para que o passado não seja esquecido, pois capacita-nos a atualizar impressões ou informações, fazendo com que a história se eternize na nossa consciência e se transmita de geração em geração. Partilhá-la entre as diferentes gerações, diferentes comunidades contribui para a construção de uma comunidade mais esclarecida, mais tolerante e melhor”.
ResponderEliminarSão estas histórias recordadas pelas pessoas que fazem parte daquilo que hoje são as pessoas da comunidade em que vivem. Fazem parte da história passada, mas influenciam aquilo que é vivido hoje. É importante partilharmos estas histórias tão ricas, para que elas não se percam e passem de geração em geração
ResponderEliminarInteiramente de acordo com os mues amigos. Não queremos que a história se perca, mas queremos sim, criar um fio do tempo rico em recordações e factos que construíram e continuam a construir, dia-a-dia, a nossa história e a de todos aqueles com quem vivemos. É esta noção de partilha que faz crescer um verdadeiro sentimento de pertença ao bairro ou à comunidade
ResponderEliminarA realização do filme "Alma Viva" na Junqueira, pela luso-francesa Cristèle Alves Meira, é bem a demonstração de quão importante é a preservação do Passado e dos valores culturais que dele emergem.
ResponderEliminarAssim é a saudade. Uma ausência presente. Uma ponte que nos oferece acesso livre ao que há de mais intenso e marcante no nosso passado. Quando ela nos visita, traz consigo abraços, olhares, conversas, carícias, promessas, cenários, cheiros, músicas e sorrisos
ResponderEliminarQuando estamos de bem com o passado, conseguimos olhar para trás com a sensação de ter vivido intensamente. Só não podemos deixar que ela ocupe todos os espaços do presente
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