quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

QUEM AINDA SE LEMBRA DAS JANELAS E DAS PORTAS...


O primeiro era o pai, pela manhã, que,  bacia na mão, lançava a água  da lavagem matinal, sem dizer água vai. Depois a mãe, a seguir o filho mais velho. Abre e fecha, abre e fecha que foi para isso que foi feita. Tinha uma cor de madeira muito velha, com veios como se de impressões digitais se tratasse. E tinha um pincho gasto pelo uso da mão e do polegar que de cada vez fazia um ruído metálico leve. Dava diretamente para a rua onde começava o mundo todo e que nessa altura era o largo e as histórias sempre iguais que nele se contavam.

Durante muitos anos, eu não entendia porque a propósito de amuos da minha mãe o meu pai a acusava de estar com o cu para a porta, como não entendia a sua esperança desesperada dizendo que quando Deus fecha uma janela abre  uma porta outra ou ainda quando as coisas lhe corriam bem dizia que nem sempre o diabo está atrás da porta. Não sabia o que é que as velhas portas ou janelas de carvalho tinham a ver com tudo isto porque haveria mais portas e janelas mas eu só conhecia aquelas.

Não sei se era por não entender estas coisas que o meu pai aborrecido me dizia: és mesmo burro como uma porta, ficando sem saber se o insultos era para mim ou para a porta. Ainda não sabia o que era Braga e já, na persistência de não fechar a porta, me perguntavam: - Mas tu és de Braga?

Era no tempo que as portas e janelas serviam e cumpriam, silenciosamente ou com um doce ranger, a função para que foram feitas: abrir e fechar separando a vida pública da vida privada. Volveram anos e ninguém mais abriu as portas e janelas até uma rajada de vento a escancararam e ficaram incomodamente assim sem ninguém se importar do dentro e do fora.

Ilídio Bartolomeu


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